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Cidade de Selma volta a chamar atenção da luta por direitos civis, 50 anos após repressão brutal

Publicado: 05/03/2015 às 12:21

Homem lê uma placa na Ponte Edmund Pettus, em Selma. Foto: Brendan Smialowski/AFP Photo/

Homem lê uma placa na Ponte Edmund Pettus, em Selma. Foto: Brendan Smialowski/AFP Photo()

 Cinquenta anos depois da marcha brutalmente reprimida em Selma, cidade-símbolo da luta pacífica pelos direitos civis liderada por Martin Luther King, a localidade volta a chamar a atenção com a visita, no sábado, do presidente Barack Obama, e pelo recente filme de mesmo nome.

Obama estará presente no sábado nesta pequena cidade do estado sulista do Alabama com a mulher, Michelle, e as filhas, Malia e Sasha, de 16 e 13 anos, para recordar que, meio século depois, a luta pelo direito ao voto tem "outras marchas a cumprir, outras batalhas a travar".

A decisão é delicada para o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos, criticado por alguns por uma suposta falta de compromisso pessoal em questões raciais, como durante os distúrbios que abalaram Ferguson (Missouri) pela morte de um jovem afro-americano por um policial branco em agosto de 2014.

A poucos dias da data histórica, o Departamento de Justiça divulgou um relatório que aponta o racismo cotidiano e o comportamento discriminatório da polícia em Ferguson, que fica quase 1.000 km ao norte de Selma.

Para o secretário de Justiça, Eric Holder, o primeiro negro a ocupar este cargo, as violações são graves e "a lista de mudanças necessárias, longa".

Há 50 anos, o combate tinha relação com o próprio funcionamento da democracia. Nos início dos anos 60, um grande número de obstáculos minava o caminho dos afro-americanos até o registro eleitoral: dos 15.000 habitantes de Selma, apenas 300 tinham direito a voto.

No domingo 7 de março de 1965, quase 600 pessoas iniciaram uma marcha até Montgomery, capital do Alabama, para reivindicar o direito ao voto. Bloqueados no percurso na altura da ponte Edmund Pettus, na saída da cidade, os participantes foram violentamente atacados pela polícia. A repressão brutal da passeata, exibida ao vivo pela televisão, comoveu a população dos Estados Unidos.


Um problema americano


Duas semanas mais tarde, milhares de pessoas lideradas pelo pastor Martin Luther King saíram novamente de Selma para seguir até Montgomery, a 90 km de distância, onde chegaram em um longo cortejo após vários dias de uma marcha entrou para história.

"Ao chamar a atenção da nação e do mundo hoje para a flagrante negação do direito ao voto, nós estamos expondo a própria origem, a raiz, da segregação racial no sul", disse "MLK" para uma multidão.

"Hoje quero dizer à cidade de Selma, hoje quero dizer ao estado do Alabama, hoje quero dizer ao povo dos Estados Unidos e às nações do mundo que não vamos recuar. Nós estamos em movimento agora", completou.

Em 6 de agosto de 1965, o presidente democrata Lyndon B. Johnson, que sucedeu John F. Kennedy, assinou a Lei de Direito ao Voto, garantindo a todos o direito ao sufrágio.

"Não há um problema dos negros. Não há um problema do sul. Não há um problema do norte. Existe apenas um problema americano. E nós estamos reunidos aqui hoje como americanos - não como democratas ou republicanos - nós nos encontramos como americanos para resolver este problema", havia declarado alguns meses antes ao pedir que o Congresso aprovasse o texto.

Retomando a ideia, Obama destacou na semana passada que o que aconteceu em Selma foi uma "experiência fundamentalmente americana, não apenas afro-americana".

"Diz respeito ao que existe de melhor neste país. Nos recorda que a história dos Estados Unidos não pertence a um grupo ou outro; pertence a todos nós", completou.

Milhares de pessoas, incluindo muitos congressistas, assim como o ex-presidente republicano George W. Bush, são aguardadas no fim de semana em Selma para recordar este episódio central da luta pelos direitos civis, retratado em um filme que estreou no início do ano nos Estados Unidos e está em cartaz no Brasil.

"Selma" foi indicado ao Oscar de melhor filme e venceu a categoria de música original com a canção "Glory".

Em Selma, uma das cidades mais pobres do Alabama e na qual 80% da população é negra, os símbolos e referências a esta luta estão onipresentes.

Entre os símbolos está a famosa ponte Edmund Pettus, sobre o rio Alabama, de onde o presidente americano pronunciará seu discurso no sábado, assim como as ruas com os nomes de ativistas que desempenharam um papel importante na época, como Marie Foster ou J.L. Chestnut.
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