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Em Foco Sem fazer o dever de casa e após tragédia de Mariana, Brasil deve enfrentar desconfianças na Conferência do Clima

Por: Luce Pereira - Diario de Pernambuco

Publicado em: 29/11/2015 10:17 Atualizado em:

Todas as conferências e encontros internacionais sobre o clima costumam ser encarados como eventos de “gala”, sempre com a presença das maiores autoridades políticas e ambientais do mundo. São vistos como oportunidade de ouro para uma nação aparecer “bem na fita”, embora o Brasil viva, desde 1992, dando mostras de que não pensa assim. Naquele ano, era o anfitrião da Cúpula da Terra, no Rio, mas de lá para cá tem feito cada vez menos por merecer a exuberância dos recursos naturais de que (ainda) dispõe. Se fosse pelos resultados obtidos até chegar à Rio + 20, deveria desembarcar na capital francesa, a fim de participar da Conferência do Clima de Paris (cop21), nesta segunda-feira, com uma aparência apenas modesta, bem à altura do esforço que não fez para impedir tantos desastres.
Nas duas décadas, não só não cumpriu as propostas subscritas no primeiro encontro do Rio como preservou apenas 12% da mata atlântica; permitiu que o cerrado, seu segundo maior bioma, fosse devastado em 49%; assistiu passivamente aos pampas perderem 54% de sua área orginal e a caatinga, 45,6%. Além disso, neste período, por obra e graça da ausência de políticas públicas voltadas para a defesa do meio ambiente, a área verde da Amazônia diminuiu 15%. Mas a falta de cuidado não decorreu da falta de alertas – feitos aos montes, em alto e bom som, já durante a Rio 92. Longe de parecer alarmismo ou argumento de filme de ficção científica, as advertências desenhavam um cenário mundial preocupante, com risco de significativa piora do aquecimento global, falta de água, eventos climáticos ocorrendo de forma mais rigosa e frequente. E tudo, é claro, contribuindo para o aumento das doenças e da pobreza.
A propósito de pobreza, seria a diminuição de 82% do número de famintos – o que possibilitou a saída do país, em 2014, do Mapa Mundial da Fome – uma razão significativa para deixar o Brasil mais “apresentável” no encontro de Paris. Seria, não fosse o fato de se sobrepor a esta imagem a tragédia ambiental que deixou o mundo estupefato. A lama de Mariana acabou simbolizando os desastres morais que o país protagoniza e revelando a absurda negligência do poder público em fiscalizar e cobrar o cumprimento de normas de segurança na atividade de exploração dos recursos naturais.
Por muito menos o Brasil já poderia, ao assumir novas propostas em encontros mundiais sobre o clima, ser olhado com desconfiança. Desta vez a promessa é, num prazo de 15 anos, eliminar o desmatamento ilegal na Amazônia, reduzir em até 37% as emissões de gases de efeito estufa, até 2025, e atingir 43% quando 2030 chegar. Inclua, ainda, no rol de promessas, o replantio de 12 milhões de hectares de floresta, recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens e integração de outros cinco milhões de hectares de áreas agrícolas. Tudo que já deveria estar em curso desde a Rio+20, em 2012.
Se a “figura” que o país tem feito for compatível com a determinação em defender seus recursos naturais e contribuir para a salvação do planeta, é provável que nestes eventos só consigam enxergá-lo como gigante tentando caber em roupa de pigmeu. Seria apenas risível, não fosse tão desastroso.