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Editorial: Tensão crescente entre Irã e Arábia Saudita

Numa região com diversos focos de conflitos, confronto aberto entre Riad e Teerã pode incendiar o Oriente Médio

Publicado: 08/01/2016 às 07:06

O incidente que envolve o Irã e a Arábia Saudita tem potencial explosivo. Numa região com diversos focos de conflitos, confronto aberto entre Riad e Teerã pode incendiar o Oriente Médio. As duas nações, que andam sobre o fio da navalha de uma guerra fria, apoiam lados opostos nos embates em curso em diferentes países - Síria, Iraque, Bahrain e Iêmen. O Líbano, embora não esteja em guerra, tem grupos rivais que recebem proteção de um ou outro governo.

Há meio século, os dois Estados travam acirrada disputa pela hegemonia no mundo islâmico. A Arábia Saudita é o centro do sunismo, que predomina no mundo árabe. Ali estão Meca e Medina, cidades sagradas do islã. O Irã abriga o xiismo, maioria na antiga Pérsia. Com a queda de Saddam Hussein e as revoluções promovidas pela Primavera Árabe, as fronteiras de poder se confundiram. Xiitas ganharam espaço em território sunita. O avanço foi tal que o rei da Jordânia disse ter certeza de que eles chegarão às portas de Israel. Só não sabe quando.

No sábado, o clima esquentou. A monarquia saudita, das mais retrógradas do mundo, executou 47 pessoas. Entre elas, o clérigo xiita Nimr Al-Nimbr, que criticava a discriminação do tratamento dado aos xiitas pela dinastia Al Saud. Respostas não faltaram. A chancelaria iraniana reagiu verbalmente. Disse que os assassinos pagariam “preço elevado”. O líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, afirmou que eles sofrerão “castigo divino”. 

Foi além. No site, comparou, com imagens, a Arábia Saudita ao Estado Islâmico (EI). Aliás, desde que os jihadistas se estabeleceram em território iraquiano, em 2014, os iranianos acusam os sauditas de financiar o grupo terrorista como bancaram a Al-Qaeda, de Osama bin Laden. Atos violentos também se observaram. Manifestantes invadiram e incendiaram a embaixada saudita em Teerã. O consulado em Mashad, no norte do país, sofreu ataques. Ocorreram protestos também no Afeganistão, Bahrein, Iraque e Paquistão.

Riad rompeu relações diplomáticas com Teerã por considerar as declarações da república islâmica ingerência em assuntos internos. Sudão e Bahrein seguiram o reino saudita. Emirados Árabes ficaram um passo atrás. Chamaram de volta o embaixador para esclarecimentos - luz amarela que pode ou não preceder a vermelha. Estados Unidos e Rússia não se manifestaram. Mas jogam papel importante no tabuleiro minado do estratégico Golfo Pérsico. 

O quadro, naturalmente tenso, ganha cores sombrias. Se há alguma coisa de que o mundo não precisa é de guerra entre as duas potências da região. A diplomacia exerce função importante ao manter aberto canal de conversação. O rompimento das relações diplomáticas torna o diálogo mais difícil. Mas não impossível. A comunidade internacional deve atuar para impedir que o rastilho de pólvora se propague e incendeie o Oriente Médio. Sem ação efetiva, as chamas, com certeza, atravessarão o Mediterrâneo.
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