UNIÃO EUROPEIA
UE em alerta com interferência russa nas eleições dos países do bloco
Suposta rede de influência, financiada pelo Kremlin, que visaria o Parlamento Europeu foi descoberta recentemente
Por: Isabel Alvarez
Publicado em: 18/04/2024 13:55
Foto: KIRILL KUDRYAVTSEV / AFP |
Faltando menos de dois meses das eleições europeias, os países da União Europeia (UE) investigam as tentativas de ingerência da Rússia, após a descoberta de uma alegada rede de influência, financiada pelo Kremlin, que visaria o Parlamento Europeu. O fato levou à abertura de investigações e pedidos de novas sanções. "Temos de ser muito mais vigilantes, temos de cooperar muito mais", disse Charles Michel, presidente do Conselho Europeu.
Na cúpula da UE, foi dado o alerta para o risco de uma intensificação das campanhas de desinformação por parte de Moscou na fase que antecede as eleições, com o objetivo de influenciar os resultados eleitorais e enfraquecer o apoio ocidental à Ucrânia.
A presidente do Parlamento Europeu (PE), Roberta Metsola, também manifestou preocupação aos líderes dos países do bloco e afirmou que estão atentos e que o PE está pronto a apoiar os membros na luta contra qualquer interferência maliciosa. Os dirigentes da UE já avançaram com um texto provisório, no qual destacam a sua determinação em acompanhar de perto e conter qualquer risco ligado à desinformação, em particular através da Inteligência Artificial (IA), à manipulação da informação por atores estrangeiros e à interferência nos processos eleitorais.
As ameaças tomaram uma nova dimensão no final de março, quando a República Tcheca revelou ter descoberto uma rede alegadamente organizada por Moscou, que divulgava propaganda pró-russa sobre a Ucrânia no portal Voz da Europa, com sede em Praga. O portal já foi fechado e publicava fake news e artigos muito críticos em relação à ajuda ocidental à Ucrânia, dando também espaço aos políticos de extrema-direita do bloco. Além disso, servia para financiar candidatos às eleições aceitos pelo Kremlin, com vultosos pagamentos a políticos da Polônia, Hungria, República Tcheca, Alemanha, França, Bélgica e Holanda.
A Bélgica também confirmou que alguns deputados europeus receberam dinheiro desta rede para transmitir mensagens pró-Rússia. O caso levou os tribunais belgas a abrir um inquérito sobre o assunto. "Temos de ser muito claros: este tipo de tentativa é inaceitável e temos de fazer tudo o que pudermos para proteger a nossa democracia", declarou o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, na cúpula da UE.
De Croo e o premiê checo, Petr Fiala, apelaram à adoção de sanções a essas atividades da Rússia. "É evidente que o regime russo tenta influenciar as eleições européias, em junho, e reforçar o discurso pró-russo no próximo Parlamento", apontaram os dois líderes. De Croo e Fiala pedem ainda que o Ministério Público Europeu e o Organismo Europeu de Luta Antifraude (OLAF) possam fazer ações judiciais contra esta ingerência. "Não podemos permitir que a Rússia escape com um ataque tão flagrante às nossas instituições e princípios democráticos. Temos de nos armar contra isso, tanto a nível nacional como europeu", explicaram.
De Croo destacou que os líderes da UE concordaram em ativar durante dois meses um mecanismo de crise de emergência, que foi ativado na pandemia. Um grupo de trabalho irá então monitorizar de perto a desinformação. "O plano é produzir um ponto de situação da desinformação numa base muito regular. Vamos ligar esta informação, partilhá-la com os membros e trabalhar com as autoridades judiciais nacionais para tomar medidas", acrescentou o primeiro-ministro belga. A Bélgica e outros países da UE abriram uma investigação criminal, e a República Checa já sancionou vários indivíduos e uma entidade por esforços para minar a integridade territorial da Ucrânia. A República Checa informou também que identificou um homem de negócios próximo do Kremlin, Viktor Medvedchuk, e o empresário ligado a órgãos de comunicação social Artem Martchevsky, por suspeita de envolvimento nas atividades da rede.
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