Diario de Pernambuco
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A felicidade de olhar nos olhos das pessoas

Ricardo Paes Barreto
Presidente do TJPE

Publicado em: 10/04/2024 03:00 Atualizado em: 10/04/2024 06:13

Numa época em que as pessoas estão cada vez mais presas dentro de suas bolhas sociais, tive a sorte de viver uma experiência tão enriquecedora quanto inesquecível.

Quis o destino que, por força de uma conjuntura sobre a qual não tive nenhuma ingerência, durante cinco dias eu ficasse à frente da Prefeitura do Recife, minha querida cidade.

Foi uma situação inédita porque nunca um presidente de Tribunal de Justiça havia assumido o cargo de prefeito de uma capital. Mas não foi propriamente o caráter único deste episódio que me deixou mais feliz.

Desde o início, fiz questão de manter a rotina programada pelo prefeito João Campos antes de sua viagem aos Estados Unidos. Em nome da manutenção da máquina pública e prezando sempre pela democracia, saí do frio dos gabinetes e fui às ruas. E foi exatamente isso que me trouxe maior satisfação.

O que fez minha alma sorrir foi a oportunidade de ver o olhar das pessoas mais humildes ao se sentirem acolhidas pelo Poder Público. O que alegrou os meus dias foi verificar pessoalmente o reflexo de ações políticas eficientes na vida de tanta gente. A expressão de gratidão nos rostos de homens, mulheres e crianças é indescritível. Nada é tão gratificante quanto saber que se está fazendo o bem.

Entre os dias 5 e 9 de abril, como prefeito em exercício do Recife, pude visitar os morros da Zona Norte. No Alto José do Pinho, entregamos um muro de contenção. Quem está na segurança de um apartamento confortável dificilmente pensa na relevância de um muro de contenção. Mas ao olhar nos olhos de quem vive nas encostas de nossa cidade, percebe-se rapidamente que aquela obra significa vida. É o muro que permite que as famílias durmam em paz, sem o temor de terem suas casas soterradas durante um temporal.  

A agenda foi intensa. No Hipódromo, inauguramos uma praça, um ambiente agradável e que permitirá que adultos, idosos e crianças possam socializar, trocar experiências. “A praça é do povo como o céu é do condor”, já dizia o poeta Castro Alves. Às vezes as pessoas não percebem, mas a implantação de quadra poliesportiva numa praça pode ser determinante para um adolescente evitar o caminho das drogas. Esporte, como sabemos, salva vidas.

Na Zona Oeste, no Barro, a Prefeitura entregou a Creche Escola Presidente Tancredo Neves totalmente reformulada. Trata-se de um equipamento excelente que não deixa nada a dever a nenhuma escola particular. Pude ver crianças felizes e sorridentes, bem alimentadas e com roupas limpas, sendo assistidas por professoras dedicadas em salas de aula devidamente climatizadas.  Muitas vezes as classes mais abastadas da nossa sociedade desconhecem a existência de locais assim, o que termina gerando preconceito. Seria ótimo que as bolhas de convivência fossem rompidas.

Na minha curta passagem como prefeito, também visitei obras estruturadores, como um hotel e uma marina que estão sendo erguidos no Cais de Santa Rita. No mesmo dia, lançamos o projeto para que o Recife tenha uma regata em seu calendário turístico, evento que aumentará as oportunidades de emprego e renda, incrementando também nossas receitas tributárias, via Imposto sobre Serviços (ISS).

Após conversar com o prefeito João Campos, também assinei um convênio para que o Tribunal de Justiça de Pernambuco adote e cuide da tradicional Praça Dezessete, uma área próxima ao Fórum Thomaz de Aquino.

Sei que todas essas ações são rotineiras na vida de políticos, sobretudo na daqueles que ocupam cargos executivos. É da natureza política ouvir demandas, negociar, gerir os recursos públicos e buscar atender a população. Não sou um político no sentido partidário. Sou, sim, um agente político porque vivo em sociedade e presido o Poder Judiciário do meu Estado. E é nesta condição de pessoa que pode transformar o estado de coisas que volto às minhas atividades no TJPE. “Com a alma repleta de chão”, como bem cantou Milton Nascimento, reafirmo minha certeza de que o judiciário não pode ser apenas um órgão julgador. Seu poder, sua capilaridade e sua credibilidade devem sempre o colocar como um instrumento para a melhorar a vida de todos.

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