Conflito

Guaidó adverte que pressão contra Maduro na Venezuela está 'só começando'

Por: AFP

Publicado em: 05/03/2019 18:52

Reconhecido como presidente interino por mais de 50 países, Guaidó se reuniu com  dirigentes sindicais. Foto: Federico PARRA / AFP
O líder opositor venezuelano Juan Guaidó advertiu nesta terça-feira (5) que a pressão contra o governo de Nicolás Maduro está "só começando" e anunciou uma greve "escalonada" de funcionários públicos, um dia depois de seu desafiador retorno ao país, após ter burlado uma proibição de saída.

Reconhecido como presidente interino por mais de 50 países, Guaidó se reuniu com  dirigentes sindicais apostando que os funcionários públicos apoiem os seus esforços para retirar Maduro do poder.

"Achavam que a pressão máxima havia chegado. Saibam claramente que a pressão está só começando", lançou Guaidó após o encontro em Caracas.

O também chefe do Parlamento conseguiu reativar os protestos e estreitar o cerco diplomático contra Maduro. 

"Aqui está o presidente interino da Venezuela dando a cara aos trabalhadores, ao trabalho com dignidade, sem que lhe deem nada em troca", acrescentou Guaidó, que promove um "governo de transição e eleições livres".

Como parte da pressão com o presidente socialista, o legislador de 35 anos busca agora arrebatar-lhe o controle da burocracia estatal, que considera "sequestrada pelas chantagens e perseguições".

Segundo Guaidó, os representantes dos trabalhadores lhe propuseram avançar para uma "greve escalonada na administração pública", embora não tenha dado detalhes.

Durante a era chavista, o setor público chegou a ter entre 4 e 4,5 milhões de funcionários, mas essa cifra pode ter sido reduzida devido à grave crise econômica, que inclui uma contração do PIB de 50% desde 2014, hiperinflação e escassez de bens básicos.

- 'Mergulhados em contradições' -
Com o tom desafiador após a sua multitudinária recepção na segunda-feira em sua chegada a Caracas, Guaidó disse que o silêncio oficial diante do seu retorno mostra as contradições no círculo do "ditador", como se refere a Maduro.

"Estão mergulhados em contradições. Não sabem como responder ao povo da Venezuela", disse Guaidó a jornalistas ao ser questionado sobre como explica não haver qualquer reação por parte do governo de Maduro ao seu retorno.

Antes da sua volta a Caracas, Maduro havia declarado que Guaidó teria que encarar a Justiça por ter evadido a proibição de saída do país.

O governo participa nesta terça de uma homenagem pelo aniversário da morte de seu antecessor, Hugo Chávez (1999-2013).

"Comandante Chávez (...), obrigado pelos seus ensinamentos e, com seu exemplo, hoje continuamos em permanente luta contra os inimigos que tentaram apagar a sua voz tantas vezes. Viverás para sempre em cada vitória!", escreveu Maduro no Twitter.

- Setor público paralisado -
Guaidó quer elevar a pressão interna para retirar Maduro, depois que o Grupo de Lima - composto pelo Canadá e por uma dúzia de países latino-americanos - descartou o seu apoio a uma intervenção militar, alternativa que o governo de Donald Trump mantém sobre a mesa.

Para isso, pretende virar ao seu favor os funcionários públicos. Contudo, o governo conserva a sua influência em boa parte da cúpula sindical.

"A greve escalonada é uma proposta dos trabalhadores públicos para que nunca mais trabalhem para a ditadura", sustentou em entrevista coletiva, na qual anunciou uma lei para proteger os funcionários de eventuais demissões.

Da reunião nesta terça participaram sindicalistas petroleiros, das indústrias básicas, governações, prefeituras, hospitais e a banca pública, entre outros, disse à AFP a dirigente Ana Yánez.

Os sindicatos ainda não anunciaram quando ou quais setores farão essas greves e acordaram se reunir nos dias seguintes com o Parlamento.

"A administração pública está praticamente paralisada. Nas prefeituras vão trabalhar somente três vezes por semana e apenas meio período", comentou Yánez.

O salário mínimo na Venezuela é de 18.000 bolívares por mês (cerca de seis dólares), que apenas dá para dois quilos de carne, devido à hiperinflação que o FMI projetou em 10.000.000% para 2019.
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