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Irã critica resolução da AIEA e perspectiva de acordo nuclear é cada vez mais distante

Publicado: 09/06/2022 às 09:13

/Foto: JOE KLAMAR / AFP

/Foto: JOE KLAMAR / AFP

O Irã criticou nesta quinta-feira a resolução adotada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que critica a falta de cooperação do país, uma nova divergência que afasta a perspectiva de uma solução sobre o delicado tema do acordo nuclear iraniano.

"O Irã condena a adoção da resolução apresentada por Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha na reunião do Conselho de Ministros da AIEA, que é uma ação política, não construtiva e incorreta", afirma um comunicado do ministério das Relações Exteriores.

A crítica direcionada ao Irã, a primeira desde junho de 2020, foi aprovada por 30 dos 35 membros da AIEA. Apenas Rússia e China votaram contra, enquanto Índia, Líbia e Paquistão optaram pela abstenção.

O texto foi aprovado depois que a AIEA, com sede em Viena, expressou preocupação com restos de urânio enriquecido encontrados em três unidades nucleares não declaradas do Irã.

"A adoção da resolução, que é baseada no relatório apressado e desequilibrado do diretor geral da AIEA e em informações falsas e fabricadas pelo regime sionista (em uma referência a Israel), somente enfraquecerá o processo de cooperação e interação entre a República Islâmica do Irã e a Agência", afirma o ministério em seu comunicado.

"O Irã adotou medidas recíprocas devido à abordagem não construtiva da Agência e à aprovação da resolução, incluindo a instalação de centrífugas avançadas e o desligamento das câmeras", afirmou o Organismo de Energia Nuclear Iraniano.

O organismo de energia nuclear iraniano informou na quarta-feira que desconectou algumas câmeras da AIEA que monitoravam suas instalações nucleares, incluindo as que controlavam o Monitor de Enriquecimento Online (OLEM).

O "mais transparente do mundo" 
 
O porta-voz do ministério das Relações Exteriores do Irã, Saeed Khatibzadeh, criticou a resolução no Twitter. Ele afirmou que Teerã tem o "programa nuclear pacífico mais transparente do mundo".

"Os iniciadores são responsáveis pelas consequências. A resposta do Irã é firme e proporcional", acrescentou.

Após a aprovação da resolução, França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos pediram a Teerã que "respeite suas obrigações" e coopere com a AIEA. 

"Se o Irã cumprir com isto e se o diretor-geral conseguir informar que as questões pendentes sobre garantias foram resolvidas, não consideraremos mais necessário que o Conselho se reúna ou adote medidas", acrescentaram os países.

O Irã assinou em 2015 um acordo com as potências mundiais para limitar seu programa nuclear em troca de uma redução das sanções, mas o acordo está paralisado desde que o ex-presidente Donald Trump retirou unilateralmente os Estados Unidos do pacto em 2018 e restabeleceu as sanções contra Teerã.

Um ano depois das novas e severas medidas punitivas, o o Irã começou a descumprir os compromissos assumidos no âmbito do acordo.

As negociações para reativar o acordo nuclear começaram em abril de 2021 com o objetivo de possibilitar o retorno dos Estados Unidos ao pacto, suspender as sanções e conseguir levar o Irã de volta aos limites que haviam sido estabelecidos para suas atividades nucleares. Mas as negociações pararam nos últimos meses.

De acordo com Eric Brewer, especialista da 'Nuclear Threat Initiative' (NTI), com sede nos Estados Unidos, as decisões do Conselho de Ministros "podem piorar as coisas de maneira dramática".

De modo concreto, o analista teme que a decisão de interromper o funcionamento das câmeras dificulte o monitoramento da AIEA e permita que o Irã aumente suas capacidades de enriquecimento, além de acumular material suficiente para fabricar uma bomba.

Desde janeiro de 2021, o Irã suspendeu parte das inspeções da AIEA, responsável por garantir o caráter pacífico do programa nuclear, e cortou o acesso a instrumentos de vigilância alegando que transmitirá as imagens ao final das negociações.
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