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Robert Mugabe, ex-presidente do Zimbábue, morre aos 95 anos

Por: AFP

Publicado em: 06/09/2019 14:39

Foto: Alexander Zoe/AFP
O ex-presidente do Zimbábue Robert Mugabe, herói da independência que governou o país africano com mão de ferro entre 1980 e 2017 e afundou sua economia, faleceu aos 95 anos.

Um dos últimos "pais da independência" na África, que apresentava problemas de saúde, Mugabe morreu nesta sexta-feira em Singapura, para onde viajava com frequência para tratamentos médicos, afirmou uma fonte diplomática do Zimbábue.

O sucessor de Mugabe, Emmerson Mnangagwa, viajou para Harare a partir da Cidade do Cabo, África do Sul, onde  participava no Fórum Econômico Mundial África, segundo a mesma fonte.

"Com uma profunda tristeza, anuncio a morte do pai fundador do Zimbábue e ex-presidente, o comandante Robert Mugabe", anunciou mais cedo Mnangagwa, que o sucedeu em 2017 após um golpe de Estado militar.

"O comandante Mugabe era um ícone da libertação, um pan-africano que dedicou sua vida à emancipação [...] de seu povo. Sua contribuição para a história de nossa nação e de nosso continente jamais será esquecida. Que sua alma descanse em paz", completou o presidente no Twitter.

A morte provocou diversas reações

O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, cujo país mantém relações estreitas com Zimbábue, elogiou um "combatente da libertação e defensor da causa da África contra o colonialismo".

Robert Mugabe tem seu "lugar nos anais da história africana por seu combate pela libertação da África e por sua defesa corajosa do continente", afirmou o presidente de Zâmbia, Edgar Lungu.

O governo da China destacou um "dirigente excepcional, que defendeu firmemente a soberania de seu país" e se opôs às interferências externas.

Mugabe assumiu o controle da então Rodésia após sua independência em 1980. Durante os 37 anos à frente do Zimbábue, um dos períodos mais longos de governo do continente africano, passou de herói da independência e amigo do Ocidente a tirano que provocou o colapso econômico do país.

Com menos elogios, o governo do Reino Unido recordou que os zimbabuanos "sofreram por muito tempo sob seu reinado autocrático" e espera que agora o país possa "seguir um caminho mais democrático e próspero".

No Zimbábue, a população prosseguia as atividades nesta sexta-feira em ritmo normal. 

"Como líder, a única coisa que fez de ruim foi permanecer muito tempo no poder", declarou Joshua Tsenzete, morador de de Harare.

"Nos libertou dos colonos e nos deu terras", elogiou outro habitante da capital, Goerge Bindu.

O "camarada Bob"

Recebido como libertador em 1980, sua política de reconciliação em nome da unidade do país rendeu muitos elogios, especialmente no exterior.

Mas rapidamente o herói mostrou sua linha dura aos opositores.

Os abusos contra a oposição, as fraudes eleitorais e sobretudo a violenta reforma agrária iniciada em 2000, que levou o país a uma terrível crise econômica que persiste até hoje, foram muito criticadas no Ocidente.

O "camarada Bob", considerado durante muito tempo alguém insuperável, foi abandonado progressivamente por pessoas que eram leais as seu regime.

No fim de 2017, após um golpe de Estado do exército apoiado por seu partido (Zanu-PF), o então chefe de Estado mais longevo do planeta se viu obrigado a renunciar.

Ele foi substituído no comando do país por seu ex-vice-presidente Emmerson Mnangagwa, que havia destituído pouco tempo antes. 

Um grande provocador, acostumado a métodos impactantes, Robert Mugabe foi alvo com frequência tanto da indignação de seus detratores como dos aplausos de seus partidários.

Desde sua renúncia, o idoso com saúde frágil fez poucas aparições públicas. Nos últimos anos, sofreu algumas quedas em público.

De acordo com a imprensa do Zimbábue, Mugabe fez diversas viagens médicas a Singapura, cidade-Estado que visitou muitas vezes nos últimos anos.
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