Por: Aline Moura - Diario de Pernambuco
Publicado em: 04/09/2015 21:01 Atualizado em: 31/05/2017 22:20
Ter atitudes de cidadania, fazer exercícios e até mesmo rezar ajudam a aliviar os sintomas provocados pelos impactos da crise política e econômica |
Em momentos de crise política e econômica como esse, o economista espanhol José Ramón Pin sugere, em entrevista ao Diario de Pernambuco, que os brasileiros ajudem mais o próximo para evitar sentimentos de autopiedade. José Ramón é professor da IESE Business School, cujo programa de MBA executivo foi considerado pelo jornal Financial Times em 2015 como o melhor do mundo. Numa conversa rápida, por email, o professor diz que o Brasil saiu de um sonho para um pesadelo, como aconteceu com a Espanha entre 2008 e 2009. Ele cita a importância do surgimento do movimento dos “indignados” naquele país, que mexeu nas estruturas, com a participação de jovens que queriam debater política e sair da velha polarização entre a esquerda e a direita. O professor, contudo, frisa que crises como a que passa o Brasil também fortalecem radicalismos. Na França, por exemplo, depois dos atentados do Estado Islâmico, o preconceito contra as religiões aumentou e isso propisciou o fortalecimento de partidos xenófobos.
Na sua avaliação, como a crise política no Brasil se refletiu no inconsciente coletivo? Foi mais dura que em outros países?
Em todos os países, sempre há impactos da crise no inconsciente coletivo. No entanto, no Brasil, há um elemento adicional. O cidadão brasileiro pensava que, depois de uma década de crescimento, o Brasil tinha decolado. Ele pensava que a inclusão do Brasil na lista de países emergentes (BRICS, Brasil, Rússia, Índia e África do Sul) era permanente. De repente, ele se deu conta de que a realidade é mais dura. Além do crescimento da classe média, criou-se um grupo de pessoas conscientes de seus direitos e comparando a situação social do país com outros países desenvolvidos. Vamos dizer que o brasileiro tem despertado de um sonho e agora pensa que vive um pesadelo, o que gera frustração, truncando expectativas de crescimento pessoal e coletivo.
É parecido com o que houve na Espanha, por exemplo?
Entre 2008/2009, a Espanha passou de uma idade dourada, com um crescimento de 4% (muito bom em seu nível de desenvolvimento), para uma recessão, com perdas de emprego. O desemprego atingiu 26% da população ativa e 55% de jovens entre 16 e 25 anos que estavam à procura de trabalho. Isso levou a uma convulsão social (o surgimento do movimento dos indignados, em Março de 2011) e o aparecimento, em 2012, de novos movimentos políticos de extrema-esquerda, que atribuíam aos partidos tradicionais a culpa pela má situação econômica. Tal como a Grécia, a França e a Inglaterra estão se tornando mais fortes partidos xenófobos de extrema direita (Le Pen e do UKIP) anti-UE.
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Economista espanhol diz que Brasil viveu um sonho, como a Espanha, antes da crise de 2008 |
Os governos devem explicar que, em períodos de crise, são necessárias medidas de austeridade, caso contrário, haverá mais problemas no futuro. Não é fácil e muito menos se as eleições estão próximos. Também, precisa tomar medidas exemplares em casos de corrupção e reduzir os benefícios e vantagens de seus líderes, embora eles não são, quantitativamente, tão importantes, é só para dar um exemplo. Também não é fácil, porque às vezes os governos são-se envolvidos em corrupção. Precisamos reduzir todos os gastos desnecessários, emplacar uma extrema luta contra a fraude fiscal e aumentar a itens de gastos sociais e explicar porque está fazendo isso. Na Espanha e outros países desenvolvidos, a cobertura universal da saúde e o seguro-desemprego generoso ajudou a reduzir o estresse. Mas isso não é fácil quando esses instrumentos não foram preparados com antecedência.
Como nós podemos sobreviver a esse período tão difícil?
Ser flexível e aceitar reduções no rendimento, formando para o futuro e manter a esperança. Confiar mais na família, fazer exercícios, dormir mais, e acima de tudo ... cuidar dos outros. O último é importante porque ajuda a ver que os outros também têm problemas e isso evita cair no círculo vicioso de autopiedade. Finalmente, se você é um crente .... reze.
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