Mundo Trump lança nova estratégia com Irã ao não certificar acordo nuclear Presidente iraniano rebateu, afirmando que os Estados Unidos estão sozinhos contra o acordo nuclear e no complô contra o Irã

Por: AFP - Agence France-Presse

Publicado em: 13/10/2017 18:53 Atualizado em:

O presidente americano, Donald Trump, lançou nesta sexta-feira uma nova estratégia com o Irã ao prometer enfrentar o "fanático regime" e não certificar o acordo nuclear internacional alcançado em 2015, que ameaçou abandonar a qualquer momento. Em um discurso televisionado na Casa Branca que fez referências à Revolução Islâmica de 1979, Trump criticou o comportamento da "ditadura iraniana" no Oriente Médio e afirmou que Teerã é "o principal patrocinador do terrorismo no mundo". "Anuncio que não podemos, nem faremos essa certificação", declarou o presidente. "Não seguiremos por um caminho cujo final previsível é mais violência e terror, e a verdadeira ameaça de um Irã nuclear".

Sua retórica bélica foi rechaçada imediatamente pelo presidente da República Islâmica, Hassan Rohani, que assegurou que os "Estados Unidos estão mais sozinhos do que nunca contra o acordo nuclear e mais sozinhos do que nunca em seus complôs contra o povo iraniano". "O acordo nuclear não é modificável, não lhe pode acrescentar nem um artigo, nem uma nota", afirmou o dirigente. Trump "não leu o direito internacional (...). Aparentemente não sabe que este acordo não é um acordo bilateral entre Irã e Estados Unidos".

Embora os Estados Unidos não tenham deixado o acordo, a guinada estratégica de Trump pode abrir um período de incertezas ao não seguir o posicionamento da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), que até agora confirmou que Teerã cumpre com seus compromissos. O acordo, que também foi assinado por França, Reino Unido, Alemanha, Rússia e China, tem o objetivo de garantir o caráter exclusivamente civil do programa nuclear iraniano.

- Revisão contínua -

O presidente americano, que reafirmou as "agressões" do Irã nos conflitos que afetam o Oriente Médio, destacou que o acordo fracassou ao abordar o seu papel na região e o seu programa ilegal de mísseis. E apoiou os esforços do Congresso para conseguir novas medidas diante das ameaças que Teerã apresenta sem prejudicar o acordo de forma geral. "De todas as formas, no caso de não sermos capazes de alcançar uma solução com o Congresso e nossos aliados, o acordo acabará", advertiu. O acordo, aprovado durante a presidência de Barack Obama, "é revisado continuamente e eu, como presidente, posso cancelar a nossa participação a qualquer momento", assegurou Trump.

Paralelamente à declaração presidencial, o Departamento do Tesouro revelou medidas econômicas contra os Guardiões da Revolução, o Exército de elite iraniano, por meio de uma ordem executiva de 2001 e acrescentou quatro empresas em sua lista negra. Trump evitou chamar este corpo de grupo terrorista. Além de estar envolvido na economia e no programa balístico iraniano, os Guardiões da Revolução são acusados de ajudar o Hezbollah no Líbano, os huthis no Iêmen e as milícias xiitas na Síria e no Iraque. "Consideramos que há riscos e complexidades na hora de designar todo um Exército", explicou Tillerson.

- A favor e contra -

A comunidade internacional fervilhou depois do anúncio de Trump. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyhu, comemorou a "valente decisão do presidente americano no momento de "enfrentar o regime terrorista iraniano". A Arábia Saudita se manifestou na mesma linha, celebrando a "estratégia firme" dos Estados Unidos. França, Alemanha e Reino Unido emitiram um comunicado conjunto no qual se declararam "comprometidos" com o acordo nuclear. "Estimulamos o governo e o Congresso americano a levar em conta as implicações que sua decisão teria para a segurança dos Estados Unidos e de seus aliados", destacaram.

A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, também garantiu que Trump "não tem" o poder de acabar com o pacto. O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, respondeu "a nossos amigos e aliados na Europa": "acredito que tenhamos uma oportunidade real de abordar as ameaças que o Irã supõe". A Rússia denunciou a estratégia do presidente americano e considerou que o pacto continua intacto. O secretário-geral da ONU, António Guterres, manifestou a esperança de que o acordo sobreviva, considerando-o "uma conquista muito importante para consolidar a não-proliferação nuclear e avançar para a paz e a segurança globais".

A China se posicionou quase nos mesmos termos horas antes do discurso de Trump, assinalando que o acordo é "importante para assegurar o regime internacional de não-proliferação nuclear" e "a paz e estabilidade da região". A principal negociadora americana do texto na era Obama, Wendy Sherman, disse que "a inquietante política estrangeira do Irã é precisamente a razão pela qual o acordo é necessário". "Um Irã dotado de uma arma nuclear seria muito mais ameaçador para a segurança regional e mundial", escreveu Sherman essa semana, advertindo sobre as repercussões potencialmente "desastrosas" na política estrangeira americana em caso de saída do acordo.