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Economia

Inflação leva 58% dos brasileiros a reduzir a quantidade de alimentos nas compras, segundo pesquisa Datafolha

O levantamento aponta ainda que, por causa da alta dos preços, 25% dos entrevistados diz ter menos alimentos que o necessário em casa

Publicado em: 14/04/2025 22:03 | Atualizado em: 14/04/2025 22:14

 (Foto: Marina Torres/DP Foto)
Foto: Marina Torres/DP Foto
Com o impacto da alta da inflação, 58% dos brasileiros passaram a comprar menos alimentos do que antes, de acordo com pesquisa do Datafolha, divulgada no último domingo (13). Entre os mais pobres, esse percentual sobe para 67%. O economista e planejador financeiro, Danilo Miranda, aponta que o aumento da inadimplência é um dos principais riscos diante das medidas adotadas pelos consumidores para adequar o orçamento familiar à compra desses produtos. 

Ainda de acordo com a pesquisa do Datafolha, um em cada quatro brasileiros (25%) afirmou ter menos alimentos que o necessário em casa. Já para 6 em cada 10, a quantidade é suficiente, apenas 13% dizem ser mais do que o necessário.

Com isso, para o economista, os consumidores passaram não apenas a procurar marcas mais baratas, mas também fazer uma substituição entre núcleos. “O café veio subindo o preço e as pessoas começaram a procurar marcas mais baratas. Mas já começa a ficar numa situação em que as famílias reclamam de não ter o suficiente”, destaca, com isso as pessoas começam a fazer essa troca do consumo em outros aspectos da rotina.

Segundo o levantamento do Datafolha, além das mudanças de hábitos de consumo, as pessoas passaram a adotar outras medidas para economizar. A mais comum, segundo a pesquisa, foi diminuir o consumo de água, luz e gás. Segundo o levantamento, metade dos brasileiros diz ter seguido esse caminho.

Além disso, ainda conforme a pesquisa, buscar outra fonte de renda foi a saída para 47%. Pouco mais de um terço (36%) diz ter reduzido a compra de remédios, 32% afirma que deixou de pagar dívidas e 26%, que deixou de pagar contas de casa.

Segundo Danilo Miranda, os dados são preocupantes. “Quando você começa a ver esse tipo de pressão sobre os preços de alimentos, e as pessoas começam a deixar de pagar as suas dívidas, isso preocupa, porque o risco é de aumento na inadimplência”, afirma. 

Mudança de hábitos

Ainda segundo o levantamento, 8 em cada 10 brasileiros adotaram alguma mudança de hábito em resposta à inflação, como sair menos para comer fora de casa (61%), trocar a marca de café por uma mais barata (50%) e reduzir o consumo da bebida (49%).

Para o levantamento, o Datafolha ouviu 3.054 pessoas de 16 anos ou mais em 172 municípios entre os dias 1º e 3 de abril. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.

Alta da inflação

O economista explica que o levantamento reflete a alta da inflação nos últimos meses. “Desde o início do ano, a inflação já ultrapassou o teto da meta. Ela estava em 5,06% no fim de fevereiro e agora em março subiu para 5,48%, nos últimos 12 meses. Isso traz para as famílias, especialmente as famílias de baixa renda, uma pressão muito forte sobre os salários. Ainda mais quando o núcleo que mais vem pesando esse ano é o grupo de alimentos e bebidas”, detalha. Ele destaca ainda que em março desde ano, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,56%, e o grupo de alimentação de bebidas teve alta de 1,17%, puxando a inflação para cima.

A alta da inflação no grupo de alimentos foi puxada principalmente pelas  altas do tomate (22,55%), do ovo de galinha (13,13%) e do café moído (8,14%). Em 12 meses, a inflação desses itens foi de 0,13%, 19,52% e 77,78%, respectivamente.

O economista explica que, no caso do café, o preço do produto vêm sendo impactados pela safra do Vietnã, que teve a sua produção afetada por fatores climáticos. Em relação ao ovo de galinha, o economista relaciona como um dos fatores, a alta da procura pelo alimento como proteína para a carne, que tem um efeito também de pressão inflacionária. “Também tem uma janela de aumento por conta da Quaresma, que vai até agora o final de semana agora e traz uma pressão adicional causada pelas pessoas que deixam de comer carne nesse período e comem mais ovos”, aponta. 

Incertezas e guerra comercial 

E o economista explica ainda que, como a tendência é de aumento da pressão inflacionária causada pela guerra comercial impulsionada pelo governo dos Estados Unidos, as alternativas buscadas, inclusive pelo Governo Federal, de retirar imposto de importação sobre alguns produtos alimentícios resolve apenas como um paliativo. 

“Essa guerra de tarifas causa um efeito com uma pressão inflacionária nos Estados Unidos e no mundo todo. Há um efeito inflacionário de curto/médio prazo chegando aí, porque isso vai ser em parte repassado do produtor para o preço da commodity. No Brasil, houve uma medida recente do governo de tirar imposto de importação sobre alguns produtos de alimentos, para a gente frear essa subida forte, mas isso também tem efeito de curto prazo”, afirma. Ainda segundo ele, no caso da expectativa em relação a melhora da produção das safras, a previsão ainda é incerta, mas a intenção é que elas se equilibrem no curto e médio prazo.

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