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Semana de moda Minas Trend: menos cores e mais funções nas passarelas Fashion week mineira foi marcada por coleções casuais e utilitárias, com consagração da tecnologia em favor da "mulher real"

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 10/04/2017 07:00 Atualizado em: 18/04/2017 11:44

A moda festa sóbria, os tecidos tecnológicos, a sobreposição de peças e os vestidos fluidos foram destaque na última edição do Minas Trend. Fotos: Fotosite/Divulgação
A moda festa sóbria, os tecidos tecnológicos, a sobreposição de peças e os vestidos fluidos foram destaque na última edição do Minas Trend. Fotos: Fotosite/Divulgação

Belo Horizonte - Ao subir à passarela do 20º Minas Trend, na última semana, a cantora Preta Gil descreveu o momento como um marco da democratização da moda. Era o último desfile do Verão 2018 da fashion week mineira, uma das principais semanas de moda do país, e a coleção assinada pelo estilista mineiro Victor Dzenk revelava ao público criações em parceria com Preta. "Vai ter mulher GG na passarela, sim!", ela falou ao microfone, anunciando a própria entrada. Chamou as costureiras da equipe de Dzenk para lhe acompanharem em cena, repetiu que chegara a vez das mulheres reais. E chegou mesmo.

Reconhecida internacionalmente como referência em moda festa, a temporada mineira celebrou, contudo, coleções casuais - pôs em condição de protagonismo peças tecnológicas, utilitárias, acessórios carregados de simbologia, dos óculos de grau às bolas de futebol. Caminharam sob os holofotes modelos com capacetes, skates, pastas de escritório, coturnos, apitos, cartões de arbitragem. Apesar do casting padronizado - nenhuma das modelos menos magra que as outras, quase todas com cabelo comprido, pouquíssimas negras, o que contradiz a proposta em geral -, os figurinos propriamente ditos deixaram recados sobre igualdade entre os gêneros, ocupação de setores machistas no mercado de trabalho e funcionalidade da moda em benefício da "mulher real."

Alguns estilistas do line-up do evento apostaram em referências militares e fizeram alusão a esportes e atividades onde o preconceito de gênero ainda persiste. Fotos: Fotosite/Divulgação
Alguns estilistas do line-up do evento apostaram em referências militares e fizeram alusão a esportes e atividades onde o preconceito de gênero ainda persiste. Fotos: Fotosite/Divulgação

Nesse sentido, um dos destaques coube à grife mineira Plural, que impressionou ao exibir peças confeccionadas em impressoras 3D, inspiradas nas tramas dos cobogós. A iniciativa - articulada em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), o SENAI Modatec, Laboratório Aberto e a 3D Lopes - simulava um futuro no qual os consumidores finais teriam acesso a recursos semelhantes, podendo fabricar e vestir as próprias criações. É questão de tempo se concretizar. Tecidos como linho, tricot, tricoline, moletom e voal de seda deram ares clássicos ao conceito futurista proposto pela marca - uma das performances mais bem sucedidas da temporada, com direção criativa de Gláucia Froes, styling de Mariana Sucupira, estilo de Letícia Leão e beleza de Ricardo dos Anjos.

Natália Pessoa (ex-Faven) e Unity Seven também fizeram bonito: as duas grifes apostaram em composições monocromáticas, minimalistas, reforçando a proposta mais "real" e menos conceitual das passarelas, sem negligenciar a primazia da alta-costura. Natália exibiu peças de cor única (vermelhas, rosas, azuis, brancas ou prateadas), confeccionadas a partir da combinação de tricot e malhas tecnológicas, conseguindo balancear o bom caimento das peças e uma agradável sensação de conforto. Esta, inclusive, era uma palavra de ordem nos backstages das apresentações, outro ponto a favor das "mulheres reais."

 

Já a Unity Seven, capitaneada pelos estilistas Rejane Diniz, Luana Magalhães e Eric Martins, mostrou coleção desenvolvida exclusivamente em tons de branco e rosa champanhe. Roupas "simples" e clássicas, daquelas que se pode usar na próxima festa, porque já nascem palatáveis: uma síntese do que a moda - sobretudo a moda festa, carro-chefe da região - mostrada nesse Minas Trend se propôs a cumprir.

*A repórter viajou a convite do Minas Trend

No Minas Trend, os figurinos propriamente ditos deixaram recados sobre igualdade entre os gêneros, ocupação de setores machistas no mercado de trabalho e funcionalidade da moda em benefício da "mulher real". Fotos: Zé Takahashi/Fotosite/Divulgação
No Minas Trend, os figurinos propriamente ditos deixaram recados sobre igualdade entre os gêneros, ocupação de setores machistas no mercado de trabalho e funcionalidade da moda em benefício da "mulher real". Fotos: Zé Takahashi/Fotosite/Divulgação

>> DESTAQUES

As cores deram condição de exceção - e beleza - ao desfile da Anne est folle (Anne está louca, em tradução livre). Estampas geométricas foram combinadas a florais. E deu supercerto. Sempre com um tom dominante (como azul, amarelo ou preto), os looks eram fluidos, leves, com maquiagem e calçados também coloridos.

Curiosos os acessórios criados por Carlos Penna para o desfile da grife Plural. Utensílios de cozinha foram transformados em brincos, grama sintética foi usada nas bolsas, tapetes viraram sapatos. Agregaram sensação de conforto à coleção.

Bem sucedida a coleção Ellus XLV, que celebra os 45 anos da marca. Peças icônicas ganharam releitura, com desfile trabalhado entre o romantismo e o street style. Coturnos foram combinados a blusas vitorianas, correntes a estampas florais, couro a vestidos fluidos.

Sensível e bem trabalhado o desfile de Leticia Manzan, com stylist de Daniel Ueda e direção de Roberta Marzolla. Quimonos de seda pura bordados à mão dominaram a passarela, além de vestidões e pantalonas. As peças foram inspiradas na figura imaginária de um viajante que se depara com templos religiosos e cenários paradisíacos da Tailândia.

Peças sobrepostas, terninhos, casacos, capas e golas dominaram o desfile da Bobstore. Apesar do mote Verão 2018, a grife exibiu suas apostas para o outono deste ano - produções que já estão nas lojas. Pijamismo, xadrez e cores clássicas deram o tom.

>> ABERTURA
Expoente do rap, funk e hip hop nacionais, Flávio Renegado conduziu, ao vivo, a trilha sonora do desfile de abertura do 20º Minas Trend, na última segunda-feira. Em comemoração à primeira década do evento, modelos exibiram criações de diferentes estilistas, com predominância dos tons preto e vermelho. A top Carol Ribeiro abriu e encerrou a performance comemorativa, inspirada em conceitos como liberdade, evolução, fertilidade e transformação.

>> PRETA GIL
Nas redes sociais, Preta Gil deu continuidade ao debate sobre a democratização: "Que a moda seja mais humana, para pessoas de todos os tamanhos, cores, idades", escreveu. A coleção #pretagilporvictordzenk será comercializada em lojas multimarcas, segundo a artista, com peças disponíveis para todos os manequins. "Nossa moda é all size!", comemorou.

Preta Gil roubou a cena no desfile de Victor Dzenk. Eles lançaram coleção em parceria, com peças que se adaptam a diferentes medidas. Foto: Fotosite/Divulgação
Preta Gil roubou a cena no desfile de Victor Dzenk. Eles lançaram coleção em parceria, com peças que se adaptam a diferentes medidas. Foto: Fotosite/Divulgação


>> AUSÊNCIAS
Pena que mineiros reconhecidos por sua inventividade e engajamento político-social tenham sido subtraídos da grade de desfiles, mesas redondas e lançamentos: Ronaldo Fraga e Raquell Guimarães (Doisélles), por exemplo, não participaram do 20º Minas Trend.

>> TOPS
Entre os destaques do casting da temporada mineira, a veterana Carol Ribeiro - responsável por abrir e encerrar o desfile comemorativo de abertura do evento -, Bárbara Berger, Marcelle Bittar e Valentina Sampaio, considerada "ícone transexual" da moda internacional.



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