Ismália e o Novo Mundo
Rodrigo Pellegrino
Advogado
Publicado em: 10/04/2020 03:00 Atualizado em: 09/04/2020 21:28
Ismália é um poema de Alphonsus Guimarães (1870-1921). Inúmeras interpretações já li e ouvi, entretanto, como todo poema, sua pretensão vai para além do sentido, nunca estará aquém da palavra. Sempre imaginei Ismália como todos nós, em nossas torres, a sonhar. Ismália é o ser humano, que se acomete, dia a dia, de interpretações difusas.
A literatura e a poesia, são expressões de uma linguajem, que não necessariamente são menores que outras. Se a retórica quer resumir tudo ao seu verossímil, se a dialética não tem porto certo, passeia e navega no mundo do provável e se a lógica se pretende inquebrantável; a poética fala do possível e é a partir do possível que poderemos criar outros mundos.
Primeira estrofe. “Quando Ismália enlouqueceu, (...), Pôs-se na torre a sonhar, (...), Viu uma lua no céu, (...), Viu outra lua no mar.” - Estamos todos como Ismálias, presos em nossos lugares, físicos e simbólicos. Olhamos o céu e o chão, nunca como dantes olhados. No céu a esperança. No chão a concretude. No horizonte a incerteza de nossos sonhos.
Segunda estrofe. “No sonho em que se perdeu, (...), Banhou-se toda em luar, (...), Queria subir ao céu, (...), Queria descer ao mar.” - Nunca, como antes, o desejo de ver e encontrar foi tão grande. O mesmo abraço não dado de outrora, faz falta na memória afetiva de todos nós. Passamos a ter saudade até do não vivido. Talvez por não saber o amanhã. Uma memória imaginária. Memória da janela e de um tempo que poderia ter existido e ter feito desse mundo atual, melhor.
Terceira estrofe. “E, no desvario seu, (...), Na torre pôs-se a cantar, (...), Estava perto do ceú, (...), Estava longe do mar.” - Ao mesmo tempo que a realidade nos espanca, o sonho novamente nos anima. Cantamos nossas alegrias e tristezas, sem saber qual delas prevalecerá. Estamos vivendo entre o céu e o mar. Desejamos ambos sem saber das suas consequências. De que adiantará abraçarmos o céu, sem o proveito do mar? Somos príncipes e princesas à espera do novo grande amor no mundo.
Quarta estrofe. “E como um anjo pendeu (...), As asas para voar, (...), Queria a lua do céu, (...), Queria a lua do mar.” - Estamos todos pendentes em nosso limites. Queremos pão e circo novamente. Estamos ilhados em nossas torres. Somos o desespero mudo. A insônia permanente de sonâmbulos à espera de milagres. Esperamos pelo vento para levar o de ruim para bem longe e trazer o bom para todos. Somos seres humanos na esperança da dor.
Quinta estrofe. “As asas que Deus lhe deu (...), Ruflaram de par em par (...), Sua alma subiu ao céu, (...), Seu corpo desceu ao mar.” - Ao final de tudo isso, muito de todos nós terá descido ao mar. Ficará perdido, afundado. Restarão submersos muitos sonhos. Muitos desejos. Existem pessoas que insistirão em se imaginar no mesmo mundo, por negação ou por interesse, mas o mundo será outro. Seremos novas pessoas, talvez resgatando outros “eus” perdidos no tempo, mas outras pessoas.
Assim, o sacrifício deste dia, simbolizado na cruz, instrumento de tortura imortalizado como salvação, é o símbolo da representação do possível para toda a humanidade. Não choremos a dor de hoje, haverá sim, sempre, o possível e ele se renova, em passagem, em Páscoa, para todos nós e para toda humanidade. As asas que Deus nos deu, sempre ruflarão, posto inevitável a todos nós a subida ao céu. O que podemos fazer apenas é tornar o nosso mar menos revolto e nele vivê-lo em paz. Que possamos renascer para o dia nascer feliz!
A literatura e a poesia, são expressões de uma linguajem, que não necessariamente são menores que outras. Se a retórica quer resumir tudo ao seu verossímil, se a dialética não tem porto certo, passeia e navega no mundo do provável e se a lógica se pretende inquebrantável; a poética fala do possível e é a partir do possível que poderemos criar outros mundos.
Primeira estrofe. “Quando Ismália enlouqueceu, (...), Pôs-se na torre a sonhar, (...), Viu uma lua no céu, (...), Viu outra lua no mar.” - Estamos todos como Ismálias, presos em nossos lugares, físicos e simbólicos. Olhamos o céu e o chão, nunca como dantes olhados. No céu a esperança. No chão a concretude. No horizonte a incerteza de nossos sonhos.
Segunda estrofe. “No sonho em que se perdeu, (...), Banhou-se toda em luar, (...), Queria subir ao céu, (...), Queria descer ao mar.” - Nunca, como antes, o desejo de ver e encontrar foi tão grande. O mesmo abraço não dado de outrora, faz falta na memória afetiva de todos nós. Passamos a ter saudade até do não vivido. Talvez por não saber o amanhã. Uma memória imaginária. Memória da janela e de um tempo que poderia ter existido e ter feito desse mundo atual, melhor.
Terceira estrofe. “E, no desvario seu, (...), Na torre pôs-se a cantar, (...), Estava perto do ceú, (...), Estava longe do mar.” - Ao mesmo tempo que a realidade nos espanca, o sonho novamente nos anima. Cantamos nossas alegrias e tristezas, sem saber qual delas prevalecerá. Estamos vivendo entre o céu e o mar. Desejamos ambos sem saber das suas consequências. De que adiantará abraçarmos o céu, sem o proveito do mar? Somos príncipes e princesas à espera do novo grande amor no mundo.
Quarta estrofe. “E como um anjo pendeu (...), As asas para voar, (...), Queria a lua do céu, (...), Queria a lua do mar.” - Estamos todos pendentes em nosso limites. Queremos pão e circo novamente. Estamos ilhados em nossas torres. Somos o desespero mudo. A insônia permanente de sonâmbulos à espera de milagres. Esperamos pelo vento para levar o de ruim para bem longe e trazer o bom para todos. Somos seres humanos na esperança da dor.
Quinta estrofe. “As asas que Deus lhe deu (...), Ruflaram de par em par (...), Sua alma subiu ao céu, (...), Seu corpo desceu ao mar.” - Ao final de tudo isso, muito de todos nós terá descido ao mar. Ficará perdido, afundado. Restarão submersos muitos sonhos. Muitos desejos. Existem pessoas que insistirão em se imaginar no mesmo mundo, por negação ou por interesse, mas o mundo será outro. Seremos novas pessoas, talvez resgatando outros “eus” perdidos no tempo, mas outras pessoas.
Assim, o sacrifício deste dia, simbolizado na cruz, instrumento de tortura imortalizado como salvação, é o símbolo da representação do possível para toda a humanidade. Não choremos a dor de hoje, haverá sim, sempre, o possível e ele se renova, em passagem, em Páscoa, para todos nós e para toda humanidade. As asas que Deus nos deu, sempre ruflarão, posto inevitável a todos nós a subida ao céu. O que podemos fazer apenas é tornar o nosso mar menos revolto e nele vivê-lo em paz. Que possamos renascer para o dia nascer feliz!
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL
MAIS LIDAS
ÚLTIMAS