A simples aritmética dos holocaustos judeu e palestino

Alexandre Rands Barros
Economista

Publicado em: 24/02/2024 03:00 Atualizado em: 24/02/2024 05:35

A semana foi muito tomada por discussões sobre a comparação do genocídio atual dos palestinos e o dos judeus pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial. Matar uma população de etnia específica, como se fez em ambos os casos, é sempre genocídio. Se essa população estiver encarcerada e indefesa, como também em ambos os casos, passa a ser um genocídio bárbaro. Convencionou-se chamar de Holocausto no caso dos judeus porque muitos eram queimados. O termo de origem grega se refere a assassinatos queimando as vítimas em rituais religiosos (ocorria mais com animais). Nesse contexto a inquisição, que queimava supostos hereges, também poderia ter sido chamada de holocausto. Mas o termo ficou muito associado ao caso dos judeus na Segunda Grande Guerra. Vale salientar que o que o Presidente Lula falou foi que o genocídio dos palestinos em Gaza só encontrou paralelo na história da humanidade na época do Holocausto. Não mencionou que na África, ao longo dos últimos 100 anos, assistiu-se a fenômenos semelhantes. E tivemos outras matanças em larga escala na história recente, como a de nossos irmãos indígenas ao longo de nossos 500 anos.

Sempre que criticam a fala do nosso presidente, menciona-se os números de assassinatos de judeus no Holocausto: 6,0 milhões. Na época estima-se que viviam 9,0 milhões de Judeus na Europa e que o genocídio deles foi concentrado em cinco anos (1941-1945). No entanto, desde 1933 já havia perseguição e morte violenta de judeus pelo governo nazista. Considerando que em 1942 matou-se o dobro do que nos demais anos (início da máquina mortífera dos Nazista), o assassinato em 1941 teria ficado, conservadoramente, em torno de 1 milhão. Isso significa que em quatro meses o assassinato deve ter sido em torno de 333.333 pessoas. Isso representa 3,7% dos judeus residentes na Europa.

A população de palestinos vivendo em Gaza antes do genocídio atual era estimada em 2,0 milhões. Nos primeiros 4 meses de assassinatos, matou-se 40 mil deles. Isso significa que morreu 2,0% da população de palestinos no espaço de atuação repressiva do governo de Israel. Ou seja, “apenas” metade da proporção do que foi assassinada pelos nazistas no mesmo período de tempo. Quando o governo de Israel contesta agressivamente a comparação dos dois genocídios, será que ele quer dizer que se fossem assassinados “apenas” 3,0 milhões de judeus estaria tudo bem? Na visão de nós brasileiros, um povo de paz, ambas as violências são atrozes e condenáveis, e da mesma forma: está se matando pessoas indefesas e enclausuradas.

A eleição de Bolsonaro a presidente foi circunstancial. A maioria do povo brasileiro condena o fascismo, venha de onde vier, e não cultua o ódio. A própria derrota de Bolsonaro em 2022 mostrou isso. Somos um povo de paz e boa índole. Condenar governos fascistas capazes de chacinas bárbaras não implica em desrespeitar seu povo. Os alemães e italianos não foram objeto de ódio dos brasileiros na guerra, assim como os judeus e russos não são alvo de ódio atualmente. Os seus governos, sim, nos causam fúria e revolta. Dizer que comparar o Holocausto ao genocídio em Gaza é desrespeitar o povo judeu é desdenhar de nossa inteligência. Isso sim, é uma agressão ao povo brasileiro.

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