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CIÊNCIA

Covid-19: cientistas descobrem genes que barram o vírus

Publicado em: 17/04/2021 10:24

Os genes em questão estão relacionados aos interferons, os combatentes virais da linha de frente do corpo (Dotted Yeti/Divulgação)
Os genes em questão estão relacionados aos interferons, os combatentes virais da linha de frente do corpo (Dotted Yeti/Divulgação)
Cientistas norte-americanos identificaram um conjunto de genes humanos que lutam contra a entrada do Sars-CoV-2, o vírus que causa a covid-19, nas células. Saber quais componentes do DNA ajudam a controlar a infecção viral pode melhorar muito a compreensão dos pesquisadores sobre os fatores que afetam a gravidade da doença e também sugerir possíveis opções terapêuticas. O estudo foi publicado na revista Molecular Cell.

Os genes em questão estão relacionados aos interferons, os combatentes virais da linha de frente do corpo. “Queríamos obter uma melhor compreensão da resposta celular ao Sars-CoV-2, incluindo o que leva a uma resposta forte ou fraca à infecção”, disse Sumit K. Chanda, Ph.D., professor e diretor do Instituto de Imunidade e Patogênese do Programa da Sanford Burnham Prebys e principal autor do estudo. “Obtivemos novos insights sobre como o vírus explora as células humanas que ele invade, mas ainda estamos procurando seu calcanhar de Aquiles para que possamos desenvolver antivirais ideais.”

Logo após o início da pandemia, os médicos descobriram que uma resposta fraca do interferon à infecção por Sars-CoV-2 resultou em alguns dos casos mais graves de covid-19. Esse conhecimento levou Chanda e colegas a pesquisar os genes que são acionados por essas proteínas, conhecidos como genes estimulados por interferon (ISGs), que atuam para limitar a infecção.

Com base no conhecimento obtido do Sars-CoV-1, vírus que causou um surto mortal, mas relativamente breve, da doença de 2002 a 2004, e sabendo que era semelhante ao Sars-CoV-2, os pesquisadores desenvolveram experimentos de laboratório para identificar os ISGs que controlam a replicação viral na covid-19.

“Descobrimos que 65 ISGs controlaram a infecção por Sars-CoV-2, incluindo alguns que inibiram a capacidade do vírus de entrar nas células, alguns que suprimiram a fabricação do RNA, que é o sangue vital do vírus, e um agrupamento de genes que inibiu a montagem do micro-organismo”, detalhou Chanda. “O que também foi de grande interesse foi o fato de que alguns dos ISGs exibiram controle sobre vírus não relacionados, como a gripe sazonal, o Nilo Ocidental e o HIV, que leva à Aids”.

Segundo Laura Martin-Sancho, pós-doutoranda no laboratório Chanda e primeira autora do artigo, pontos alvos de possíveis abordagens terapêuticas também foram descobertos. “Identificamos oito ISGs que inibem a replicação do Sars-CoV-1 e do Sars-CoV-2 no compartimento subcelular responsável pelo empacotamento da proteína Spike (que ajuda o vírus a entrar nas células humanas), sugerindo que esse local vulnerável pode ser explorado para limpar a infecção viral”, disse. “Essa é uma informação importante, mas ainda precisamos aprender mais sobre a biologia do vírus e investigar se a variabilidade genética dentro desses ISGs se correlaciona com a gravidade da covid-19.”

Como uma próxima etapa, os pesquisadores examinarão a biologia das variantes do Sars-CoV-2 que continuam a evoluir e ameaçam a eficácia da vacina. Martin-Sancho observa que já começaram a coletar variantes para a investigação laboratorial.

“É de vital importância não tirar o pé do pedal dos esforços de pesquisa básica agora que as vacinas estão ajudando a controlar a pandemia”, conclui Chanda. “Chegamos tão longe tão rápido por causa do investimento em pesquisa fundamental na Sanford Burnham Prebys e em outros lugares, e nossos esforços contínuos serão especialmente importantes quando, não se, outro surto viral ocorrer.”

Ação indireta no cérebro
O Sars-CoV-2 provavelmente não infecta diretamente o cérebro, mas ainda pode causar danos neurológicos significativos, de acordo com um novo estudo de neuropatologistas, neurologistas e neurorradiologistas do Colégio de Médicos e Cirurgiões Vagelos da Universidade de Columbia. “Tem havido um debate considerável sobre se esse vírus infecta o cérebro, mas não fomos capazes de encontrar qualquer sinal dele dentro das células cerebrais de mais de 40 pacientes com covid-19”, disse James E. Goldman, que liderou o estudo. “Ao mesmo tempo, observamos muitas mudanças patológicas nesses cérebros, o que poderia explicar por que pacientes gravemente enfermos apresentam confusão e delírio e outros efeitos neurológicos graves e por que aqueles com casos leves podem apresentar ‘névoa cerebral’ por semanas e meses.”

O estudo, publicado na revista Brain, é o maior e mais detalhado relatório de autópsias cerebrais de pacientes com covid publicado até o momento. Ele sugere que as alterações neurológicas frequentemente vistas nesses pacientes podem resultar de inflamação desencadeada pelo vírus em outras partes do corpo ou nos vasos sanguíneos do cérebro.

Patologias
Apesar da ausência de vírus no cérebro, em todos os pacientes, os pesquisadores encontraram patologias significativas, que geralmente se enquadravam em duas categorias. A primeira é a da hipóxia, quando a morte celular se dá por falta de oxigênio, o que condiz com o quadro clínico, pois todos apresentavam doença pulmonar grave.

Uma descoberta mais surpreendente foi o grande número de microglias — células imunes que residem no cérebro e podem ser ativadas por patógenos. Os cientistas encontraram grupos de neurônios atacando a microglia, um processo conhecido como neuronofabia. “Como nenhum vírus foi encontrado no cérebro, é possível que o processo tenha sido desencadeado por citocinas inflamatórias, como a interleucina-6, associada à infecção por Sars-CoV-2”, cogitou Goldman.

 
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