Manifestações Centenas de detidos durante protestos em congresso de partido populista alemão Segundo a polícia local, cerca de 400 pessoas foram presas

Por: AFP - Agence France-Presse

Publicado em: 30/04/2016 15:34 Atualizado em:

Policial usa uma bomba de gás lacrimogêneo contra um militante de esquerda. Foto: AFP Philipp Guelland (Foto: AFP Philipp Guelland)
Policial usa uma bomba de gás lacrimogêneo contra um militante de esquerda. Foto: AFP Philipp Guelland

O congresso do partido de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que deverá aprovar seu primeiro programa, viu-se perturbado neste sábado, em Stuttgart (sudoeste), pelos protestos de militantes de esquerda, que resultaram em centenas de detenções. Centenas de pessoas contrárias ao AfD tentaram bloquear o acesso o congresso e próximo do aeroporto de Stuttgart. A polícia local deteve 400 pessoas, segundo a polícia local.

"Não à propaganda nazista" e "Ficamos com os refugiados e tiramos os nazistas!" eram alguns dos slogans dos manifestantes, que queimaram pneus e jogaram objetos contra os policiais. A polícia usou gases lacrimogêneos para dispersar os manifestantes. Também ocorreram confrontos entre militantes de esquerda e membros do AfD.

Mais de mil policiais antidistúrbios foram mobilizados para controlar as zonas próximas do Palácio dos Congressos. Os distúrbios atrasaram a abertura do congresso do partido, que pretende ganhar o eleitorado com suas críticas ao Islã. "Partido contestatário busca tema contestatário", resume o semanário Der Spiegel, descrevendo o atual paradoxo do movimento em pleno apogeu.

Depois de ter ganhado força nas eleições regionais de março e alcançado 14% das intenções de voto nas pesquisas, o jovem partido perdeu, com o fechamento das fronteiras na Europa, seu argumento favorito: a política de acolhimento de migrantes da chanceler Angela Merkel. No entanto, na Alemanha, onde o desemprego é baixo e a confiança no governo é "mais alta que em outros lugares", o AfD só pode prosperar com "um descontentamento generalizado", explicou à AFP Timo Lochocki, especialista em direita populista do German Marshall Fund de Berlim.

O Alternativa para a Alemanha (AfD), criado na primavera de 2013, presente no Parlamento Europeu e na metade dos Parlamentos regionais do país, viu no Islã um possível catalisador, um tema que centrará os debates no sábado e no domingo em seu congresso em Stuttgart (sudoeste). Entre as moções que votarão, figura a proibição de minaretes, "símbolos da dominação islâmica", das chamadas do muezim e do véu, "sinal político-religioso da submissão das mulheres muçulmanas aos homens".

Seus líderes já haviam declarado recentemente que o Islã é "incompatível com a Constituição", classificando-o de "ideologia política" e da "maior ameaça para a democracia e a liberdade". Com quatro milhões de muçulmanos na Alemanha e a chegada no ano passado de um milhão de solicitantes de asilo procedentes em sua maioria de países muçulmanos, a retórica anti-islã "pode beneficiar muito o AfD" até as legislativas de 2017, considera a cientista política Nele Wissmann.

Para Timo Lochocki, "tudo dependerá" da reação dos outros partidos e dos meios de comunicação, porque o grupo "não tem poder para marcar a agenda impondo apenas seus temas favoritos". Em geral, a condenação parece unânime e Angela Merkel ressalta há mais de um ano que "o Islã pertence à Alemanha". Mas os democratas-cristãos da chanceler estão divididos há tempos sobre o tema e seus aliados do CSU exigem, por sua vez, uma "lei sobre o Islã" que sirva para frear o avanço do AfD.

Um estudo da fundação Bertelsmann revelava no ano passado que 57% dos alemães encaram o Islã como uma ameaça e que 61% pensam que é "incompatível com o mundo ocidental", um desafio "difícil de ignorar", destacou Nele Wissmann. Outra questão que será votada neste fim de semana envolve se é conveniente para o partido se aliar à Frente Nacional francesa no Parlamento Europeu. A ala direitista do partido, forte no leste, é favorável, enquanto a ala liberal, que domina no oeste do país, é mais reticente.

Em meio a esta disputa interna, alguns caciques do partido viram no êxito da extrema-direita austríaca no primeiro turno das presidenciais uma oportunidade para reforçar suas posições dentro do AfD, dispostos a prever um destino similar na Alemanha.