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Drama dos Brasileiros
''É algo que dá pavor e revolta no coração'', diz pastor resgatado de Israel na guerra com Hamas
Pernambucano Daniel Chagas, de 61 anos, estava no grupo de repatriados que chegou ao Recife, nesta sexta (13)
Publicado: 13/10/2023 às 11:41

Brasileiros que foram repatriados de Israel chegaram ao Recife/Foto: Rafael Vieira/DP

“O Hamas fez coisas terríveis. Mães foram rasgadas ao meio e agonizaram no chão. É algo que dá pavor e revolta no coração o que fizeram com várias famílias. Vimos vídeos de uma família sendo fuzilada covardemente pelos terroristas”.
A declaração é do pastor Daniel Chagas, de 61 anos, com os olhos cheios de lágrimas.
O pernambucano foi um dos 69 brasileiros repatriados de Israel, que, na manhã desta sexta (13), chegaram ao Recife, após dias de muita aflição e angústia em meio a guerra envolvendo o grupo terrorista palestino Hamas e Israel.
O voo que trouxe os brasileiros repatriados aterrissou no Aeroporto Internacional do Recife, no Ibura, na Zona Sul do Recife, por volta das 5h50.
O avião modelo cargueiro KC- 390 da Força Área Brasileira (FAB) foi a terceira aeronave que partiu do Brasil para buscar os brasileiros refugiados em Israel, que faz parte da Operação “Voltando em Paz” do Governo Federal.
Ao todo, segundo o Ministério da Defesa, já foram repatriados 494 cidadãos brasileiros.
Desse total, 69 chegaram à Recife. Os cinco pernambucanos ficaram e os outros 64 passageiros partiram em outro voo com destino ao Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.
Segundo a FAB, foram 14 horas de voo, partindo da cidade israelense de Tel Aviv, às 14h38 da quinta (12), no horário de Brasília, em direção ao Recife.
O voo foi considerado tranquilo, entretanto, a tensão de deixar Israel foi tamanha que uma criança que estava entre os passageiros acabou tendo uma crise de pânico e precisou ser amparada pelos oficiais da tripulação.
Além disso, uma grávida também estava entre os repatriados e recebeu todo o suporte de uma psicóloga da Aeronáutica que estava dando todo o apoio aos passageiros.
Os repatriados foram recebidos na Base Aérea do Recife pelo ministro da Defesa, José Múcio; pela vice-governadora do Estado, Priscila Krause, e pela vice-prefeita do Recife, Isabella de Roldão.
O avião KC-390 decolou com destino a São Paulo com os demais 64 repatriados às 8h33.
Segundo a FAB, ainda nesta sexta (13), mais uma aeronave chegará ao Brasil, no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, com mais 210 repatriados e, outra aeronave, também aterrissará no Galeão, no sábado (14), com outros 210 passageiros, todos resgatados de Israel por meio da Operação Voltando em Paz.
Segundo a vice-governadora do Estado, Priscila Krause, o Executivo estadual vêm dialogando com o Governo Federal para a possibilidade de acolher mais brasileiros repatriados de Israel.
“O governo do estado não medirá esforço para criar a estrutura necessária para acolher mais brasileiros que estão sendo resgatados do conflito. Inclusive, durante a semana que vem,entraremos em contato com os pernambucanos repatriados para dar todo o suporte necessário no que precisarem”, destacou a vice-governadora.
O comandante da aeronave KC-390 da FAB que trouxe os brasileiros até Recife, o major Emerson Chaves César, considerou o planejamento da operação com êxito.
Ele explicou como foi a rota para repatriar os brasileiros.
“A gente partiu do Brasil com destino a Roma (na Itália), onde fizemos o pernoite e no outro dia decolarmos para Israel. A nossa chegada foi bem planejada. Fizemos todos os contatos diplomáticos necessários e trouxemos todos em segurança com êxito. A FAB está sempre pronta para atender em tempos de guerra e em tempos de paz”, destacou o comandante, que também participou em 2022, das operações da FAB para resgatar brasileiros que estavam na Ucrânia em meio aos conflitos com a Rússia.
Terror e angústia
Os brasileiros repatriados que chegaram na Base Aérea do Recife nesta sexta (13) contaram um pouco sobre o que viram e passaram em terras israelenses durante os bombardeios e conflitos armados entre o Hamas e as forças militares israelenses.
Entre os resgatados, estava o pastor Daniel Chagas, de 61 anos, que visivelmente emocionado contou ao Diario de Pernambuco as cenas de terror que presenciou.
Ele que é pastor da Igreja Presbiteriana do Pína, na Zona Sul do Recife, estava coordenando uma excursão de peregrinação de um grupo de religiosos em Jerusalém.
A viagem duraria 10 dias, porém acabou sendo interrompida no sétimo dia por conta dos conflitos na região.
O religioso informou que aonde estavam, em Jerusalém, os mísseis ainda não haviam chegado, entretanto, o terror e a aflição eram angustiantes do que poderia estar por vir.
“Deu revolta no coração ver o que o Hamas está fazendo na faixa de Gaza. Nós acompanhamos e vimos o terror que fizeram com as famílias israelenses. Vimos uma família inteira, de cinco membros, com crianças, sendo fuzilada covardemente. O que estão fazendo é uma coisa hedionda. Isso não é guerra. É desumano. Haviam crianças enjauladas desesperadas pedindo socorro. Não estamos acusando a comunidade palestina, mas sim o grupo terrorista do Hamas, que têm feito atrocidades. Não temos respostas, e sim pesadelos”, disse, emocionado.
[SAIBAMAIS]
O violinista Alessandro Borgomanero, de 55 anos, é morador de Goiânia, capital do Estado de Goiás, contou que apesar de toda aflição de ser vítima dos terroristas do Hamas, a esperança permanecia para voltar para casa.
“Estávamos eu e minha esposa muito aflitos, aterrorizados o que chegava até nós. Porém, a esperança não cessava. Vimos vídeos com coisas horríveis, crimes de guerra e muito terror. Onde estávamos era seguro, mas não sabíamos até quando. O pensamento era só chegar em casa e ver novamente a minha família. Deixamos Israel tristes, com o sentimento de que a paz e o amor vençam a todo esse conflito”, falou o violinista, que demonstrou gratidão ao se apresentar com o seu violino aos oficiais que participaram da operação de resgate dos brasileiros.
A professora de música, Juliana Borgomanero, de 50 anos, que também é moradora de Goiânia (GO), enfatizou a esperança e a fé para poder voltar para casa.
“Eu e meu marido (Alessandro) só pensávamos em nossa família, em rever todos os amigos. Não perdi em nenhum momento a esperança de voltar para o Brasil. Todos do Itamaraty, da embaixada brasileira em Israel, nós trataram muito bem e toda a orientação foi devidamente feita. Isso nós deixou mais aliviados que tudo iria dar certo”, destacou.