Diario de Pernambuco
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À Verônica, minhas desculpas

Vladimir Souza Carvalho
Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras

Publicado em: 06/04/2024 03:00 Atualizado em: 05/04/2024 22:36

Errei feio. Nem Madalena cantou coisa alguma na frente da Igreja de Itabaiana, durante a Semana Santa, nem o fato se verificava na quinta ou sexta-feira: era na quarta. Dois leitores me alertaram. A cantora era Verônica. Ao atribuir a façanha a Madalena, isto é, para ser mais preciso, a Maria de Magdala, algo suspeito me mexeu o coreto. Não parei para melhor refletir e continuei firme e convicto no meu erro, alterando a história, desprestigiando a voz de Verônica e tornando Maria de Magdala cantora, sem verificar se alguma vez teria se apresentado em programa de Chacrinha.

Tenho para mim que de uma cajadada, ofendi duas pessoas. Uma, a Veronica, cantora tradicional, cujo talento deve ter o respaldo da Bíblia, não lhe tendo sido fácil ter sido confundida com a Maria de Magdala. Não sei se as duas se davam bem, se há algum parentesco entre elas. A outra, Maria de Magdala, que talvez não lhe agradasse aparecer mais do que já aparecia ao lado de Jesus, e, de repente, tenha se tornado cantora, e, ademais, não recebendo nenhum aplauso de minha parte, ao contrário, quase gongo que dei, sem querer tomar o lugar de Ari Barroso. Em Itabaiana, o filósofo, que lá tem a três por dois, seria inclemente na sua conclusão: sinuca de bico. Traduzo para os que nunca jogaram sinuca, nem conhecem os filósofos de minha terra: não há saída. Nem as rezas de Mané Barraca apontariam uma solução pacífica que contentasse flamenguistas e vascaínos e os que se embaralham com personagens bíblicos.

Para evitar que o problema seja trasladado para as vias judiciais, lanço meu pedido de desculpas a Verônica. Talvez tivesse me encantado com Maria de Magdala, cuja história tenho lido ultimamente. Cito até o livro: Maria Madalena – Da Bíblia ao Código Da Vinci: companheira de Jesus, deusa, prostituta, ícone feminista, de Michael Haag. Depois, há sessenta anos que não vejo uma apresentação da Verônica, nem entro em igreja durante a Semana Santa, tampouco assisto o filme Vida, Morte e Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, no cinema de Zeca Mesquita, fita tão velha que parecia ser daqueles tempos. Incrivelmente, o cinema enchia. Penso que é mais conveniente não me meter no que não entendo, nem arriscar afirmativas. De boca fechada não entra mosca, ao que acrescento: nem sai besteiras. Tenho dito.

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