Durante a tarde os atos foram pacíficos, mas houve violência pela manhã, quando grupos indígenas tentaram se aproximar do palácio de Carondelet, sede do governo nacional - foto: Marcos PIN / AFP./
No sétimo dia de protestos no Equador, duas grandes manifestações "pela democracia e pela paz" aconteceram em Quito e em Guayaquil, convocadas por organizações sociais e com a presença de membros da oposição ao presidente Lenín Moreno.
Os atos desta quarta (9), que também marcou a realização de uma greve geral, criticaram a repressão violenta contra indígenas, que chegaram a tomar por um curto período a Assembleia Nacional do país.
Pela tarde, na avenida de Los Shyris, tradicional local de manifestações na capital equatoriana, havia centenas de pessoas abraçadas a bandeiras do Equador e soprando cornetas. Em Guayaquil, para onde a sede do governo foi transferida na segunda (7), opositores como Jaime Nebot e Cinthya Viteri comandavam uma marcha.
Se durante a tarde os atos foram pacíficos, houve violência pela manhã, quando grupos indígenas tentaram se aproximar do palácio de Carondelet, sede do governo nacional. O grupo, porém, foi barrado algumas quadras antes pela polícia, que lançou bombas de gás lacrimogêneo. Após uma semana de atos, o saldo das manifestações é de 700 pessoas detidas e duas mortes.
Durante todo o dia, o centro permaneceu com ruas bloqueadas e muito policiamento. Em outras áreas, mais afastadas das vias centrais, Quito parece uma cidade fantasma. O comércio está fechado, e apenas alguns pequenos mercados abriram.
Num ponto de ônibus de Cumbayá, no caminho entre o aeroporto internacional Marechal Sucre até o centro de Quito, oito pessoas se acotovelavam na traseira de uma caminhonete. "Não tem ônibus e preciso ir trabalhar", disse à reportagem Danny Lescano, 27, ao subir no veículo e garantir o único lugar vago que havia.
Fora alguns poucos táxis, não havia transporte público na capital, e quem tinha um veículo um pouco maior aproveitou para ganhar uns trocados.
O trânsito infernal e o ruidoso comércio de rua que sempre caracterizaram Quito desapareceram. Poucas pessoas caminhavam nas rua, exceto aquelas que se dirigiam à marcha.
Crianças brincavam nas ruas, e adolescentes em grupos iam de bicicleta ou caminhando até a concentração. "Acho importante apoiar os indígenas, o Equador nunca será um país melhor e mais igualitário se suas vozes não forem ouvidas", disse Romina Figueras, 19, que pedalava pela avenida de los Shyris com uma bandeira amarrada na bicicleta.
Os colégios suspenderam as aulas há mais de uma semana, e vai trabalhar apenas quem pode -o setor público está praticamente paralisado.
Desde o dia 3, manifestantes protestam contra medidas de austeridade do governo que provocam a pior agitação no Equador em anos.
O levante ocorre devido a um acordo assinado em fevereiro com o FMI (Fundo Monetário Internacional), que garantirá um empréstimo de US$ 4,2 bilhões (R$ 17,05 bilhões) ao país. Em contrapartida, o governo tem de adotar medidas austeras, como o corte de um subsídio a combustíveis em vigor há 40 anos.
A decisão gerou um aumento de até 123% nos preços da gasolina e do diesel e revoltou a população. Na terça, Moreno afirmou novamente que não voltará atrás no corte dos subsídios e negou que vá renunciar.