Embaixador "A política do Catar é ardilosa", diz embaixador da Arábia Saudita Embaixador da Arábia Saudita em Brasília acusa Doha de ameaçar a estabilidade do Golfo Pérsico e pede o cumprimento das exigências

Por: Correio Braziliense

Publicado em: 25/07/2017 09:59 Atualizado em:

"A TV Al-Jazeera tornou-se, há muito tempo, um dos mais importantes instrumentos dos grupos terroristas, para produzir e divulgar o conteúdo extremista". Foto: Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press
"A TV Al-Jazeera tornou-se, há muito tempo, um dos mais importantes instrumentos dos grupos terroristas, para produzir e divulgar o conteúdo extremista". Foto: Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press
Para Hisham S. Alqahtani, embaixador da Arábia Saudita no Brasil, a crise no Golfo Pérsico pode ser superada apenas se o Catar cumprir com todas as exigências apresentadas pelos vizinhos e cessar o apoio aos grupos extremistas. Em entrevista ao Correio, o diplomata acusou Doha de descumprir todos os acordos e compromissos firmados na região para combater o financiamento, o suporte e o acolhimento ao terrorismo. “Nossas exigências para que Doha pare de apoiar o terrorismo e a mídia hostil não afetam a sua soberania. Fazemos questão de preservar a segurança e a integridade do Catar”, garantiu. Alqahtani lembrou que os Estados Unidos cobraram mais empenho do governo catariano em interromper o abastecimento financeiro e expulsar elementos fundamentalistas. “ O presidente americano não deixou nenhuma dúvida sobre a posição de seu país diante do apoio ao terrorismo pelo Catar”, assegurou.

O representante de Riad em Brasília também classificou a rede de TV Al-Jazeera de “tribuna do terrorismo e fonte de produção de materiais extremistas”. A Arábia Saudita insistia no fechamento da emissora do Catar, a qual o embaixador sustenta que intenciona “destruir a juventude e desestabilizar a paz e a segurança internacionais”. Alqahtani garante que alguns temas não aceitam discussão. “Os mais importantes deles são a segurança, a estabilidade e o combate ao terrorismo e à criminalização de sua produção”, atestou.

Em 5 de junho, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egito — membros do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) — impuseram um boicote ao Catar e romperam os laços diplomáticos com o Doha, após acusarem o governo do emir Tamim bin Hamad Al-Thani de apoiar extremistas. À exceção do Egito, as demais nações deram um prazo de duas semanas para que os catarianos deixassem seus territórios.

O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, se reuniu com representantes dos países do Conselho de Cooperação do Golfo e informou que compreende a posição do Catar. Como o senhor vê o apoio a Doha e que tipo de ação espera dos EUA?

O secretário Rex Tillerson declarou, anteriormente: “O Catar deve fazer ainda mais esforço para cessar o apoio financeiro e na expulsão dos elementos terroristas”. Mesmo depois da visita de Tillerson ao Golfo, o presidente Donald Trump enfatizou a importância de o Catar parar de financiar o terrorismo, e disse, em entrevista ao canal norte-americano CBN, que o Catar ficou conhecido por financiar o terrorismo e necessita parar imediatamente. O presidente americano não deixou nenhuma dúvida sobre a posição de seu país diante do apoio ao terrorismo pelo Catar quando afirmou, durante a entrevista: “O Catar é conhecido por financiar o terrorismo e lhe dissemos que não podem fazer isso”. A respeito da base americana existente no Catar, Trump disse que tem outros países substitutos. “Vai dar tudo certo, existem 10 países que podem receber nossas bases militares”, declarou, ao afirmar que o Catar está cantando fora do bando e que existem tentativas de colocá-lo de volta à lógica do acerto. Todas essas declarações são provas do entendimento do lado americano sobre o papel catariano no apoio e no financiamento do terrorismo, e o firme desejo de Washington em suspender os movimentos de Doha neste sentido.

O senhor crê que Tillerson será capaz de resolver a crise enquanto ele se esforça para discutir com todos os envolvidos no assunto?

As negociações de Tillerson com os chanceleres dos países boicotantes — Reino da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, República Árabe do Egito e Bahrein — terminaram, em Jeddah, sem chegar a uma solução. Esperamos que essa crise seja resolvida dentro do âmbito do Golfo, e que a sabedoria prevaleça entre os irmãos filhos do Catar, para atender às exigências da comunidade internacional e não apenas dos quatro países. É importante também ter certeza de que o Catar não patrocina mais o terrorismo, de maneira formal ou informal, e que vai parar totalmente com seu apoio e financiamento. O Kuwait, país mediador, sofreu também com as intervenções inaceitáveis do Catar em seus assuntos internos.

A Arábia Saudita acusou o Catar de apoiar o terrorismo, porém Doha e Washington assinaram um acordo sobre financiamento do terrorismo. Como o senhor encara este acordo? Ele não contradiz as acusações sauditas, no momento em que a Arábia Saudita faz tais acusações contra o Catar?

A assinatura de um memorando de entendimento sobre o combate ao terrorismo entre os Estados Unidos e autoridades do Catar veio como resultado das pressões e exigências repetidas dos quatro países e seus parceiros, ao longo dos anos, para que o Catar cesse o apoio ao terrorismo. Enfatizando, ainda, que este passo não é suficiente e que os quatro países vão observar atentamente o nível de sinceridade das autoridades catarianas no combate a todo tipo de financiamento, apoio e acolhimento ao terrorismo. As autoridades catarianas estão acostumadas a descumprir todos os acordos e compromissos, inclusive o último acordo de Riad de 2013, o que levou alguns países a retirar os seus embaixadores — eles somente retornaram após a assinatura das autoridades do Catar do Acordo Complementar em 2014. Com a continuação do Catar na intervenção, incitamento e tramas, acolhimento de terroristas, financiamento de operações terroristas e divulgação do discurso do ódio e extremismo, não se pode confiar em nenhum compromisso dado por seu lado, sem colocar medidas rigorosas de controle para verificar sua seriedade no retorno ao caminho certo e natural. Os quatro países boicotantes, que apelam para o combate ao terrorismo, afirmaram a continuação dos seus procedimentos atuais, até que as autoridades catarianas cumpram as justas exigências completamente, que garantem o enfrentamento ao terrorismo e a realização da estabilidade e da segurança na região.

O Catar insiste que a lista das 13 demandas apresentadas ao seu governo são ditatoriais e uma violação à sua soberania. O que diria sobre isso?

Nossa exigência para que Doha cesse o apoio ao terrorismo e à mídia hostil não é uma imposição de tutela e, sim, uma medida pela preservação da segurança dos Estados boicotantes. Nós vemos graves tentativas de ameaçar e afetar a estabilidade do Golfo, além do evidente apoio aos grupos extremistas. Nossas exigências para que Doha pare de apoiar o terrorismo e a mídia hostil não afetam a sua soberania. Fazemos questão de preservar a segurança e a integridade do Catar. Nossos procedimentos visam proteger o Catar das consequências de seus atos irresponsáveis. A maioria de nossas políticas do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) são acordadas por entendimento, e não por imposição de tutela sobre alguém. Alegar que os países boicantes têm exigências “impossíveis” não é verdade. É uma tentativa de contornar as exigências centradas no tratamento de interrupção do apoio aos grupos extremistas. O atendimento das exigências pelo Catar contribuirá para a superação desta crise.

O Catar lhes acusa de conspirar a fim de fechar a TV Al-Jazeera, por ser considerada uma rede que preza a liberdade de opinião e expressão numa região que viola a liberdade de expressão e os direitos humanos...

As redes de TV e os jornais administrados por Doha, publicamente e secretamente, não podem ser chamados de mídia livre. Os sauditas estão plenamente conscientes sobre a gravidade do conteúdo que os apoiadores do terrorismo estão tentando promover. A Arábia Saudita bane qualquer fonte ou site que promove a violência, independentemente da sua origem. Lamentavelmente, as autoridades de Doha são os maiores patrocinadores dessas redes e sites, tanto na região quanto na Europa. Aplicar a política de banimento contra as tribunas informativas radicais não é uma política exclusiva da Arábia Saudita, mas de todo o mundo. Exemplo disso é a França, que bloqueou alguns sites de estações de TV, como a emissora Al-Manar, que pertence ao Hezbollah. A Al-Jazeera é uma tribuna do terrorismo e uma fonte de produção de materiais extremistas, como os documentários e os debates, que contribuem para a divulgação do extremismo e terrorismo, através do acolhimento naquela região dos radicais e odiadores da Arábia Saudita, Emirados Árabes, Barein e Egito, os denominando de oposicionistas e ativistas, para divulgar suas ideologias extremistas e deixar incertezas sobre os governantes e as instituições do Estado. A TV Al-Jazeera tornou-se, há muito tempo, um dos mais importantes instrumentos dos grupos terroristas, para produzir e divulgar o conteúdo extremista. As produções suspeitas da TV Al-Jazeera revelaram a verdadeira face do governo catariano, que intenciona destruir a juventude e desestabilizar a paz e segurança internacionais. Existe algum país que permite à Al-Jazeera ameaçar sua segurança social divulgando o conteúdo extremista aos seus cidadãos?

A Arábia Saudita está disposta a dialogar a fim de procurar meios para pôr fim à crise? 

Nós dialogamos muito com o Catar por 20 anos. Eles nos prometeram muito, mas não vimos o cumprimento das promessas. Os mais importantes compromissos que o Catar assumiu foram o Acordo de Riad, de 2013, e o Acordo Complementar, de 2014. Reafirmamos que não recusamos o diálogo, quando ele é construtivo e útil e com quem merece. Mas, nesta crise, o importante não é que seja direto ou indireto, o que importa é que o Catar observe a cessação de seu apoio ao terrorismo e ao extremismo. Existem assuntos que não aceitam discussão, e os mais importantes deles são a segurança, a estabilidade e o combate ao terrorismo. Este é o objetivo de todos os Estados do mundo. Com tudo isso, afirmamos que Catar é parte do tecido do Golfo, e não queremos que nenhum mal o atinja. O Catar alega que está sendo injustiçado e sofre um bloqueio. Não há bloqueio, mas um boicote. Se fosse bloqueio, como alegam, não poderiam receber os produtos que chegam para eles do Irã e da Turquia por aviões e navios. A política do Catar é ardilosa, se baseia em mentiras e enganos. É difícil cobrir o sol com a mão. A verdade referente ao Catar foi desmascarada, assim como o seu apoio ao terrorismo, e nós não vamos retroceder em combatê-lo e dissuadi-lo de seus atos ilegais.