Diario de Pernambuco
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Anotando baixas

Vladimir Souza Carvalho
Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras

Publicado em: 13/04/2024 03:00 Atualizado em: 13/04/2024 06:25

Abrindo a mensagem e, de chofre, o anúncio do sepultamento de Salete, a mexer, de imediato, nos tempos do ginásio, primeira série C, segunda, terceira e quarta B, quando fomos colegas. E, automaticamente, as inevitáveis baixas, que, aqui e ali, com longos intervalos, vão ceifando a meninada não tão meninada mais do quadriênio 62-65, quando usávamos a farda caqui, os meninos, e as meninas saia azul e blusa branca, todos com a sigla GEI, ou seja, Ginásio Estadual de Itabaiana, bordada no bolso e as divisas na manga, ambos do lado esquerdo, a última a assinalar a série cursada.  

Não há como evitar o olhar para trás, nem há lugar para receio de virar estátua de sal, e, assim, pincelo o primeiro óbito, de Vera Cândida, em trágico acidente automobilístico, que levou com ela a senhora sua mãe, dois caixões saindo de uma casa no mesmo instante, dor que só quem passa pode aquilatar. Depois Verônica, em Salvador, de causas que não vem ao meu conhecer. Adiante, Maria de Eliezer, vítima de câncer que não respeitou seu alegre sorriso, fechando sua boca para o sempre do sempre. Agora, Salete, completando o quarteto. De mais nome, não sei, me limitando aos que permaneceram em Itabaiana e/ou não cortaram os laços com a terrinha.

É certo que perdi contato com a grande maioria, colegas que não mais vi, sobretudo com as que se mudaram para São Paulo, e, aí, adeus, que não se tem a quem pedir notícias. Algumas e alguns moram no Aracaju, e aqui e ali, a gente se encontra, se cumprimenta e abre conversa, ainda que por rápido tempo. Outros e outras integram a lista dos/das que a gente pode até não reconhecer, afinal de 1965 para cá cinquenta e nove anos se passaram, alterando a fisionomia, não de todos e todas, mas mexendo na arquitetura do rosto e do corpo. Dos e das que não mais vi, notícias esparsas, às vezes, e o mais a dúvida dos que já mergulharam na escuridão da morte.

Já de professores só três se foram: Bezerra, Gabriel e Pedrinho dentista. Excluo Oliveira, porque só nos deu uma aula, de Latim, na primeira série, extinta a cadeira, graças a Deus. Os demais, avançando em direção à morte, mas vivos, como vivo estou eu com a mania de papai, que era anotador de óbitos, afinal, é realidade que está sempre à frente de cada passo que se dá, como sombra que não se desprega de ninguém, mesmo que as chuvas escondam o sol.

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