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FAIXA DE GAZA

Chefe da ONU afirma que Gaza é um campo de morte

Guterres rejeitou o plano de Israel para controlar a entrega de ajuda humanitária na região palestina

Publicado em: 08/04/2025 20:59 | Atualizado em: 08/04/2025 21:11

Secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres (foto: MICHAEL TEWELDE / AFP)
Secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres (foto: MICHAEL TEWELDE / AFP)

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, declarou hoje que a Faixa de Gaza é atualmente um "campo de morte" e afirmou que a ONU não pode aceitar o bloqueio da entrada de ajuda humanitária no enclave. "Gaza é um campo de morte e os civis estão presos num ciclo interminável de morte”, denunciou.

 

Guterres rejeitou o plano de Israel para controlar a entrega de ajuda humanitária na região palestina, acusando Tel Aviv da intenção de controlar ainda mais e limitar insensivelmente a ajuda até a última caloria e grão de farinha. “Deixe-me ser claro! Não participaremos de nenhum acordo que não respeite totalmente os princípios humanitários: humanidade, imparcialidade, independência e neutralidade. Há mais de um mês que não entra uma única gota de ajuda em Gaza. Nem alimentos, nem combustível, nem medicamentos, nem bens comerciais. Enquanto a ajuda está secando, as comportas do horror reabriram”, disse Guterres, que condena a retomada dos ataques israelenses em 18 de março, que já causou mais de 1400 mortes e deslocou quase 400 mil pessoas.

 

O chefe da ONU alertou que a capacidade das Nações Unidas para enviar ajudar humanitária para Gaza tem sido "estrangulada" e considerou que Israel não está a cumprir obrigações inequívocas enquanto potência ocupante ao abrigo do Direito Internacional. Guterres apelou ainda a uma investigação independente sobre as mortes dos trabalhadores das equipes de ajuda humanitária, incluindo pessoal da própria ONU, encontrados numa vala na cidade de Rafah, no sul de Gaza.

 

A escassez e a proibição de ajuda humanitária são endossadas e denunciadas por outras várias entidades, como os Médicos Sem Fronteira, a Anistia Internacional e o Crescente Vermelho, braço da Cruz Vermelha Internacional. As entidades afirmam que a política de punição coletiva adotada por Israel impede a entrada de suprimentos além dos cortes na eletricidade, assinalando que a situação humanitária se deteriorou perigosamente com o aumento da fome, desnutrição, falta de água potável e remédios e condições sanitárias alarmantes.

 

O governo israelense interrompeu o fornecimento de alimentos e outras ajudas essenciais antes mesmo da violação do cessar-fogo, alegando pressionar o Hamas a libertar mais reféns e impor novas condições para a extensão da trégua.

 

Em relação aos planos dos EUA para Gaza, ao ser questionado Guterres indicou que a deslocação forçada de palestinos seria contra o Direito Internacional. "Os palestinos devem poder viver num Estado palestino lado a lado com um Estado israelense. Essa é a única solução que pode trazer a paz ao Oriente Médio", assegurou. 

 

Por sua vez, o presidente dos EUA, Donald Trump, defende que ninguém quer viver em Gaza e que seria “uma coisa boa” se as forças norte-americanas assumissem o controle do enclave palestino. Trump insistiu que o local é um “imóvel incrivelmente importante”, e já sugeriu reconstruir e transformá-la na “Riviera do Oriente Médio. Para isso, os seus habitantes poderiam ser transferidos para o Egito e a Jordânia, que rejeitaram veementemente esta opção, apesar da pressão de Washington.

 

Em reação as declarações do secretário-geral das Nações Unidas, o Ministério das Relações Exteriores de Israel rejeitou qualquer escassez de ajuda humanitária em Gaza e acusou Guterres de espalhar calúnias. "Não há falta de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Mais de 25 mil caminhões de ajuda passaram pela Faixa de Gaza durante o cessar-fogo e o Hamas usou essa ajuda para reconstruir a sua máquina de guerra", afirmou Omer Marmorstein, porta-voz da chancelaria israelense.

 

 

Impasses no cessar-fogo

 

Um dos líderes do gabinete político do Hamas, Hossam Badran, observou nesta terça-feira (8) que é preciso chegar a um cessar-fogo com Israel em Gaza. "Esta guerra não pode continuar indefinidamente e, por isso, é necessário chegar a um cessar-fogo. O Hamas e os outros grupos armados palestinos que combatem Israel aceitaram as propostas que foram recentemente apresentadas pelos mediadores egípcios e cataris, que a ocupação recusou. Mas, a comunicação com os mediadores ainda está em curso e continua até agora, mas não há novas propostas", frisou, acrescentando que o Hamas estava aberto a todas as ideias que pudessem levar a um cessar-fogo.

 

Já durante a reunião essa semana na Casa Branca com o presidente norte-americano, Donald Trump, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse estar trabalhando em um novo acordo sobre a libertação de reféns. "Estamos a trabalhar noutro acordo que esperamos que seja bem-sucedido e estamos determinados a libertar todos os reféns", destacou Netanyahu.

 

Trump e Netanyahu também reiteraram os planos de expulsão para 'limpar' Gaza dos palestinos, com o primeiro-ministro israelense adiantando que há países que querem permitir a entrada deles. No entanto, ambos não informaram que países seriam estes.

 

Depois de dois meses de uma frágil trégua entre o Hamas e Israel, o Exército israelense quebrou o acordo e retomou a ofensiva militar em Gaza.  A recente e curta trégua permitiu o regresso de 33 reféns israelitas, incluindo oito mortos, em troca da libertação de cerca de 1.800 palestinos mantidos em prisões israelenses. Enquanto isso, Netanyahu e o seu gabinete sustentam, contra a maioria dos familiares dos reféns e boa parte da população do seu país, que o aumento da pressão militar é a única forma de obrigar o Hamas a devolver os reféns, vivos ou mortos.

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