Opinião Marcos de Azambuja analisa a busca da Coreia do Norte pelos holofotes "Pyongyang ainda persegue, com magros resultados, credibilidade e respeitabilidade internacionais"

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 08/01/2016 07:09 Atualizado em:

Por Marcos de Azambuja
Conselheiro do Centro de Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri)

Não parece haver dúvida de que a Coreia do Norte acaba de realizar uma nova explosão nuclear que, assim como as anteriores, foi subterrânea. Essa seria a quarta de uma série que se tem registro seguro, e, como as anteriores, aconteceu em algum lugar não distante das fronteiras do país com a China. A dúvida que subsiste é saber se o que foi testado era uma bomba atômica como foram as precedentes ou se, como pretende Pyongyang, testou-se um artefato termonuclear - vale dizer uma bomba de hidrogênio.

O Brasil não dispõe de meios próprios de avaliação. Temos assim que esperar o que dirão as potências vizinhas da Coreia do Norte, que dispõem de tecnologias sofisticadas que lhes permitem avaliar a natureza e a potência do que foi explodido.
Afastada a hipótese - que estimo muito improvável - de um ato irracional e errático, a pergunta que cabe fazer é: o que busca a Coreia do Norte com seu programa nuclear? É evidente que o objetivo não será intimidar a Rússia, a China ou os Estados Unidos, protetor da Coreia do Sul, e que mantêm na península uma importante força de dissuasão. Entre os países próximos, apenas o Japão se sente diretamente ameaçado e questiona mesmo as premissas de sua política estratégica das últimas décadas.

Assim sendo - e apesar de toda a truculência e estrépito -, a posição do governo da Coreia do Norte seria a de se defender de uma possível agressão e mesmo de um desaparecimento pela incorporação do atual regime à parte da parte meridional da península onde Governo de Seul criou uma extraordinária experiência de desenvolvimento e riqueza.
Pyongyang ainda persegue, com magros resultados, credibilidade e respeitabilidade internacionais, e buscaria fortalecer suas cartas para enfrentar cenários futuros em que sua posição seria muito mais fraca do que a dos outros atores diretamente interessados.

O grande risco reside em que, na sua aventura nuclear, a Coreia do Norte brinca literalmente com fogo. E mais, em qualquer momento seu arriscadíssimo jogo corre o risco de fugir de seu controle e reacender na península coreana as agudas instabilidades e os conflitos que tanto ameaçaram o mundo na década de 1950. Acrescido a tudo isso, uma volátil dimensão nuclear.


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