Susto Incêndio florestal força a retirada de todos os habitantes de uma cidade nos EUA Moradores relatam a tensão e o medo das chamas

Por: Correio Braziliense

Publicado em: 05/05/2016 07:59 Atualizado em:

O consultor financeiro Ryan Jeffries talvez jamais se esqueça do medo enfrentado na tarde de terça-feira. “Foi o caos, havia carros abandonados por todos os lugares. Nunca em meus sonhos mais selvagens eu imaginaria algo assim ocorrendo com nossa comunidade amada”, afirmou ao Correio. “A sensação era bizarra, ao dirigir rumo ao sul, com as colinas em chamas dos dois lados e não saber o que estava além da parede de fumaça.” Enquanto a cidade de Fort McMurray ardia em chamas, no pior incêndio florestal da história, todos os 88 mil moradores partiam em fuga pela única rodovia, provocando um congestionamento gigantesco. O único hospital também precisou ser esvaziado. Ryan decidiu partir com a mulher e os dois filhos quando as imensas labaredas chegaram a 750m de sua casa. Antes, produziu um vídeo com lapso de tempo no qual se podia ver o muro de fogo se aproximando da cidade. “Nosso lar está intacto, mas, definitivamente, não fora de perigo. Teremos de esperar alguns dias”, comentou ele, que se refugiava em Edmonton, capital da província de Alberta, 435km ao sul.

Até o fechamento desta edição, as chamas tinham consumido o equivalente a 10 mil campos de futebol. No distrito de Waterways, 90% das casas foram transformadas em ruínas. Em toda a cidade, a destruição atingiu 1.600 construções. Pelo menos 150 bombeiros se esforçavam ontem para controlar o incêndio, apoiados por helicópteros e caminhões-tanque. A província de Ontário enviou mais 100 bombeiros do Ministério de Recursos Naturais e 19 supervisores. No início da tarde de ontem, caminhões do Exército canadense estavam a cerca de cinco horas de Fort McMurray, onde ajudariam para debelar o fogo, potencializado pelos ventos de 50km/h e pela seca, com temperaturas chegando a 30 graus Celsius.

“É uma situação assustadora e estressante para as pessoas que tiveram de deixar suas casas nessas condições”, declarou, anteontem, a primeira-ministra de Alberta, Rachel Notley. “O objetivo é garantir a segurança das pessoas, levá-las para fora da cidade e assegurar que estão a salvo e seguras.”  Depois de sobrevoar a região, ontem, a premiê declarou estado de emergência na província e classificou de “comovedora” a cena vista do helicóptero.

Desabrigados
Diretor de promoções de duas rádios de Fort McMurray, Marshall Whitsed, 26 anos, estava ontem em Grey Wolf Lodge, uma espécie de hotel transformado em acampamento para milhares de desabrigados. “São 750 quartos, muitos com três ou quatro pessoas”, disse à reportagem. “Eu trabalhei anteontem na rádio. Pela manhã, o céu estava azulado e com pouca fumaça. Na hora do almoço, o fogo começou a aumentar de forma exponencial. Já havia muita fumaça no ar, e a cidade começou a realizar retiradas compulsórias e voluntárias em certos locais. Nós fugimos por volta das 15h30 (18h30 em Brasília). Foi algo como sair de um filme, nunca vi algo assim”, acrescentou. Acompanhado da esposa e de colegas de trabalho, ele dirigiu cerca de 50km rumo ao norte. “Tudo o que víamos eram fumaça e chamas imensas pelo retrovisor. Muitas pessoas tiveram tempo suficiente para reunir poucos pertences. Como existe apenas uma rodovia, houve grande congestionamento.”

Às 13h30 de terça-feira, a fotógrafa Heather Snow, 31 anos, agiu quase que por instinto ao olhar pela porta e ver o céu avermelhado. “Peguei meu filho, Nathan, de 2 anos, nossos dois cães e saíamos. Telefonei para o meu marido e disse a ele que a chave do carro estava na mesa. Pedi que pegasse tudo o que pudesse e saísse. Ele trabalhava a uma hora de Fort McMurray. Na fuga, viu a rodovia queimando de ambos os lados. Prédios caíam, calcinados”, relatou ao Correio. Durante todo o dia de ontem, várias pessoas visitaram o acampamento improvisado na cidade de Wandering River, que abrigava cerca de 40 pessoas, entre elas a família de Heather. “Elas vieram e nos ofereceram batata”, conta.