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Reino Unido

Parlamento britânico entrará em recesso em pleno bloqueio do Brexit

Por: AFP

Publicado em: 09/09/2019 10:42

Lorraine O'Sullivan/AFP
O primeiro-ministro Boris Johnson suspenderá os trabalhos do Parlamento britânico nesta segunda-feira à noite, após a previsível rejeição a sua nova proposta de eleições antecipadas ante um bloqueio do Brexit que exaspera cada vez mais os sócios europeus.

"O Parlamento será suspenso ao final da sessão de hoje e até 14 de outubro", anunciou o porta-voz de Downing Street, inclusive se os deputados da oposição rejeitarem novamente uma moção do governo para convocar eleições legislativas em outubro, que requer a aprovação de dois terços da Câmara.

Johnson chegou ao poder em julho como sucessor de Theresa May e com a promessa de retirar o Reino Unido da União Europeia em 31 de outubro a qualquer custo.

Mas diante do temor de um caótico Brexit sem acordo, os legisladores apresentaram a aprovaram em caráter de urgência na semana passada uma lei que obriga o governo a pedir um novo adiamento se, até 19 de outubro, não alcançar um pacto aceitável com Bruxelas ou receber a autorização do Parlamento para uma saída brutal.

Johnson expulsou do partido 21 rebeldes conservadores que votaram contra seu governo e perdeu a maioria parlamentar.

Enfraquecido e obrigado a romper com sua grande promessa, o chefe de Governo esperava que eleições antecipadas resultassem em um novo mandato antes do Conselho Europeu de 17 e 18 de outubro, do qual esperava retornar com um novo acordo com a UE.

Mas os 27 países do bloco afirmam que a renegociação que Johnson anunciou com pompa e circunstância em Londres não existe, apenas contatos nos quais os britânicos não apresentaram alternativas reais ao Tratado de Retirada assinado por May em novembro e rejeitado três vezes pelo Parlamento.

A UE não recebeu até o momento nenhuma proposta "realista" de Londres, afirmou nesta segunda-feira o primeiro-ministro irlandês Leo Varadkar em Dublin, durante uma entrevista coletiva conjunta com Johnson, que fez sua primeira visita como chefe de Governo ao país vizinho.

"Estamos abertos a alternativas, mas devem ser realistas (...) Não recebemos até o momento nenhuma proposta deste tipo", completou.

"Temos tempo" e "entusiasmo"
Johnson pediu a Bruxelas para eliminar do Tratado de Retirada a denominada "salvaguarda irlandesa", um mecanismo complexo para evitar uma nova fronteira na ilha da Irlanda que ameace o frágil acordo de paz de 1998 que encerrou três décadas de conflito violento na Irlanda do Norte.

O Executivo britânico propõe a substituição por "ajustes alternativos", mas de acordo com os sócios europeus ainda precisa definir em que consistiriam as propostas.

"Se nos concentrarmos, acredito que podemos fazer um grande progresso", afirmou Johnson em Dublin. "Apresentaremos ideais, temos tempo para fazer e vamos abordar com muito entusiasmo", completou.

Os pedidos de demissão não param de acontecer no governo de Johnson, que tem apenas sete semanas: na quinta-feira seu irmão mais novo, Jo Johnson, renunciou alegando o "interesse nacional" e no sábado foi a vez da ministra do Trabalho, Amber Rudd.

Neste cenário, novas eleições poderiam ajudar o primeiro-ministro a retomar sua força.

Mas a oposição, que há meses defendia eleições, vê agora o risco de que os eleitores pró-Brexit, exasperados com um processo que já dura mais de três anos e deveria ter sido concluído em março, reforcem o Partido Conservador para que não seja obrigado a solicitar um terceiro adiamento.

Os trabalhistas poderiam aceitar eleições após a solicitação de adiamento e sua aprovação pela UE, porque este cenário levaria Johnson a disputar o pleito depois de não ter conseguido cumprir sua grande promessa de Brexit a qualquer custo.

Adiamento "desnecessário"
Johnson repetiu no domingo que se nega a aceita "qualquer adiamento desnecessário" do Brexit, aprovado por 52% dos britânicos no referendo de junho de 2016.

O primeiro-ministro "não tem absolutamente nenhuma intenção" de pedir tempo adicional no Conselho Europeu de 17 e 18 de outubro, afirmou o ministro das Finanças, Sajid Javid.

Neste cenário, a oposição teme que Johnson ignore a lei que bloqueia uma saída sem acordo - que aguarda apenas a aprovação da rainha - e que o caso termine nos tribunais.

Um novo adiamento precisa ser aprovado por unanimidade pelos outros 27 Estados membros da UE e no momento a França não parece estar convencida.

O chanceler francês, Jean-Yves le Drian, advertiu que nas "circunstâncias atuais" a resposta de Paris seria "não".
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