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Internacional Unicef diz que há milhares de crianças-soldados na República Centro-Africana A maioria dos problemas ocorrem no sudeste junto à fronteira com a República Democrática do Congo

Por: Agência EFE - EFE

Publicado em: 15/08/2017 15:32 Atualizado em:


O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) denunciou nesta terça-feira que ainda há milhares de crianças recrutadas por grupos armados na República Centro-Africana apesar do compromisso assinado em 2015 por seus líderes de não continuar a prática e libertar as que já estavam integradas.

"Lamentavelmente, não é algo novo na República Centro-Africana. Houve um ponto culminante no recrutamento em 2013. Trabalhamos duramente para libertar as crianças e colocá-las em programas de reintegração. Desde 2014, 10 mil foram libertas", disse a chefe de Comunicação do Unicef na República Centro-Africana, Donaig Le Du, em coletiva de imprensa da ONU.

"Mas, com os novos episódios de violência sabemos que há novas crianças nos grupos armados, milhares, e exigimos que os seus compromissos sejam respeitados e elas sejam libertas", afirmou.

O país vive uma nova onda de violência apesar do cessar-fogo estipulado em 19 de junho pelo governo e grupos político-militares, entre eles os ex-rebeldes Seleka, de maioria muçulmana, e as milícias anti-Balaka, com predomínio de cristãos e animistas.

A República Centro-Africana vive um complicado processo de transição desde que, em 2013, os ex-rebeldes Seleka derrubaram o presidente François Bozizé, gerando uma onda de violência sectária entre muçulmanos e cristãos que causou milhares de mortes e obrigou cerca de um milhão de pessoas a abandonar suas casas.

De acordo com Le Du, durante o último ano, e especialmente no último trimestre de 2017, a República Centro-Africana notou "um aumento dramático da violência", de modo que atualmente há algumas 600 mil pessoas deslocadas internamente, mais que as 440 mil registradas no final de abril. Também há 480 mil refugiados fora do país.

Isso significa que, atualmente, um a cada cinco centro-africanos se encontra deslocado internamente ou refugiado devido à violência. A metade desse número é composta por crianças.

A especialista do Unicef relatou que os grupos armados atuam fora da capital, Bangui, onde há calma, e também no sudoeste.

"A maioria dos problemas ocorrem no sudeste junto à fronteira com a República Democrática do Congo, o centro e o noroeste", apontou.

De acordo com Le Du, há "poucos confrontos entre os próprios grupos armados", que são uns 15, mas estes atacam a população civil e cometem graves violações dos direitos humanos e abusos, também no caso das crianças. Dois terços do país são controlados por grupos armados, disse.

"Não há nenhuma frente, os grupos tentam se posicionar para tentar tomar o controle dos recursos do país", acrescentou.

A representante do Unicef relatou que há escolas que são atacadas e saqueadas, motivos pelos quais nem professores nem crianças vão ao colégio; não há acesso aos serviços de saúde, dado que várias ONGs internacionais abandonaram as áreas pela insegurança; e os centros de saúde são ocupados e roubados, o que afeta, por exemplo, as campanhas de vacinação de crianças.