Comendador Capiba

Luiz Felipe Moura
Presidente Abrajet-PE

Publicado em: 06/06/2024 03:00 Atualizado em: 06/06/2024 00:20

Nascido Lourenço da Fonseca Barbosa, foram muitos os adjetivos que poderiam ser somados a uma personalidade marcante, alegre e sempre irreverente. Entretanto, a veia artística e o profundo amor pela cultura pernambucana sempre falaram mais alto, fazendo-o merecedor de um título formal que ostentava com a informalidade que transformou o artista em ícone, devido ao seu jeito despojado, a despeito da justa e merecida homenagem, pelo enriquecimento que seu talento impulsionou à cultura destas terras de bravos guerreiros e intrépidos lutadores pela liberdade. Portanto a homenagem não poderia ser outra senão a da Ordem do Mérito Guararapes, a maior e mais importante do Estado, no Grau Comendador, entregue pessoalmente pelo então governador, Marco Antônio de Oliveira Maciel, no alto dos Montes Guararapes, local reconhecido como berço da cidadania brasileira. Entretanto, humilde na retórica e nas ações, queria ser conhecido simplesmente por Capiba, músico e compositor; amante da cultura e parceiro de uma alegria sem fim. Comendador foi sem dúvida o título mais garboso, mas preferiu ser nacionalmente conhecido pelo mais popular, Capiba.

Capiba sempre surpreendeu as autoridades que o enxergavam além do talento musical, mas também como reserva moral e símbolo de honestidade e retidão, daí aproveitando a passagem dele pelo Banco do Brasil, o governador Nilo Coelho, o nomeia presidente do antigo Banco de Desenvolvimento do Estado de Pernambuco – Bandepe - cujo termo de posse assinou, mas passados três dias, foi à casa do governador para solicitar o cancelamento da nomeação, alegando iminência da aposentadoria e o desejo de dedicar-se inteiramente à música. Era Capiba, sendo Capiba.

Talvez a homenagem mais adequada, mas que não recebeu, teria sido a de embaixador da alegria, tamanho era a vigor e entusiasmo que desprendia nas festas e eventos, principalmente no carnaval, se destacando como poeta, compositor, maestro e instrumentista. Homem de sociedade e benfeitor de várias agremiações. Um colecionador de amigos, cultivando o bem e semeando a alegria e conservando amizades demais de meio século. Foi fundador de clubes em Campina Grande e em João Pessoa, PB, além da Associação Atlética Banco do Brasil, do Recife.

Por mais que se enumerem as realizações de Capiba, sempre haverá acréscimos a fazer, tamanho é a herança cultural deixada como importante contribuição à cultura pernambucana, as vezes esquecidas e muitas vezes ignoradas. Ter tido a oportunidade de conviver com esse talentoso pernambucano é motivo de júbilo para poucos e um agradecimento eterno à vida.

É certo que dentre as muitas composições da lavra de Capiba, uma delas traduz em título e letra a lacuna deixada pela sua partida física, mas que sempre estará presente nos corações e mentes dos apaixonados por essa terra sofrida e guerreira que tantas alegrias deram aos demais estados da Federação, A palavra saudade, uma janela entre as dimensões que manterá sempre viva a genialidade desse pernambucano, cabra da peste, Lourenço da Fonseca Barbosa, nosso eterno Capiba.

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