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REAÇÃO

Protestos prosseguem na Bolívia após reeleição de Morales

Por: AFP

Publicado em: 25/10/2019 18:45

Em toda La Paz havia pessoas gritando "Meu voto se respeita! Meu voto se respeita!". (Foto: Daniel Walker/AFP

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Em toda La Paz havia pessoas gritando "Meu voto se respeita! Meu voto se respeita!". (Foto: Daniel Walker/AFP )
Os protestos prosseguiam nesta sexta-feira (25) na Bolívia, com interrupções de ruas, manifestações e confrontos, um dia depois da reeleição de Evo Morales em um questionado primeiro turno, que levou Estados Unidos e União Europeia, entre outros, a pedir a realização de um segundo turno para dissipar as dúvidas sobre a lisura do pleito.

Uma paralisação parcial ocorria nesta sexta em La Paz, com um protesto pacífico contra a votação que, por uma estreita margem, deu a Morales um novo mandato de cinco anos, sem a necessidade de disputar o segundo turno com o opositor Carlos Mesa.

Alvo de críticas, o Supremo Tribunal Eleitoral (TSE) apurou 99,99% dos votos, dando a Morales a vitória com 47,07% contra 36,51% (10,56 pontos de diferença) de Mesa.

A lei boliviana estabelece que um candidato seja declarado vencedor no primeiro turno se obtiver pelo menos 40% dos votos com 10 pontos de vantagem sobre o segundo colocado.

A controvérsia sobre os resultados se concentra na interrupção inesperada da contagem rápida de votos, chamada TREP. 

Inicialmente, os primeiros resultados parciais na noite de domingo, dia da eleição, indicavam a tendência de haver um segundo turno. A retomada da apuração, mais de 20 horas depois, mostrou uma drástica e inexplicável mudança dessa tendência a favor de Morales, gerando suspeitas de fraude entre a oposição e os observadores internacionais.

Protestos em várias cidades
Em toda La Paz havia pessoas com bandeiras bolivianas (nas cores vermelha, amarela e verde), gritando "Meu voto se respeita! Meu voto se respeita!", um dia depois de Mesa denunciar que ocorreu uma "fraude" nas eleições gerais de domingo.

No bairro de Achumani, zona sul da capital, manifestantes repetiam "Evo de novo! Evo de novo!".

Em vários bairros havia presença de policiais, em particular em praças ou rotatórias, para impedir que interrupções das vias.

Os poucos ônibus que funcionavam buscavam vias alternativas para circular da periferia até o centro de La Paz, que estava em completa calma. Os bancos funcionavam normalmente, assim como escritórios públicos e empresas.

Embora no centro as lojas estivessem abertas, nos bairros muitos estabelecimentos comerciais baixaram as portas, principalmente por causa dos bloqueios nas ruas.

Nas cidades de Santa Cruz (leste), Sucre (sudeste), Cochabamba (centro) e Potosí (sudoeste) também prosseguia uma greve convocada pela oposição, que insiste em um segundo turno.

Em Santa Cruz, principal reduto da oposição, os supermercados abriram as portas apenas por algumas horas, o que permitiu a centenas de pessoas comprar comida.

"Agora a paralisação está indefinida. O que nós queremos é o segundo turno porque está demonstrado que isto foi uma fraude", disse à AFP o professor Rubén López, de 62 anos.

Em Cochabamba, houve confrontos entre manifestantes governistas e opositores, sem deixar feridos, segundo veículos locais.

Pedidos de segundo turno
Morales retomou nesta sexta suas atividades públicas, após proclamar vitória na quinta, e foi inaugurar obras em povoados rurais, onde agradeceu o apoio dos camponeses na votação.

"Respeitamos e saudamos o voto urbano, do exterior, mas o voto da zona rural garantiu o processo de mudança. Portanto, o desenvolvimento do povo boliviano. Muito obrigado pelo apoio e agora temos que continuar trabalhando pelo bem da sociedade", declarou o presidente indígena, no poder desde 2006, diante da multidão que o aclamava.

Morales, que neste sábado completa 60 anos, foi parabenizado por camponeses que lhe deram bolo e cantaram "feliz aniversário".

México e Cuba saudaram o presidente por sua reeleição, mas União Europeia, Estados Unidos, Brasil, Argentina e Colômbia ergueram suas vozes contra a questionada votação e exigiram um segundo turno para dissipar as dúvidas sobre a transparência do processo eleitoral.

A missão de observação eleitoral da Organização de Estados Americanos (OEA) também recomendou um segundo turno como a melhor opção para dirimir a disputada contenda.

E o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse nesta sexta que apoia "plenamente" que a OEA realize uma auditoria dos controversos resultados eleitorais.

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, pediu para se "reconhecer a legitimidade" do colega, em um discurso na abertura da cúpula do Movimento de Países Não Alinhados em Baku, capital do Azerbaijão.

"Vai toda a nossa solidariedade para o povo da Bolívia e, muito especialmente, para o irmão presidente Evo Morales Ayma", disse Maduro, ao pedir aos Não Alinhados a "reconhecer a legitimidade da vitória de Evo Morales Ayma na Bolívia contra as forças colonialistas".

Em Genebra, o escritório das Nações Unidas para os Direitos Humanos mostrou-se preocupado pelos "informes de violência" e os informes de que "a polícia usa a força contra os manifestantes" com bombas de gás lacrimogênio "que podem violar princípios básicos no uso da força".
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