Slow Fashion

Gabi Fonseca se reinventa em nova marca de bolsas e cadernos

De volta à linha de frente da moda autoral pernambucana, a designer Gabi Fonseca resgata e celebra memórias em peças atemporais

Publicado em: 06/12/2018 11:06 | Atualizado em: 06/12/2018 11:29

Bolsas e cadernos Por Gabi Fonseca têm design atemporal e misturam texturas e cores. Fotos: Rebeca Patricio e Fernanda Leal/Divulgação

Foram necessários cerca de dois anos para que a pernambucana Gabi Fonseca voltasse a abraçar os desafios do empreendedorismo no mercado de moda local com marca própria, dando à luz bolsas e cadernos que fogem ao comum. Reconhecida por sua trajetória à frente do selo de calçados que levava seu nome, descontinuado em 2016, a designer faz agora um resgate de si mesma e da atemporalidade de acessórios assinados por ela no projeto Por Gabi Fonseca. Disponíveis em loja instalada em Casa Forte, na Zona Norte do Recife, e na sazonal Casa Viva, no Shopping RioMar, na Zona Sul, os artigos recém-lançados revelam referências afetivas e fortalecem o aquecido circuito slow fashion pernambucano.

“Nosso manifesto de lançamento fala sobre memórias, lembranças, resgates. As bolsas e os cadernos são inspirados em produtos que foram lançados naquela outra fase, a dos sapatos. Fazemos referência à coleção [de calçados] Circo Surrealista, em que misturamos Salvador Dalí com o universo circense”, explica a pernambucana, que assina a recém-lançada Memorabilia, uma série de cadernos e bolsas dedicada à celebração de memórias. “Procuramos mostrar que a marca amadureceu. A paleta de cores é mais sóbria agora. Nas bolsas, usamos materiais e cores mais simples com detalhes mais extravagantes. Até por serem proporcionalmente maiores do que os sapatos. Mas resgatamos os designs mais famosos da antiga Gabi Fonseca, tentamos contar um pouco dessa história”, complementa.

As peças resgatam inspirações da marca de sapatos criada pela designer anteriormente. Fotos: Rebeca Patricio e Fernanda Leal/Divulgação


Passeando pelos últimos anos de estrada na moda, contados desde a criação da primeira marca, os cadernos e as bolsas mesclam cores, tecidos, texturas. E se desdobram em diferentes versões dos mesmos modelos: nas prateleiras, há 12 tipos de bolsas e dois tipos de cadernos. O gancho para o renascimento produtivo da designer – materializado, sobretudo, pelo couro – está claro por toda parte: criações que fazem ponte entre fases, coisas feitas para durar. O material reforça aos traços atemporais e dá vigor às peças. “Estou muito satisfeita com a qualidade dos produtos. Me sinto muito à vontade para falar disso hoje, já que acompanho de perto toda a produção. Levamos um ano pra lançar a nova marca, foram muitos testes. Estou feliz de ter me dado esse tempo para planejar. Estou mais segura como designer e como empresária. Há uma rede de pessoas colaborando em torno da marca, uma base muito sólida”, conta Gabi Fonseca.

Gabi se reinventou pela moda e acredita que o slow fashion vá continuar ganhando força no estado. Fotos: Rebeca Patricio e Fernanda Leal/Divulgação


Trazida do Sul do país, a matéria-prima é trabalhada na capital pernambucana, onde se desenrolam os processos de idealização e produção dos itens. “Buscamos couros com texturas diferentes. Em alguns casos, para conseguir mais textura, uso tecido com glitter, próprio para a industria de sapatos e bolsas. O glitter não larga. Basicamente, couro e forro de tecido são nossos principais materiais. Por semana, cerca de 12 bolsas são produzidas. Precisamos respeitar esse tempo”, detalha a empreendedora, que alinhou parcerias com fornecedores brasileiros e fabricante local. Em entrevista ao Diario, ela avaliou tendências para o futuro da moda, mudanças na cadeia de consumo e a fase atual de sua carreira no segmento a que sempre pertenceu.

A designer Gabi Fonseca é reconhecida pelo trabalho autoral na moda pernambucana desde suas produções no ramo dos calçados. Fotos: Rebeca Patricio e Fernanda Leal/Divulgação
>> ENTREVISTA: Gabi Fonseca, designer

Como planeja o lançamento de coleções na nova marca?
As coleções serão temáticas, mas não necessariamente lançadas por estações. Bolsas são mais fluidas nesse sentido. A ideia é ter sempre novidades nas prateleiras, lançando mini coleções, todas bem trabalhadas. Nada muito marcado pelo tempo. A ideia é que as coisas durem. Tanto no sentido do material, da qualidade, já estamos trabalhando somente com couro, pela durabilidade, como pelo design, que não é datado.

Como nasceu o novo projeto, as bolsas e cadernos Por Gabi Fonseca? 
Quando fechei a [marca de calçados] Gabi Fonseca, em 2016, eu já sabia que voltaria a empreender em alguma coisa. Integrei a equipe de criação da Trocando em Miúdos durante aproximadamente um ano. Saí porque estava desejando empreender novamente. Sabia que faria algo em papelaria, já havia começado a comprar ommaterial. Nesse intervalo, dei consultorias. Inclusive para uma marca de bolsas, o que me levou a conhecer mais fornecedores. Eu queria trabalhar em couro, comecei a produzir pilotos. Fui testando algumas misturas de texturas, comecei a ficar feliz com o resultado.

Quando decidiu que deveria resgatar seu nome como marca?
Cheguei a pensar em nomes para o projeto. Mas eu mostrava os pilotos às pessoas, e elas diziam: “isso é Gabi Fonseca”. Recorri a Fernando Lima, que trabalha com branding, conversei com ele sobre isso. Precisava definir, firmar a marca. E ele me convenceu. Foi algo que eu construí, o meu nome. Os produtos novos carregavam minha identidade. A identidade pessoal, porque foi tudo concentrado em Gabi. Foram oito anos no ramo de sapatos... no começo, fiquei insegura em renascer com as bolsas. É um desafio. Mas estou muito feliz.

E como tem sido a nova fase? 
Tem sido massa estar de volta. Nunca fui tão chamada para palestras, me sinto muito feliz com isso. Claro que não é todo dia que estamos com a autoestima ótima, mas é muito bom nos sentirmos relevantes. É a primeira vez que estou com uma loja de rua, numa galeria. Recebo gente que nunca teve contato com a marca. E também gente que não se lembrava do nome, mas associou as bolsas e cadernos à marca. As pessoas veem Gabi fonseca nos produtos. Para qualquer criador, isso é uma realização.

E o que mudou no mercado de moda pernambucano, entre a fase dos calçados e a fase atual, das bolsas? 
Muitas vezes me sinto um dinossauro. Tem muita gente nova fazendo muita coisa legal. A galera está dando um show de comunicação. Antes, muitas marcas eram feitas por pessoas mais velhas, que trabalhavam com costura, arquitetura. Não havia muitos cursos de moda. Hoje, temos um boom de marcas autorais no Recife. Muita coisa acontecendo, muitos eventos. Sinto que há dois caminhos. Uma galera começando a consumir mais coisas locais, que preza muito pela qualidade dos produtos. E uma galera mais jovem, que se influencia pela moda, pelas tendências, por influenciadores. As produções aqui têm se separado, em geral, entre esses dois nichos. Embora os nichos conversem, às vezes, entre si. Percebo que a galera está unindo forças, se juntando. 

O couro é a principal matéria-prima das bolsas e cadernos, o que aumenta sua durabilidade e reforça a proposta atemporal. Fotos: Rebeca Patricio e Fernanda Leal/Divulgação


Quais os principais desafios de empreender no segmento de moda autoral?
Fazer muito com tão pouco. São poucos recursos e não temos grandes investidores por trás das marcas autorais. O desafio é se virar em mil. Ser excelente no produto, no atendimento, no ponto de venda, na gestão. Atingir níveis de excelência com equipes enxutas, recursos enxutos. Além disso, nosso cenário político é instável. É difícil empreender num ambiente tão pessimista.

E para o futuro, imagina que a moda autoral continuará a ganhar força?
Sim. Eu acredito muito na moda autoral. As pessoas estão cada vez mais cansadas do óbvio, das mesmas coisas. Estão cada vez mais informadas dos processos de produção. Muitas clientes querem comprar aqui porque sabem que não envolve trabalho escravo. É uma economia que circula de forma sustentável. As pessoas estão preocupadas com isso, elas nem sempre estiveram. Há uma preocupação crescente de que todas as etapas envolvam dignidade. A moda autoral vem para contribuir com isso. Os movimentos de fast fashion, de modo geral, tendem a desacelerar. Processos que levam tempo, mas que criam coisas que duram mais, devem crescer. É uma tendência. As pessoas estão querem consumir melhor. E, consequentemente, consumir menos. 

SERVIÇO
Por Gabi Fonseca: Rua do Chacon, 64 (loja 08) e Casa Viva Riomar (Av. República do Líbano, 251 – Pina). Informações: @porgabifonseca

Os miolos dos cadernos podem ser repostos, enquanto as bolsas ganham versões para diferentes estilos e necessidades. Fotos: Rebeca Patricio e Fernanda Leal/Divulgação

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