![O empresário tem dupla nacionalidade e fortes vínculos com o governo Donald Trump, dos EUA (crédito: AFP) O empresário tem dupla nacionalidade e fortes vínculos com o governo Donald Trump, dos EUA (crédito: AFP)]() |
O empresário tem dupla nacionalidade e fortes vínculos com o governo Donald Trump, dos EUA (crédito: AFP) |
O presidente Daniel Noboa, de 37 anos, venceu com 1 milhão de votos de diferença, neste domingo (13), uma disputa apertada com a candidata da esquerda Luisa González, de 47. Ele assumirá o segundo mandato por mais quatro anos. Com dupla nacionalidade, pois nasceu em Miami, nos Estados Unidos, é afilhado político de Robert Kennedy Jr (secretário de Saúde e Serviços Humanos do governo Donald Trump), ele defende medidas duras para conter a criminalidade que avança no país. Derrotada, Luisa disse não reconhecer o resultado e que pedirá contagem dos votos. Porém, o Conselho Nacional Eleitoral, o equivalente ao Tribunal Superior Eleitoral do Brasil, confirmou o nome do candidato governista como vitorioso. No segundo mandato, Noboa terá imensos desafios para enfrentar numa região mergulhada em crise econômica, além de apagões elétricos, instabilidade política e violência disseminada por gangues do tráfico de drogas.
O Equador é considerado, atualmente, o país mais violento da América Latina, registrando 1.300 homicídios nos primeiros 50 dias de 2025, segundo o El País. O foco dos crimes está na ação das muitas gangues ligadas a cartéis e máfias estrangeiras que impõem medo e ameaçam. Com pouco mais de 18 milhões de habitantes, pelo menos 20% estão desempregados ou na informalidade, o que reflete diretamente na economia, que teve queda de consumo. A retração econômica agravada por longos períodos de seca, que acarreta intermináveis apagões de energia.
O desabastecimento atinge o país todo, sem exceção, há regiões que chegam a ficar 14 horas sem energia. Aliada a essas questões, há, ainda a instabilidade política. Depois de um longo período com Rafael Correa, veio Guillermo Lasso, suspeito de corrupção. Antes de deixar o governo, ele antecipou as eleições para fugir do julgamento. Assim, Noboa assumiu o poder com a missão de ficar 15 meses. Nesse meio tempo, houve o assassinato de Fernando Villavicencio, ex-integrante da Assembleia Nacional, baleado na cabeça. Cinco pessoas foram condenadas pelo crime, inclusive uma mulher.
O embaixador brasileiro em Quito, Flávio Damico, afirmou ao Correio que ambos os candidatos têm interesse em estreitar relações com o Brasil. Segundo ele, há possibilidades de avanço em setores como os de energia renovável, mineração, água e saneamento, além das áreas de segurança, Forças Armadas e Polícia Federal. "Há um reconhecimento de todos do Brasil como líder regional", ressaltou o diplomata, que acompanha de perto as eleições. "O importante é que a decisão dos eleitores seja respeitada."
Participaram como observadores internacionais nas eleições o ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal e Tribunal Superior Eleitoral, além dos advogados Bruno Martins, Miguel Dunshee, João Rafael e Renato Ribeiro e Guilherme Sturm, integrando a Transparencia Electoral. Martins presidiu o grupo.
Votações
Em clima de medo e de fantasmas do passado, 83,7% dos 13.736.315 eleitores, de 18 a 65 anos obrigados a votar, foram às urnas, sendo que o Conselho Nacional Eleitoral registrou apenas pequenas infrações, como fotografias na urna e uso de duas cédulas. Mas o esquema de segurança foi reforçado com mais de 56,7 mil policiais. Na véspera, o presidente da República decretou estado de exceção em sete das 24 províncias, locais onde se concentram os grandes presídios e a oposição tem maioria.
Segundo o governo, era a única forma de conter a violência das gangues do tráfico de drogas. Válida por 60 dias, a medida suspende os direitos à inviolabilidade do domicílio e da correspondência e a liberdade de reunião, e impõe toque de recolher noturno. Decisão semelhante foi adotada no primeiro turno. Também foi limitada a entrada de estrangeiros nas fronteiras terrestres com a Colômbia e o Peru, pois o Equador é usado como área para escoar o material de tráfico.
Diametralmente opostos, Noboa e Luisa passaram a campanha trocando acusações. Ambos denunciam corrupção do adversário, sem apresentarem provas concretas. O atual presidente, sempre cercado de forte esquema de segurança, insiste em um discurso duro contra a ação das gangues, dos cartéis e das máfias. A oposicionista se apoia tradição de gestão de Correa, dos programas de transferência de renda e ajuda direta aos mais pobres. Pelos dados nacionais, 26% da população está na faixa de pobreza, sendo 9% na extrema pobreza. A situação se agrava no campo, o que afeta também a economia, uma vez que as exportações da são lideradas por banana, camarão, pescados e cacau.
Nascido em Miami, nos Estados Unidos e formado por lá, Daniel Noboa, de 37 anos, ao assumir o poder impôs um governo militarizado. No primeiro momento, a decisão funcionou. Depois, não mais. Porém, ele insiste nesse discurso e linha de ação. É um apreciador de redes sociais, nas quais surge como roqueiro, tocando guitarra e cantando em inglês. Aprecia roupas esportivas e tem gostos caros. É filho de um dos homens mais ricos do país, o banqueiro Álvaro Noboa, que tentou cinco vezes ocupar a Presidência da República e perdeu todas. Já o filho disputou em uma única oportunidade e venceu.
A advogada Luisa González, de 47 anos, é afilhada política do ex-presidente Rafael Correa, que governou o país de 2010 a 2017 e foi condenado à prisão por corrupção, mas fugiu para Bélgica onde vive. Ela tentou, ao longo da campanha, descolar sua imagem de Correa sem sucesso. "Quem vai governar é Luisa González", repetia ao ser chamada de fantoche pelos críticos. É a segunda vez que ela e Noboa se enfrentam nas urnas, da última vez, ele venceu. Às vésperas do segundo turno, ela acusou o adversário de retirar sua segurança pessoal, mas foi desmentida horas depois e comprovado que os seguranças seguiam com ela.