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Esquerda e direita fazem diferença para a distribuição de renda

Alexandre Rands Barros
Economista

Publicado em: 13/04/2024 03:00 Atualizado em: 13/04/2024 06:25

É comum se pensar, ou ouvir alguns dizerem, que governo é tudo igual. Num país de baixa renda per capita, como o Brasil, todos possuem muitas demandas e querem soluções com rapidez. Mas, infelizmente, as mudanças numa economia são lentas. Principalmente em uma sociedade como a brasileira, que carece de consensos e na verdade possui muitos conflitos. Por isso, a maioria das pessoas tende a se frustrar, seja lá qual for o governo e qual a sua orientação ideológica. Além disso, há ainda aqueles políticos que se apresentam como uma coisa, sendo na verdade outra. No Brasil, de 2000 para cá tivemos dois governos que se apresentavam como de esquerda, Lula I e II (2003-2010) e Dilma I e II (01/2011-08/2016). Um governo que se reconhecia de direita, Bolsonaro (2019-2022), e um que se apresentava como de centro, Temer (08/2018-12/2018). Os desempenhos deles podem ter sido bem diferentes, mas o que temos hoje no país é uma visão geral de frustrações com governos. Ainda assim, vale olhar para alguns números novamente com essa perspectiva de diferenças. Cláudio Considera e Roberto Olinto, ambos da FGV-IBRE, essa semana, liberaram novas estimativas para a distribuição funcional da renda, entre rendas do trabalho e do capital. Elas poderão ser usadas para mais uma análise das diferenças de perfis ideológicos.

Duas são as variáveis que afetam a vida das pessoas: a renda pessoal disponível e a distribuição de renda. Crescimento da renda com maior concentração dela tende a impactar os rendimentos dos mais pobres de forma menos positiva do que ocorre com a média geral. Então, quando avaliamos o desempenho de um governo sobre o bem-estar geral, é importante analisar o comportamento das duas variáveis mencionadas. A distribuição funcional é outra forma de ver a renda, sem que seja através de coeficientes como o de Gini, que são pouco intuitivos. A partir dessa distribuição funcional da renda, recorreu-se ao PIB para dividi-lo em “PIB do trabalho” e “PIB do capital.” Nos governos Lula I e II, as rendas do trabalho e do capital cresceram em média 4,62% e 3,42% ao ano, respectivamente. A participação dos trabalhadores na renda total aumentou de 51,7% para 54%. No governo Dilma, apesar dessa participação ter subido dos 54% para 56,8%, a renda dos trabalhadores subiu apenas 1,24% ao ano, enquanto a do capital caiu 0,66% também como média anual. No governo Temer, houve concentração de renda, havendo aumento da renda do trabalho de 0,56% ao ano, enquanto a do capital cresceu 2,84% ao ano. No governo Bolsonaro, os trabalhadores tiveram queda anual média de suas rendas de 1,31% enquanto o capital teve elevação de 4,50% ao ano.

Ou seja, apesar de a melhora de padrão de vida ser bem aquém do que as pessoas aspiram, todos os governos não são iguais. Os governos de esquerda aumentaram bem mais a renda dos trabalhadores, mesmo que a renda do capital tenha crescido bem também nos governos Lula. Com Dilma, o baixo crescimento do PIB levou a um encolhimento da renda do capital. Já no governo Bolsonaro, autoassumido de direita, a renda do trabalho teve queda, enquanto a do capital cresceu. Essas variações refletem bem as preferências das diversas posições políticas. A esquerda promove a distribuição de renda, enquanto a direita a concentra.

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