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Estamos abertos para negócios, não à venda, diz Groenlândia a Trump

Por: FolhaPress

Publicado em: 17/08/2019 10:04

Foto: AFP (Foto: AFP)
Foto: AFP (Foto: AFP)
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Groenlândia disse nesta sexta (16) que está aberta para negócios com os Estados Unidos, mas não à venda, após Donald Trump ter discutido com assessores a ideia de comprar a maior ilha do mundo para expandir o território americano.
"A Groenlândia é rica em recursos valiosos. Estamos abertos aos negócios, não à venda", afirmou a ministra de Relações Exteriores do território, Ane Lone Bagger.
A Groenlândia, território autônomo dinamarquês entre os oceanos Atlântico e Ártico, é uma das áreas habitadas mais frias do mundo. Depende do apoio econômico da Dinamarca, que também cuida de sua defesa e política externa, mas tem autonomia para resolver assuntos internos.
A ideia da compra foi recebida como piada por alguns conselheiros do presidente americano, mas levada a sério por outros, informou o jornal The Washington Post.
O interesse foi inicialmente noticiado pelo jornal The Wall Street Journal. O presidente Harry Truman (1945-1953) já se dispusera a comprar a ilha, em 1946, por US$ 100 milhões.
Trump deve visitar Copenhague em setembro, e o Ártico estará em pauta nas reuniões com os primeiros-ministros da Dinamarca e da Groenlândia. Mas não há indicações de que a compra do território esteja na agenda.
Políticos dinamarqueses fizeram troça da ideia nesta sexta. "Tem que ser uma piada de 1º de abril fora de época", afirmou o ex-primeiro-ministro Lars Lokke Rasmussen.
"Se ele realmente está contemplando isso, é a prova final de que enlouqueceu", disse Soren Espersen, porta-voz do Partido Popular Dinamarquês, de ultradireita. "A ideia de a Dinamarca vender 50 mil cidadãos para os EUA é completamente ridículo."
"Oh, querido Senhor. Como alguém que ama a Groenlândia, esteve lá nove vezes e ama o povo, esta é uma catástrofe total e completa", disse o ex-embaixador dos EUA na Dinamarca, Rufus Gifford.
A Groenlândia tem recebido atenção de superpotências, incluindo China, Rússia e EUA, devido à localização estratégica e a seus recursos minerais.
Em maio, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disse que a Rússia estava se comportando de forma agressiva no Ártico e que as ações da China também deveriam ser vigiadas de perto.
Tratado de defesa assinado com a Dinamarca em 1951 atribui direitos militares dos EUA sobre a Base Aérea de Thule, no norte da Groenlândia.
Trump pressionou seus principais assessores para investigarem se os EUA poderiam comprar a gigantesca ilha, afirmaram duas fontes com conhecimento da situação ao Washington Post, sob condição de anonimato.
O pedido deixou os assessores desconcertados, e alguns continuavam acreditando que não era sério, mas Trump o mencionou durante semanas.
Tal como se dá com muitas divagações do republicano, assessores esperam mais orientações antes de decidir se analisam o assunto seriamente.
Um dos temas discutidos é, caso seja legal, qual seria o processo para adquirir uma ilha que tem governo próprio e população, e de onde viria o dinheiro para comprar a enorme massa de terra.
Segundo o World Factbook, da CIA, a Groenlândia tem 2,2 milhões de km², 78% dos quais cobertos de gelo –os EUA tem 9,8 milhões de km².
Possui recursos naturais como carvão e urânio, mas só 0,6% da terra é usada para agricultura. E tem 58 mil habitantes –um dos menores países do mundo em população.
Normalmente, o Congresso americano precisa aprovar o direcionamento de dinheiro antes que a Casa Branca possa usá-lo, mas Trump já demonstrou disposição para contornar essas restrições.
Nos EUA, alguns na noite de quinta (15) responderam às notícias com incredulidade; outros, com apoio. "A ideia não é tão louca quanto parece na manchete", tuitou o deputado republicano Mike Gallagher (Wisconsin). "É um movimento geopolítico inteligente."
A maioria, no entanto, respondeu com zombaria. O deputado democrata Steve Cohen, do Tennessee, sugeriu: "Um ótimo lugar para sua 'biblioteca presidencial'".
Jonah Goldberg, do Instituto Americano de Empresas, tuitou que MAGA (o slogan "Make America Great Again") é "anagrama de Make Greenland American Already" [Faça a Groenlânda Americana Já].
Esta não é a primeira vez que os EUA mostram interesse em um território gelado. Em 1867, o país comprou o Alasca da Rússia por US$ 7,2 milhões (US$ 100 milhões nos valores de hoje). De acordo com informações da BBC, à época a compra era considerada uma loucura, mas acabou se mostrando um dos melhores negócios da história dos EUA.
Em meados do século 20, enormes reservas de petróleo foram encontradas ao norte do Alasca. A exploração rende milhares de dólares à região.
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