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Em meio a indefinição do brexit, presidente da Câmara dos Comuns renuncia

Por: FolhaPress

Publicado em: 09/09/2019 14:33 | Atualizado em: 09/09/2019 16:10

Foto: Arquivo / AFP
John Bercow, presidente da Câmara dos Comuns do Reino Unido, anunciou sua renúncia nesta segunda-feira (9) após 10 anos no cargo.
 
Conhecido pelas gravatas coloridas e pelos gritos de "ordem" com os quais tentava controlar os debates parlamentares, ele ganhou fama internacional ao entrar em confronto com os governos do atual premiê, Boris Johnson, e de sua antecessora, Theresa May.
 
Ao permitir que os parlamentares tomassem o controle da Casa contra a vontade do Executivo, especialmente durante as discussões sobre o brexit, Bercow acabou se tornando alvo de críticas do Partido Conservador e de elogios da oposição trabalhista.
 
Essa situação contrastava com o passado do deputado, que era membro dos conservadores até ser eleito presidente da Câmara -a tradição do Parlamento britânico estabelece que o titular do cargo não pode ser filiado a um partido.
 
Em pronunciamento perante os deputados, Bercow afirmou que a princípio deixará o cargo no próximo dia 31 de outubro, mesma data em que o país deve deixar a União Europeia. Mas caso o país tenha uma nova eleição antes disso, ele deixará o cargo antes do pleito.
 
Os parlamentares devem votar ainda nesta segunda uma proposta do premiê Boris Johnson para realizar novas eleições no dia 15 de outubro, mas a tendência é que ela não seja aprovada, já que a oposição é contra -são necessários dois terços dos votos na Casa para o projeto avançar.
 
Minutos antes do pronunciamento, que ocorreu por volta das 11h30 (horário de Brasília) desta segunda, a rainha Elizabeth 2ª havia aprovado a lei que impede Boris Johnson de tirar o país da União Europeia sem um acordo de saída.
 
A sanção da Coroa era a última etapa que faltava para que o projeto tivesse validade. O consentimento real foi anunciado na câmara alta do parlamento, a Câmara dos Lordes.
A lei, feita às pressas pelos deputados na última semana, buscou driblar a manobra do premiê, que fechará o Parlamento por cinco semanas a partir da noite desta segunda-feira.
 
Bercow, o primeiro judeu a comandar a Câmara dos Comuns, foi integrante da ala mais radical do Partido Conservador durante sua juventude, defendendo inclusive a expulsão de imigrantes do país.
 
Com o tempo, porém, se distanciou desse movimento e descreveu suas próprias posições na época como "estúpidas". Suas posições políticas migraram para a esquerda e ele até mesmo se casou com uma ativista trabalhista, Sally.
 
No domingo (8), a imprensa britânica afirmou que os conservadores pretendiam inclusive apresentar um candidato para concorrer contra Bercow em seu distrito eleitoral, em Buckingham, nas próximas eleições.
 
Tradicionalmente ninguém concorre contra o presidente da Câmara, que também costuma ser reeleito indefinidamente.
 
Segundo o The Guardian, a violação da convenção de longa data foi anunciada pela conservadora Andrea Leadsom, que acusou Bercow de violar as regras do parlamento, permitindo que os parlamentares assumam o controle dos negócios da Câmara dos Comuns. "Devolva-nos um presidente imparcial", disse Leadsom.
 
Nesta segunda, ao anunciar sua renúncia, John Bercow foi ovacionado pelos deputados presentes. Apesar da tradição do Parlamento britânico pedir que os membros se abstenham de bater palmas durante as sessões, o decoro foi quebrado entre discursos de parlamentares que elogiavam a trajetória do presidente.
 
O Partido Conservador vive um racha nas últimas semanas, pois parte de seus integrantes discorda da abordagem agressiva para o brexit defendida por Boris.
 
Com isso, parlamentares governistas se uniram a opositores e passaram a votar contra propostas do premiê. Como resposta, Boris expulsou 21 nomes do partido.
 
Nos últimos dias, dois integrantes importantes do governo deixaram os cargos: Jo Johnson, irmão de Boris, que era ministro de Negócios, e a secretária de Trabalho e Previdência do Reino Unido, Amber Rudd. Há a expectativa de que mais nomes renunciem.

O QUE PODE ACONTECER COM O BREXIT
 
Saída sem acordo 
 
O Parlamento aprovou uma lei que proíbe uma saída sem acordo. No entanto, o governo pode questioná-la na Justiça. Há também temores de que Boris simplesmente ignore a norma e force a retirada no prazo previsto, 31 de outubro

Adiamento do brexit 
 
A lei aprovada pelo Parlamento prevê adiamento do brexit em 90 dias se não houver acordo até 19 de outubro. No entanto, o atraso depende de aval da UE

Novas eleições
 
O governo tentará votar de novo a antecipação das eleições gerais nesta segunda-feira (9). Uma nova ida às urnas pode funcionar como um 2º referendo sobre o brexit
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