Clouds26° / 28° C

EUA

Trump taxa produtos chineses em 104%; entenda o impacto global da medida

Ontem, com o impasse entre as duas maiores economias, dólar chega a R$ 5,99, e Bolsa cai 1,32% no Brasil. No mundo, perdas chegam a US$ 10,8 trilhões
A secretária de imprensa Karoline Leavitt disse que as negociações que forem feitas serão apenas para beneficiar os trabalhadores americanos  (Crédito: Getty Images via AFP)
A secretária de imprensa Karoline Leavitt disse que as negociações que forem feitas serão apenas para beneficiar os trabalhadores americanos (Crédito: Getty Images via AFP)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cumpriu, ontem, a promessa feita na véspera de aplicar uma tarifa adicional de 50% sobre os produtos importados da China, caso o governo de Xi Jinping não retirasse a retaliação de 34% sobre os norte-americanos. Com a nova taxa, que passa a vigorar a partir de hoje, a alíquota total que incide sobre as importações com origem no país asiático subiu para 104%, e o mundo acompanha atônito os novos movimentos dessa guerra tarifária, sem saber onde e quando o conflito vai terminar.

Trump havia concedido um prazo até o meio-dia de ontem (ou 13h, no horário de Brasília) para que a China recuasse. No entanto, o que se testemunhou foi um tom ainda mais forte do governo chinês contra as ações de Washington. “A China lutará até o fim se o lado dos EUA estiver empenhado em seguir o caminho errado”, afirmou, em nota, um porta-voz do governo chinês.

Na Casa Branca, a secretária de imprensa Karoline Leavitt concedeu entrevista aos jornalistas logo após a confirmação da tarifa adicional e explicou que cerca de 70 países já entraram em contato com o presidente dos EUA para iniciar negociações. No entanto, a porta-voz do governo Trump deixou uma mensagem clara: “As negociações serão feitas apenas para beneficiar os trabalhadores americanos”, disse ela, acrescentando que Trump “não se curvará”.

O republicano anunciou, nas redes sociais, que está próximo de ter um “grande acordo” com a Coreia do Sul. Após conversar, por telefone, com o presidente interino do país, Han Duck-soo, Trump avaliou que o diálogo foi “ótimo” e que o possível acordo deve ser firmado para beneficiar ambos os países. Na semana passada, os norte-americanos anunciaram tarifa de 25% sobre todos os produtos coreanos importados pelos EUA.

Mal-estar

O novo episódio envolvendo as duas maiores economias do mundo derrubou os mercados novamente, durante o pregão de ontem. Nos EUA, todas as bolsas fecharam no vermelho mais uma vez, com o Índice Dow Jones recuando 0,84% e o S&P 500 encerrando o dia em queda de 1,57%. A Nasdaq, bolsa das empresas de tecnologia, escorregou 2,15%, puxada mais uma vez pela crise nas big techs, principalmente entre as ‘Magnificent Seven’ — as sete maiores empresas do mundo em valor de mercado.

Conforme levantamento feito pela consultoria Elos Ayta, desde a posse de Trump, as companhias listadas nas bolsas norte-americanas acumularam perdas de US$ 10,8 trilhões até segunda-feira — o equivalente a cinco vezes o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, de US$ 2,2 bilhões em 2024. Apenas essas sete empresas já perderam US$ 4,5 trilhões em valor de mercado, o que representa mais de dois terços do valor perdido por todas as outras empresas do país nesse mesmo período.

Entre as mais impactadas está a Tesla, do bilionário e chefe do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) no governo norte -americano, Elon Musk. No mesmo intervalo de tempo, a empresa perdeu US$ 655 bilhões, enquanto que a sua fortuna pessoal caiu para US$ 300 bilhões, chegando ao menor valor desde o ano passado.

No meio dessa confusão provocada por Trump, a aversão ao risco aumenta, e, apesar das perdas nos últimos dias, as principais bolsas da Europa e da Ásia recuperaram parte dos prejuízos, com a bolsa de Frankfurt, na Alemanha, fechando em alta de 2,48%, e o Índice Nikkei, no Japão, subindo 6,03% no fim do dia. No Brasil, contudo, não foi possível dizer o mesmo, apesar de o mercado de ações nacional ter ensaiado uma recuperação antes da imposição de nova tarifa aos chineses pelo governo norte-americano. O Índice da Bovespa (IBovespa) encerrou o dia com queda de 1,32%, aos 123.931 pontos, enquanto o dólar manteve a trajetória de alta e chegou a operar acima de R$ 6 — algo que não ocorria desde 22 de janeiro. A divisa norte -americana encerrou o pregão cotada a R$ 5,997, com alta de 1,46%.

Eduardo Velho, economistachefe da Equador Investimentos, o mercado financeiro global, incluindo o brasileiro, segue com forte aversão ao risco em meio ao aumento da probabilidade de os EUA entrarem em recessão por conta do tarifaço de Trump e de a economia global crescer menos do que o esperado. “A desaceleração da atividade econômica neste ano era esperada, mas, agora, ninguém consegue precisar exatamente o quanto. Essa teimosia de Trump vai prejudicar também o comércio global, portanto, haverá queda na oferta de dólar no mercado, que tende a subir”, avaliou.

Velho lembrou que o Brasil também será afetado por essa nova crise global, que resultará na queda do PIB mundial e do preço do petróleo. Logo, não adiantará o país buscar outros mercados para aumentar as exportações. “A China, por exemplo, não deve comprar mais do Brasil por conta da tarifação dos Estados Unidos. E, se houver queda de preço das commodities, a receita será menor na balança comercial, não só pelo aspecto da desaceleração do PIB mundial e mas também pela queda do fluxo de capital para os mercados emergentes”, disse Velho.

Pelas projeções dele, como o dólar voltou para um patamar maior nos últimos dias, a inflação também deve ficar mais pressionada se esses novos valores no câmbio forem mantidos por mais semanas, podendo encerrar o acima das atuais projeções do mercado e do governo, de 5,60%. “O câmbio é uma variável chave no cálculo do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, que mede a inflação oficial), E, se ele persistir nesse nível atual, a inflação deste ano ficará mais perto de 7%”, alertou.

Na avaliação de Arnaldo Lima, Relações Institucionais e Economista da Polo Capital Management, a guerra tarifária deflagrada pelos Estados Unidos pode abrir espaço para ganhos de competitividade em setores estratégicos como o agronegócio. “No entanto, o cenário global permanece incerto, especialmente diante da guerra comercial entre China e EUA, cujos desdobramentos ainda são imprevisíveis e adicionam volatilidade a diversos ativos, inclusive ao dólar”, afirmou ele.
 
As informações são do Correio Braziliense. 

Mais notícias

Acompanhe o Diario de Pernambuco no WhatsApp
Acompanhe as notícias da Xinhua