Economia
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'Queremos ser o porto mais eficiente do Brasil'. Entrevista com Roberto Gusmão, diretor-presidente de Suape.
Publicado: 08/01/2022 às 10:26

/Foto: Reprodução/SUAPE-PE
Os empreendimentos atraídos pelo Complexo Industrial Portuário de Suape são avaliados pelo diretor-presidente, Roberto Gusmão, como sinais de um novo ciclo. Na lista, a ampliação da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), a chegada de indústrias de hidrogênio verde,implantação de um terminal para regaseificação e o aumento do transporte de cabotagem. As cifras de tais projetos são superlativas. Para cada um, bilhões. Montantes a serem aplicados ao longo de alguns anos. A Petrobras, por exemplo, anunciou a aplicação acima de R$ 5 bilhões para ampliar a capacidade de produção da refinaria. “2021 foi o ano do novo ciclo de Suape e 2022 será a consolidação deste novo ciclo”, disse Gusmão, em entrevista exclusiva ao Diário de Pernambuco. Neste novo ciclo, inclua-se a corrida do governo do estado para conseguir uma empresa para finalizar o Ramal Suape da Transnordestina. Chegou-se a um novo modelo de arranjo, a Transertaneja, orçada em R$ 5,7 bilhões. Em síntese, indica o diretor-presidente, a expansão da Rnest duplicará a movimentação de Suape, e o projeto da Transertaneja, com um terminal de minério de ferro, triplicará o movimento no porto, cuja gestão traçou a meta de ser o melhor no ambiente digital.
TRANSNORDESTINA
Os projetos existentes para levar a ferrovia a Suape são coisas distintas. A Transnordestina é um projeto regional, uma concessão do governo federal à empresa Transnordestina, do grupo da CSN. A empresa alegou (em 2021) que não tinha condições de construir mais os dois ramais e ia concluir apenas o de Pecém. A ferrovia está construída do município de Curral Novo (PI) a Salgueiro (PE) e faltam os trechos de Salgueiro para o Porto de Pecém (CE) e de Custódia (PE) até Suape. E o que nós (governo do estado) construímos com o Ministério da Infraestrutura não é mais chamada de Transnordestina. A nova outorga é uma autorização de uma via ligando Curral Novo a Suape, em 717 km. Ela foi chamada de Transertaneja. A outorga não é uma concessão pública, é eminentemente privada, com todos os riscos e custos do privado. Foi a alternativa que tivemos pela falta de compromisso da Transnordestina para terminar o projeto do lado pernambucano, mesmo com a gente provando que o trecho de Suape era mais barato de se fazer e tinha uma viabilidade econômica pela frete de retorno, principalmente na área de combustíveis. Essa solução não é a complementação do trecho Custódia a Suape. Ela poderá tornar-se se os dois grupos que agora competem se entenderem. A Transnordestina ainda tem a concessão pública de Salgueiro para Suape e agora há a autorização de outorga, sendo que quem possui a carga, o minério de ferro que viabiliza o empreendimento, é a Bemisa. Ela poderá fazer um trecho paralelo ao Ramal Suape, ligando a sua mina ao porto.
TERMINAL DE MINÉRIO
O estado vai entrar com recurso zero na Transertaneja. A única coisa que o estado vai entrar, e que anunciamos na consulta pública, é retirar a Ilha de Cocaia da poligonal do Porto Organizado. O porto de Suape tem a área do Porto Organizado, onde tem atracação, descarrego de navio e o canal principal. A autonomia sobre esse mecanismo operacional perdemos, assim como os outros públicos do país. Quem administra essa área é a Secretaria Nacional de Portos, é o Ministério da Infraestrutura. Então, qualquer coisa que se queira fazer nessa área determinada do porto tem que ter anuência do poder concedente, o governo federal. O que vamos fazer já está em consulta, para que essa área, que pertence ao porto volte ao poder de Suape, e possamos doar através do chamamento público do terminal de minério, previsto no Plano Diretor de Suape desde 2011, para este mesmo grupo Bemisa. O projeto de concessão de Cocaia deve estar resolvido em fevereiro. A consulta foi publicada no dia 7 de dezembro, deu-se 30 dias para colher as sugestões por email e depois da consulta fazer uma análise. Haverá um prazo de 15 dias para ver coisas que podem ser incluídas na consulta e ser referendado em fevereiro, pela Secretaria Nacional de Portos, para se fazer essa retirada.Até meados de maio, teremos essa área de Cocaia estabelecida dentro deste empreendimento.
EXPANSÃO DA RNEST
A Petrobras conseguiu anunciar no seu plano de investimento dos próximos quatro anos a conclusão tão aguardada da segunda fase, do segundo trem da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), para que ela possa produzir os 230 mil barris e fazer os investimentos em equipamentos de melhoria da parte ambiental. Nos próximos quatro ou cinco anos, somente a refinaria dobra a movimentação de Suape, e a Transertaneja, triplica. Serão quase 25 milhões de toneladas de minério de ferro que vão ser exportadas por ano pelo grupo Bemisa. E tem mais fatores, como empreendimentos de navios de regaseificação. Estes investimentos vão fazer com que, em quatro ou cinco anos, Suape se consolide como um dos três portos mais importantes do país. Tendo duas funções importantes: uma na distribuição da importação de veículos e a distribuição dos veículos importados no Brasil, pois temos condições de fazer agora por transbordo e por cabotagem, e pela atração de uma indústria de hidrogênio verde. Em quatro ou cinco anos, temos investimento em energia do futuro, que é o hidrogênio verde,temos o investimento concluído da refinaria, que é um investimento de médio prazo, para o período de transição energética, e o novo mercado nacional, que é o gás, que com a lei que regulamenta o setor, criou um ambiente de segurança jurídica em que todos os principais players nacionais procuram Pernambuco pela localização e pelas condições que o estado oferece do ponto de vista tributário para aqui fazer sua sede e seu centro logístico.
NOVAS VAGAS
Não vamos ter, com o anúncio da expansão da refinaria, o mesmo boom de criação de empregos da primeira fase. As obras civis, onde se emprega mais, praticamente foram concluídas. O que falta é a parte de equipamentos, de montagem. Mesmo a montagem de equipamentos enormes vai gerar de dois mil a quatro mil empregos. A expansão é muito importante para Pernambuco. Não só pelo emprego, que é o que a gente precisa neste momento, mas porque vai aumentar a movimentação e consequentemente os empregos dos terminais de granéis líquidos, em que somos líderes no Brasil. A notícia de expansão da refinaria foi uma alegria muito grande por consolidar um empreendimento extremamente importante para o estado e região. Na verdade, a refinaria consolidou Suape a nível de movimentação e de investimento. Todos os píeres de Suape são frutos da antecipação de recursos de tarifas, feitas no governo Eduardo Campos e que hoje servem tanto à Petrobras quanto para a atração de novos empreendimentos.
HIDROGÊNIO VERDE
Quanto ao hidrogênio verde, temos um grupo já consolidado em Suape, o grupo Qair. Fora o Qair, temos seis outros protocolos de intenção. É muito claro porque estes players estão procurando Pernambuco e o Nordeste: a Europa não vai conseguir produzir, por falta de condições técnicas, o volume de combustível que o mundo vai precisar produzir. Os dois principais países capazes de fazer a complementação da qual a Europa tanto precisa é a Austrália e o Brasil. E o Brasil através do Nordeste. A técnica de produção de hidrogênio existe há mais de 80 anos. Qual a diferença do hidrogênio verde para outros hidrogênios? É que a quebra da molécula para a formação do hidrogênio tem que vir de energias alternativas, ambientalmente corretas, que são três: solar, eólica e hídrica. Temos as três na matriz energética do Nordeste. A geração dessa energia é que faz com que o hidrogênio seja verde. A partir dessa captação de empresas, Suape passa a ser um ponto importante de produção de matéria-prima verde, para atrair empresas de estrutura verde. Então, esse movimento é importante não só para gerar movimentação portuária, mas porque cria um ambiente de uma estrutura de uma nova indústria e nós estamos contratando uma consultoria para estudar isso. A Qair tem um cronograma para a fábrica do hidrogênio verde. Ela tem que implantar o primeiro módulo até 2026, porque há um protocolo dos seus acionistas, e o principal acionista é o governo francês. Todos os grandes governos – francês, alemão – vão investir nesse tipo de energia porque é estratégico. Já o governo federal está muito confuso. Tem áreas de excelência, como a da Infraestrutura, pois acreditou em uma pessoa técnica, o ministro Tarcísio (Gomes de Freitas), vinda de outros governos, com experiência, concursado e que montou uma equipe técnica e tem feito avanços, principalmente da iniciativa privada na parte de ferrovia. Agora, o governo não mostrou na área energética nenhum tipo de planejamento para saber onde vai chegar. O governo foi surpreendido por uma agenda de fora para dentro. está sendo atropelado por uma agenda ambiental da qual é contra, Mas creio que a população vai julgar não por uma fotografia, vai julgar como um filme, pelo que avançou em cada área.
CABOTAGEM
A nova lei de cabotagem é muito importante para Suape. Somos líderes de cabotagem no Brasil por conta da refinaria. Essa lei que trata do transporte entre portos não foi criada ao alento, é uma lei pós-guerra, que estabelecia uma certa segurança do litoral brasileiro quanto às embarcações internacionais. Isso criou uma reserva de mercado muito grande. Ao permitir fazer a cabotagem apenas com empresas e grupos nacionais, criou uma baixa competitividade e uma baixa eficiência no sistema logístico. Hoje temos dificuldade de armadores para fazer grandes operações. Os portos já movimentam cerca de 80% do comércio mundial e esta é uma tendência que vai chegar de forma intensa no Brasil. Não há sentido ter uma fábrica da Nissan no Sul do país e toda a produção vir para o Nordeste em cegonheiros, quando você podia botar a produção pelo Porto de Santos e descarregar em Suape três mil veículos, o que significa ganhos ambiental, de combustível e uma economia de escala financeira fundamental. Isso não acontece hoje no país, mas vai acontecer. Não tem como parar esse mecanismo porque todo mundo faz conta. A lei de cabotagem vai criar condição em Suape e no Nordeste muito importante porque o mercado automobilístico mudou completamente no mundo. A Ford saiu daqui e foi para a Argentina. Isso é parte de uma estratégia mundial. Vão ficar seis ou sete montadoras no Brasil e o resto vai fazer a importação e vai distribuir no país. Somos o principal porto do país na entrada de importação desses principais players. Temos um pátio de veículos alfandegário com capacidade de quase nove mil veículos e tivemos uma movimentação de quase 30% a mais (em 2021), de importação e exportação, por conta da nova modelagem de logística, que vai baixar frete e custo.
GASEIFICAÇÃO
O terminal de gaseificação é um pedido antigo no estado. Como não tinha a Lei do Gás, que é uma regulação, uma lei firme para investimentos e por permitir a participação de novos players no mercado, que era monopólio da Petrobras. A publicação da lei, em abril de 2021, criou novo mercado. A Petrobras anunciou a saída do mercado do Nordeste e vai trabalhar a parte Sul e os principais players do mundo estão enxergando no Nordeste e em Suape um centro importante de abastecimento de gás na rede através do terminal de regaseificação. Temos em Suape um cais de múltiplo uso, cuja movimentação é de 1% a 2% do porto, em que, em entendimento com a Secretaria Nacional de Portos, firmamos um contrato de transição de 180 dias, podendo ser renovado, enquanto fazemos um contrato definido, de 25 anos, para que se possa trazer navios para fazer a regaseificação e para jogar na rede da distribuidora, a Copergás, e ter oferta de gás mais barato para a indústria. Atualmente ficamos na mão da Petrobras. Em 2021, a Copergás fez a primeira operação privada (de compra de gás) do país, com custos até 17% abaixo do estabelecido. Para os arranjos produtivos do estado, o gás é fundamental para aumentar a competitividade.
EFICIÊNCIA
Queremos chegar a ser o porto com o melhor ambiente a que Sílvio Meira (cientista) chama de digital, o ambiente físico e digital. Queremos ser o porto mais eficiente do Brasil, em médio prazo. Temos certeza disso porque os mecanismos de certificação obtidos por Suape e os projetos sociais feitos, se modelados ou embalados, são exatamente a modelagem que o mundo solicita hoje. O ambiente de governança de Suape é líder como empresa pública. Em 2021, reflorestamos 368 hectares para completar 8 mil hectares que já existem preservados em Suape, nos 13.500 (de todo o complexo). Então, 60% do nosso território é um grande cinturão verde de compensação ambiental. Isso não existe em nenhum outro porto do Brasil. Temos ainda os projetos dos quintais produtivos, junto com os produtores de Suape, colocando tecnologia para que possam dispor de itens de sobrevivência. Temos projetos com a UFRPE sobre plantas exóticas, de produção de mel por abelhas sem ferrão. Fizemos um planejamento muito forte, mas os resultados para 2021 foram extremamente satisfatórios em atração de negócios e na consolidação da governança e dos projetos sociais e ambientais. 2021 foi o ano do novo ciclo de Suape e 2022 será a consolidação deste novo ciclo.
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