Mercado Mercosul pede para Venezuela dialogar e respeitar a democracia Venezuela qualificou a cúpula de Mendoza de "ilegal" e considerou "alarmante o permanente uso temerário do mecanismo de integração a serviço de uma política de perseguição ao governo e ao povo da Venezuela"

Por: AFP - Agence France-Presse

Publicado em: 21/07/2017 19:01 Atualizado em:

O Mercosul pediu nesta sexta-feira (21/7) para a Venezuela restabelecer a ordem institucional e o Estado de direito, numa declaração da cúpula presidencial em Mendoza, na Argetina. 
 
Os países do bloco "fazem um chamado urgente pelo fim de toda a violência e a liberação de todos os detidos por razões políticas, instando o restabelecimento da ordem institucional e a separação de poderes", disse que o texto, assinado também por Chile, Colômbia e Guiana, como países associados, e México. 

A Bolívia, também presente na cúpula como país em processo de adesão, não assinou a declaração.

"Convencidos de que a solução para a crise só poderá ser resolvida pelos venezuelanos, instam o governo e as forças opositoras da irmã República Bolivariana da Venezuela ao diálogo, que permita um acordo político digno", completa o texto.  

A crise da Venezuela dominou os debates na cúpula presidencial.

"Nossos chanceleres reconheceram formalmente a ruptura da ordem democrática", declarou o presidente Michel Temer, que assumiu a presidência rotativa do bloco. 

O documento também pede que o governo de Nicolás Maduro e a oposição "não levem a cabo nenhuma iniciativa que possa dividir ainda mais a sociedade venezuelana ou agravar conflitos institucionais" e reitera sua disposição de acompanhar um diálogo "da maneira que seus atores acharem mais conveniente". 

A Constituinte, apontada pela oposição como uma forma de manter Maduro no poder, está marcada para 30 de julho.

Pouco antes, o anfitrião argentino, Mauricio Macri, pediu a adoção de um calendário eleitoral e fez um chamado à paz e "à liberdade dos presos políticos".

"Reiteramos nossa disposição de estabelecer, em consulta com o governo e a oposição, um grupo de contato para mediar um processo de diálogo", disse, na abertura da cúpula presidencial, nesta sexta. 

A Venezuela está suspensa do Mercosul desde dezembro, devido ao descumprimento de obrigações comerciais assumidas em 2012, quando entrou no bloco.

A suspensão permanente do país foi discutida em debates anteriores à cúpula. 

Em comunicado da chancelaria, a Venezuela qualificou a cúpula de Mendoza de "ilegal" e considerou "alarmante o permanente uso temerário do mecanismo de integração a serviço de uma política de perseguição ao governo e ao povo da Venezuela".

Abertura ao mundo

Em seu discurso de abertura da sessão plenária, Temer defendeu o livre-comércio, ressaltando os bons resultados do bloco nesse sentido. 

"Trata-se de uma verdadeira mudança de paradigma", enfatizou, ao receber a presidência temporária do Mercosul. 

O presidente enfrenta graves acusações de corrupção em casa. Contudo, a crise política no maior sócio do bloco foi apenas mencionada. "O Brasil está vivendo um processo de recuperação econômica", apontou o ministro da Fazenda argentino, Nicolás Dujovne. 

Ele disse que os outros países do bloco confiam na sua recuperação econômica e nos "mecanismos institucionais" do Brasil. 

Em matéria de economia, a cúpula destacou a urgência de se abrir a associações com terceiros. 

"Temos que ser capazes de superar a etapa de frustrações do Mercosul, olhando para o futuro, e manter a vontade no mais alto nível político para alcançar todo o potencial de nossa integração", afirmou Macri. 

O presidente argentinou pediu a seus pares do Mercosul para consolidar o bloco e demonstrar os benefícios do sistema multilateral na Organização Mundial do Comércio (OMC), além de trazer a América Latina para o centro das discussões do G20 no ano que vem. 

A assinatura de um acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia, tratada como certa, foi mencionada pelos dois presidentes como um dos grandes sucessos do Mercosul sob o comando da Argentina.

Eles também celebraram uma aproximação com a Aliança do Pacífico, o outro grande bloco comercial da América Latina.  

A intenção é fechar o "acordo político" com os temas mais conflituosos acertados, embora o assunto mais espinhoso ainda não tenha sido discutido: a oferta europeia para as exportações sul-americanas de carne bovina e etanol, que pode chegar em outubro.