Pós-posse Milhares de pessoas protestam contra Trump em Washington Principal contestação é sobre os direitos das minorias

Por: AFP - Agence France-Presse

Publicado em: 21/01/2017 15:35 Atualizado em: 21/01/2017 17:38

Manifestantes chegam ao National Mall de Washington para protestar contra Trump  (AFP Andrew CABALLERO-REYNOLDS)
Manifestantes chegam ao National Mall de Washington para protestar contra Trump

Lideradas por mulheres, centenas de milhares de pessoas tomara as ruas de Washington neste sábado para exigir que o presidente Donald Trump respeite seus direitos e os das minorias. Em Washington, onde se celebra a maior Marcha das Mulheres, um mar de gente, muitos gorros rosas com orelhas, se concentrou perto do Congresso para ouvir fortes gritos de resistência e luta pelos direitos das mulheres e de todas as minorias.  

A Independence Avenue de Washington, uma das maiores da cidade, estava repleta de manifestantes ao longo de mais de 1,5 km, e era impossível cruzá-la, constatou um jornalista da AFP. Os organizadores estimam a presença de 500 mil pessoas.

Após ouvir vários cantores e oradores, alguns famosos como o cinesta Michael Moore e a atriz Scarlett Johansson, os manifestantes marcharão até os arredores da Casa Branca. "A marcha é uma demonstração de nossa solidariedade e um pedido para que Trump respeite todas as pessoas, de todos os credos e cores", declarou à AFP Lisa Gottschalk, uma cientista de 55 anos que viajou da Pensilvânia para protestar.

Grandes multidões protestaram também em Nova York, Chicago e Boston. Centenas de protestos aconteceram em outras cidades do país. Os organizadores acreditam que aproximadamente 2,5 milhões de pessoas foram às ruas em mais de 600 marchas contra Trump realizadas no exterior.

"Não podemos passar de uma nação de imigrantes a uma nação de ignorantes", alertou uma das primeiras oradoras, a atriz de origem hondurenha América Ferrera, em referência à promessa de Trump de deportar entre dois e três milhões de imigrantes e construir um muro na fronteira com o México.

Uma das oradoras que mais recebeu aplausos foi Sophie Cruz, uma menina americana-mexicana de seis anos cujos pais se encontram em situação irregular e que ficou famosa em 2015, quando foi abraçada pelo papa Francisco. "Estamos aqui juntos para formar uma rede de amor que proteja as nossas famílias", disse no palco, enquanto sua mãe, ao seu lado e vestida com uma roupa indígena, enxugava as lágrimas. "Também quero dizer às crianças que por favor não tenham medo porque não estamos sós (...) Vamos lutar pelo justo!", pediu a menina.  

A democrata Hillary Clinton, que perdeu para a Trump a chance de ser a primeira presidente mulher dos Estados Unidos, agradeceu aos manifestantes em sua conta do Twitter. "Obrigada por estar aí, por falar e marchar por nossos valores @womensmarch. Mais importante do que nunca. Realmente acho que sempre somos mais fortes juntos", tuitou.

"Presidente Trump, não votei em você, mas apoie minha filha, que, como resultado das suas nomeações, pode crescer em um país que está retrocedendo, não avançando, e que talvez não terá o direito de tomar decisões para o seu corpo e o seu futuro como a sua filha Ivanka teve o privilégio de poder", pediu Scarlett Johansson.

A diva do pop, Madonna, supreendeu os presentes ao se juntar ao protesto e subir no palco para se pronunciar sobre o novo governo. "Bem-vindo à revolução do amor", disse a cantora, encerrando horas de discursos por celebridades e ativistas. "À rebelião. À nossa recusa como mulheres em aceitar essa nova era da tirania".

Uma visão sombria

Trump assumiu na sexta-feira a presidência com um discurso inaugural com um forte tom nacionalista e populista, no qual traçou uma sombria visão do declínio dos Estados Unidos sob o governo de seu antecessor, o democrata Barack Obama.

Ele falou das escolas ruins, da pobreza crônica, do aumento dos crimes, e garantiu que vai dar fim a "esta carniceria" e que só se guiará por um princípio: "Os EUA em primeiro lugar". "Compre (um produto) americano, contrate americanos", pediu.

"Estamos aqui determinados a frear a carniceria de Trump", respondeu neste sábado Michael Moore na Marcha das Mulheres.

O presidente visitará neste sábado a sede da CIA, um gesto carregado de simbolismo após suas fortes críticas às agências de inteligência americanas, anunciou seu porta-voz, Sean Spicer.

Também houve protestos anti-Trump na sexta-feira, durante a posse. Em alguns deles foram registrados choques violentos entre manifestantes e vandalismo, com mais de  215 detidos.

Gorro rosa por mais respeito

Milhares de manifestantes vesten gorros de lã cor de rosa com orelhas de gato, que se tornaram símbolo do desafio ao novo governo. Os gorros, ou "pussy hats", como são chamados em inglês, têm um trocadilho, porque a palavra em inglês "pussy" tanto pode significar gatinho quanto a forma pejorativa de se referir ao órgão sexual feminino.

A palavra faz referência direta a um áudio de 2005 vazado durante a campanha eleitoral em que Trump, conhecido por sua retórica controversa e divisionista, afirma que "quando você é uma estrela, (as mulheres) deixam você fazer o que quiser. Pode agarrá-las pela buceta". 

Trump ofendeu as mulheres em numerosas ocasiões -incluindo uma ex-Miss Venezuela por seu sobrepeso- julgando-a por sua aparência. Foi acusado por várias mulheres de assédio e de ter tido um comportamento inapropriado.