Ex-presidente tucano FHC: impeachment de Dilma é como uma bomba atômica

Por: Tércio Amaral

Publicado em: 10/03/2015 09:53 Atualizado em: 10/03/2015 12:45

Foto: Iano Andrade/CB/D.A Press/Arquivo
Foto: Iano Andrade/CB/D.A Press/Arquivo

O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB) se posicionou contra o movimento que pede o impeachment da presidente reeleita Dilma Rousseff (PT). O tucano afirmou, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo desta terça-feira (10), que não é hora de “afastar Dilma Rousseff nem de pactuar”. O atual presidente de honra do PSDB chegou a comparar o impacto do afastamento da presidente ao efeito de uma bomba atômica. “Eu não posso dizer que seja impossível (o impeachment), porque as coisas não são assim em política. Mas o horizonte mais provável não que vá para esse lado”.

“Impeachment não é uma coisa desejável e ninguém se propõe a liderar isso. O PT usa o impeachment para dizer que o PSDB quer, mas não é verdade. O impeachment é como bomba atômica, é para dissuadir, não para usar”, disse ele em entrevista a jornalista Eliane Cantanhêde. Apesar de não visualizar a saída da petista, o tucano, no entanto, comparou o contexto político brasileiro ao período em que o Brasil viveu o rompimento para o regime militar de 1964.

 

“Eu só vi uma situação parecida em 1963, quando houve um descolamento entre o Congresso e o governo, e o governo foi perdendo a capacidade de governar. Quando o Congresso percebe que o Executivo não tem agenda, está tonto, fazendo uma agenda que não é a dele, o Congresso fica mais inerte. E, se você perde a força aqui, você perde a força no mundo”. Posteriormente ao período descrito pelo ex-presidente tucano, o então presidente João Goulart, em março de 1964, é deposto por um golpe de estado.

Protestos de 2013 

O ex-presidente também disse que os protestos marcados em várias cidades do Brasil contra o governo da presidente Dilma Rousseff devem ser, sociologicamente, interessantes de serem analisados. O ato deve acontecer no próximo dia 15 de março e está sendo organizado nas redes sociais. “Em 2013, era contra tudo, agora é direcionada contra o governo. Mas vamos esperar para ver. O PSDB faz bem em não chamar a rua. A rua, neste momento, não é dos partidos, é do povo. É o povo que vai para a rua”.

Petrobras

Para FHC, o peso da Petrobras na crise é muito grande, "a Petrobras é uma empresa vital para o Brasil. A despeito das intrigas do PT, sobretudo do Lula, de que queríamos privatizar a Petrobras, isso tudo era uma grande mentira. Não cabe privatizar a Petrobras. Cabe, sim, despolitizá-la, despartidarizar a Petrobras." E emenda sobre a venda de R$ 39 bilhões em ativos, "Vai vender na bacia das almas, no pior momento. Isso, sim, é contra o interesse da Petrobras e do Brasil. No limite, a crise real é política, é de confiança. Sem confiança, não se cria esperança. Sem esperança, a recessão é só recessão, o ajuste é só o ajuste, só um mal estar". "A quebra de confiança foi grande. Não se refaz do dia para a noite".

Congresso

"O governo criou caso com a própria base, então fica difícil. A presidência do Senado devolveu a medida provisória das desonerações. Foi um ato de rebeldia e força. É um sinal de que o processo congressual está descontrolado e não vejo como este governo tenha como reagir à altura. É muito ruim que o governo não reconheça nenhum erro", pondera o ex-presidente.

Questionado sobre se o envolvimento de 47 políticos na Lava Jato poderia ajudar o Planalto, FHC acredita que sim. "De certo ponto sim. Mas acho que o importante para o Planalto é dar eficiência ao Congresso, para conseguir as votações do ajuste. Isso não dá eficiência ao Congresso, muito pelo contrário. Dá é paralisia."
 



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