Diario de Pernambuco
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Nas passarelas

Moda com inclusão e engajamento social

A maior tendência pontada durante a 45ª edição da São Paulo Feshion Week é de que devemos olhar para o outro e dar oportunidades

Publicado em: 07/05/2018 09:25 | Atualizado em: 07/05/2018 09:50

Peças produzidas por presos e coleções que remete à tragédia ambiental de Samarco. Foto: Nelson Almeida/AFP

“A agulha e o fio são minhas novas armas", afirma Honorato Bezerra, que está preso há quatro anos em uma penitenciária de São Paulo. Aprendeu a tricotar com um colega de cela e hoje cursa aulas semanais de crochê oferecidas pelo estilista Gustavo Silvestre. O fashion designer oferece duas aulas por semana, de forma voluntária, na penitenciária Desembargador Adriano Marrey, em Guarulhos, como parte do projeto Ponto Firme, que estreou com uma coleção feita totalmente por presos na São Paulo Fashion Week (SPFW). 
Honorato é um dos 19 alunos que durante nove meses se dedicaram intensamente para apresentar 45 peças na maior semana de moda do Brasil. O desfile teve também uma carga política ao incluir uma mensagem contra a desigualdade social, com uma trilha sonora marcada pelo estrondo produzidos pelo som de barras de ferro, mexendo com o psicológico dos espectadores ao levá-los para dentro de uma prisão. 

A coleção apresentou muitas cores em jaquetas, gorros, bolsas, vestidos, moda praia, casacos longos e sapatos, além de uma mistura de estilos e tendências. A peça escolhida para abrir o desfile foi um look de camiseta branca e calça bege em crochê (réplica do uniforme da prisão), trazendo para a passarela uma gama variada de opções femininas e masculinas. "Aqui a gente fica angustiado por não ter notícias da família e o crochê ajuda a gente a tirar a ansiedade, a ocupar nosso tempo", diz Honorato, que cumpre sua segunda pena. O projeto Ponto Firme e seu sucesso na SPFW tiraram Honorato e seus colegas da escuridão da prisão direto para os refletores. 

O estilista fez seus primeiros pontos em 2008 e ficou tão encantado pelo crochê que hoje essa é a técnica central de seu trabalho. Nas visitas à penitenciária de segurança máxima Desembargador Adriano Marrey, leva revistas, fios de lã -doados por sócios do programa- e agulhas. Em uma das salas do pequeno centro cultural da prisão se senta e mostra no laptop um tutorial para tecer uma flor. Reproduz o modelo junto com os alunos, que logo aprendem. "Aqui não há nada errado, tudo pode ser aproveitado", diz. 

A tragédia da Samarco que chocou o Brasil em 2015 também ganhou espaço na SPFW através do desfile de Primavera-Verão 2018/19 de Ronaldo Fraga, que é internacionalmente conhecido por contar histórias na passarela. O estilista mineiro promoveu uma experiência emocionante. Com participação performática de Marília Gabriela e trilha sonora ao vivo da cantora Livia Netrovski e do músico Fred Ferreira, Ronaldo mostrou uma poesia melancólica, porém cheia de esperança da tristeza tomada pelo barro do rompimento da barragem. 

Ele trabalhou com mulheres da comunidade de Barra Longa, uma das atingidas pela lama, que já bordavam panos de prato – a parceria com a Fundação Renova as qualificou a também fazer roupas com seu artesanato e encontrar outro meio de subsistência. Na passarela, peças com fotos, pedaços, cartas, lembranças, o que foi levado, o que sobrou. 
“No meio daquele lamaçal todo, ele conseguiu encontrar glamour. Já começou com a textura da passarela, parecia lama invadindo o SPFW.

O desfile abriu com Marília Gabriela usando roupas retas e soltas, com detalhes bordados e vazados, onde aparecia um pouco da pele, mas nada vulgar. Tudo muito sóbrio e coerente com o tema. As estampas lembravam uma aparência de lama, outras com fotografias antigas de fundo azulado, que foram encontradas no meio de todo lamaçal. Algumas folhas de costela de Adão estavam aplicadas nas roupas, dando a ideia de 3D e as joias também tinham aplicações de folhas naturais. As sandálias foram criadas pelo pernambucano Jailson Marcos. Um desfile que tocou todo mundo, foi emocionante”, conta Arlindo Grund, stylist e apresentador. 


Bota, babado e laço
Olhar fashion das influencers pernambucanas
 
“A São Paulo Fashion Week sempre nos proporciona uma imersão fashion incrível. O que vi que vai continuar para o Verão 2019 é o candy collors, ou mais conhecido como 'moda doce'. Com tonalidades suaves, as cores pastéis prometem invadir a próxima temporada e são apontadas como o hit da estação. Para quem não curte muito a tendência, os tons suaves refletem a luz e proporcionam uma aparência mais fresquinha e romântica, além de deixar o look super feminino. Agora, se você fica com medo de que as cores clarinhas deixem você com uma aparência mais cheinha, aposte nas combinações monocromáticas, pois elas alongam a silhueta. A transparência que já está no armário desde as últimas estações pode continuar, ela segue com tudo. Vale apostar! Outra trend é a maxi camisa, que pode ser usada de várias maneiras.” 
Viviane Oliveira, Influenciadora digital e consultora de moda 

 
"Além de assistir aos desfiles para ver o que seria tendência, aproveitei para observar o que estava rolando nos corredores da São Paulo Fashion Week. Uma das coisas que achei que nem ia pegar, mas que vi com muita frequência, foi a bota branca acompanhada de saia, vestido, calça. Às vezes num look mais romântico, outras numa pegada mais rock roll. E pensando no nosso clima recifense, a dica para apostar nessa trend é usar a bota de cano curto. A cor eleita pela Pantone, a ultraviolet, também reinou nos corredores e nos desfiles e vai continuar em 2019 com uma tonalidade mais suave em tons de lilás e lavanda. Agora duas apostas certeiras são o babado e o laço, que trazem uma leveza e uma feminilidade para o look.” 
Cuca Amorim, Influenciadora digital, advogada e empresária. 

(Com informações de Paula Ramon, da AFP)
 
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