MERCADO
Os caminhos para o sucesso familiar nos negócios
Planejamento, profissionalismo e projeção de futuro são as palavras de ordem em empresas pernambucanas que têm atingido bons resultados
Por: Marcílio Albuquerque
Publicado em: 19/02/2024 09:06 | Atualizado em: 19/02/2024 10:02
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Na Rota do Mar, filhas de Arnaldo começaram como estagiárias. Hoje, tocam empresa (Divulgação) |
Eixo fundamental para qualquer negócio, a capacitação e o profissionalismo se mostram ainda mais indispensáveis em empresas geridas por famílias. A divisão bem estruturada das tarefas e a separação consciente dos rendimentos são algumas das vertentes que não podem faltar, almejando se manter de portas abertas e ultrapassando gerações. Os números não são poucos. No Brasil, conforme dados do IBGE, cerca de 80% das empresas têm algum perfil familiar. Juntas, conseguem responder por metade do PIB, empregando mais de 70% da mão de obra. O recorte de Pernambuco também traz experiências exitosas, mas que precisam mirar nos mesmos propósitos, de olho no futuro.
De acordo com a advogada, Lorena Melo, especialista em Direito da Família e Sucessões, do escritório Da Fonte, a ausência de profissionalismo, conflitos pessoais nas relações entre parentes e a mistura de gastos pessoais são alguns dos problemas mais recorrentes. "Na prática, não existe uma receita ou modelo prontos e cada empresa terá um comportamento próprio. Lidar com pessoas nem sempre é uma tarefa fácil, mas o que deve valer para todos é estabelecer a barreira entre sentimentos pessoais e o âmbito profissional. Independente de cônjuges, filhos, netos, o pensamento deve ser corporativo", explica.
Conforme Melo, é preciso deixar de lado a mistura entre trabalho e afeto, pavimentando o caminho para avançar gerações. "Devem ser adotados os princípios comuns para qualquer organização, como o planejamento estratégico, plano de carreiras, controle de gastos, orçamento e estudo da concorrência, conhecendo bem o seu mercado. Não é priorizar apenas o poder, a propriedade, o sangue de herança. Mas pensar numa sustentação para o amanhã", reforça.
Ela lembra que a ausência, seja brusca ou planejada, de um sócio-fundador é um elemento que, via de regra, muda os rumos da companhia e, em boa parte dos casos, leva à sua decadência. Um apanhando que corresponde a média de 60% dos casos. "A sucessão é um assunto polêmico, às vezes até um tabu. Mas que precisa ser organizada previamente. O alinhamento transparente de expectativas de quem vai sair, assim como de quem está entrando, é o que vai garantir o sucesso nesta passagem de bastão", orienta a advogada.
O empresário, Avelar Loureiro Filho, de 57 anos, deixou o mercado financeiro nos anos 1990, unindo-se, inicialmente, a uma cunhada para embarcar no campo da construção civil. O negócio prosperou e o time foi reforçado pelos três filhos e um genro. "Hoje posso afirmar que o ponto-chave do nosso sucesso foi entender que era preciso se capacitar. Todos foram em busca de uma formação acadêmica sólida, assim como trazer experiências profissionais e vivências de mercado", explica. Hoje, o grupo ACLF emprega cerca de 1,2 mil funcionários e estendeu seu leque para a administração de shopping center e até uma unidade de produção de camarão. "Mantemos um conselho, onde as opiniões são geridas para se tornarem decisões. Enxergo o grupo de hoje como bem mais preparado, o que traz a certeza de que saberão assumir o controle no momento certo", destaca.
A história exitosa se repete no cotidiano de Hugo Gonçalves, 58, presidente da Tambaú Alimentos. "A família é a base de tudo. Acredito que devemos sempre estar alinhados à necessidade, ao sonho de vencer e de construir. Apesar das demandas financeiras, a de se autoafirmar, de construir e de fazer acontecer, é a família que consegue promover todo o apoio necessário. O fundador sempre saberá dos limites e até onde a empresa aguenta “esticar a corda", assegura o gestor da empresa, fundada em Custódia, no Sertão, que se modernizou para ganhar o paladar do país.
Na mesma esteira, a marca timbaubense Óticas Visão já alcançou os 50 anos de mercado. A empresa familiar está na segunda geração e faturou, em 2023, cerca de R$ 16 milhões. Para 2024, a perspectiva é de um crescimento em torno de 25% nas vendas. "O cenário mais positivo na construção de uma empresa ao lado de familiares é a confiança, a lealdade de trabalhar com pessoas que têm a mesma compreensão dos valores e metas que a gente busca. Agora temos que ter muito cuidado em separar as questões familiares dos negócios", pondera o atual administrador financeiro, André Lima, 38, que divide as tarefas com a esposa, Inês Tavares.
Para Sofia Acioli, fundadora do Laboratório Nabuco, que mantém 13 unidades em Pernambuco e presença em mais dois estados, o desafio não foi diferente. "Eu já tinha 10 anos de experiência na área, quando resolvi fundar algo novo, trazendo uma percepção de que qualidade seria o primordial. Apesar de ser médica, acabei me apaixonando por gestão também. Fomos verdadeiros desbravadores. Nessa época, os filhos já estavam formados, mas trabalhando em outros lugares. Nós estávamos aqui, eu e meu marido que também é médico, tocando a empresa sozinhos. Hoje, a maior satisfação é olhar no retrovisor e ver que conseguimos passar todo esse legado para eles", conta.
No mesmo passo, mas desta vez no segmento de confecções, a Rota do Mar foi fundada em dezembro de 1996. Para somar com o pai, duas das três filhas assumiram cargos estratégicos na empresa, onde começaram ainda como estagiárias. "Quando a família está inserida dentro no dia a dia e atuando no mesmo local de trabalho, a possibilidade de longevidade é maior, porque outras gerações irão assumir e continuar desenvolvendo o negócio. O desafio de quem mora junto, vive junto, convive junto é sempre tentar separar a parte profissional da parte familiar para que a empresa se mantenha competitiva", revela o diretor-presidente, Arnaldo Xavier.
A presidente do Conselho de Família do Grupo Moura, Mariana Moura, também amplia esta atmosfera e diz que a conjuntura positiva se configura quando a coesão entre as pessoas é preservada, propiciando um ambiente aberto ao diálogo e à definição de valores fundamentais para o crescimento sustentável do negócio. "O alinhamento em prol do fortalecimento da empresa, com foco no desenvolvimento contínuo e no impacto positivo na comunidade, é um indicador de sucesso. São valores sólidos, que desempenham um papel crucial nesse contexto", afirma a gestora da companhia de baterias, que nasceu em 1957, na cidade de Belo Jardim. "Uma empresa familiar bem-sucedida é aquela que construiu um legado", completa.
De acordo com a advogada, Lorena Melo, especialista em Direito da Família e Sucessões, do escritório Da Fonte, a ausência de profissionalismo, conflitos pessoais nas relações entre parentes e a mistura de gastos pessoais são alguns dos problemas mais recorrentes. "Na prática, não existe uma receita ou modelo prontos e cada empresa terá um comportamento próprio. Lidar com pessoas nem sempre é uma tarefa fácil, mas o que deve valer para todos é estabelecer a barreira entre sentimentos pessoais e o âmbito profissional. Independente de cônjuges, filhos, netos, o pensamento deve ser corporativo", explica.
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Advogada Lorena Melo explica a importância da separação entre os gastos pessoais e da empresa (Divulgação) |
Ela lembra que a ausência, seja brusca ou planejada, de um sócio-fundador é um elemento que, via de regra, muda os rumos da companhia e, em boa parte dos casos, leva à sua decadência. Um apanhando que corresponde a média de 60% dos casos. "A sucessão é um assunto polêmico, às vezes até um tabu. Mas que precisa ser organizada previamente. O alinhamento transparente de expectativas de quem vai sair, assim como de quem está entrando, é o que vai garantir o sucesso nesta passagem de bastão", orienta a advogada.
O empresário, Avelar Loureiro Filho, de 57 anos, deixou o mercado financeiro nos anos 1990, unindo-se, inicialmente, a uma cunhada para embarcar no campo da construção civil. O negócio prosperou e o time foi reforçado pelos três filhos e um genro. "Hoje posso afirmar que o ponto-chave do nosso sucesso foi entender que era preciso se capacitar. Todos foram em busca de uma formação acadêmica sólida, assim como trazer experiências profissionais e vivências de mercado", explica. Hoje, o grupo ACLF emprega cerca de 1,2 mil funcionários e estendeu seu leque para a administração de shopping center e até uma unidade de produção de camarão. "Mantemos um conselho, onde as opiniões são geridas para se tornarem decisões. Enxergo o grupo de hoje como bem mais preparado, o que traz a certeza de que saberão assumir o controle no momento certo", destaca.
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Hugo Gonçalves diz que o sabor familiar é instrumento fundamental (Foto: Bruno Campos) |
A história exitosa se repete no cotidiano de Hugo Gonçalves, 58, presidente da Tambaú Alimentos. "A família é a base de tudo. Acredito que devemos sempre estar alinhados à necessidade, ao sonho de vencer e de construir. Apesar das demandas financeiras, a de se autoafirmar, de construir e de fazer acontecer, é a família que consegue promover todo o apoio necessário. O fundador sempre saberá dos limites e até onde a empresa aguenta “esticar a corda", assegura o gestor da empresa, fundada em Custódia, no Sertão, que se modernizou para ganhar o paladar do país.
Na mesma esteira, a marca timbaubense Óticas Visão já alcançou os 50 anos de mercado. A empresa familiar está na segunda geração e faturou, em 2023, cerca de R$ 16 milhões. Para 2024, a perspectiva é de um crescimento em torno de 25% nas vendas. "O cenário mais positivo na construção de uma empresa ao lado de familiares é a confiança, a lealdade de trabalhar com pessoas que têm a mesma compreensão dos valores e metas que a gente busca. Agora temos que ter muito cuidado em separar as questões familiares dos negócios", pondera o atual administrador financeiro, André Lima, 38, que divide as tarefas com a esposa, Inês Tavares.
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No Laboratório Nabuco, legado seguiu da mãe para os filhos (Divulgação) |
Para Sofia Acioli, fundadora do Laboratório Nabuco, que mantém 13 unidades em Pernambuco e presença em mais dois estados, o desafio não foi diferente. "Eu já tinha 10 anos de experiência na área, quando resolvi fundar algo novo, trazendo uma percepção de que qualidade seria o primordial. Apesar de ser médica, acabei me apaixonando por gestão também. Fomos verdadeiros desbravadores. Nessa época, os filhos já estavam formados, mas trabalhando em outros lugares. Nós estávamos aqui, eu e meu marido que também é médico, tocando a empresa sozinhos. Hoje, a maior satisfação é olhar no retrovisor e ver que conseguimos passar todo esse legado para eles", conta.
No mesmo passo, mas desta vez no segmento de confecções, a Rota do Mar foi fundada em dezembro de 1996. Para somar com o pai, duas das três filhas assumiram cargos estratégicos na empresa, onde começaram ainda como estagiárias. "Quando a família está inserida dentro no dia a dia e atuando no mesmo local de trabalho, a possibilidade de longevidade é maior, porque outras gerações irão assumir e continuar desenvolvendo o negócio. O desafio de quem mora junto, vive junto, convive junto é sempre tentar separar a parte profissional da parte familiar para que a empresa se mantenha competitiva", revela o diretor-presidente, Arnaldo Xavier.
A presidente do Conselho de Família do Grupo Moura, Mariana Moura, também amplia esta atmosfera e diz que a conjuntura positiva se configura quando a coesão entre as pessoas é preservada, propiciando um ambiente aberto ao diálogo e à definição de valores fundamentais para o crescimento sustentável do negócio. "O alinhamento em prol do fortalecimento da empresa, com foco no desenvolvimento contínuo e no impacto positivo na comunidade, é um indicador de sucesso. São valores sólidos, que desempenham um papel crucial nesse contexto", afirma a gestora da companhia de baterias, que nasceu em 1957, na cidade de Belo Jardim. "Uma empresa familiar bem-sucedida é aquela que construiu um legado", completa.
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