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MEDICAMENTOS

Adaptação à pandemia e corrida por remédios nas redes de farmácias

Publicado em: 30/05/2020 08:00

Aldo César Passilongo da Silva é presidente do Conselho Regional de Farmácia de Pernambuco (Foto: Roberta Patu /CRFPE)
Aldo César Passilongo da Silva é presidente do Conselho Regional de Farmácia de Pernambuco (Foto: Roberta Patu /CRFPE)
Passado e futuro interligados como nunca. O distanciamento social ocasionado pela pandemia da Covid-19 fez com que fosse necessária a mistura entre práticas típicas do passado e a abreviação de soluções que ainda pareciam vislumbre de um futuro. O segmento de farmácias, por exemplo, nunca precisou tanto estar inserido nos mecanismos de entrega delivery. De acordo com a o Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado de Pernambuco (Sincofarma), o faturamento do setor com esta plataforma passou de 10% para até 30%. Além disso, as lojas têm investido em palavras-chaves como rapidez, estoque e, ao mesmo tempo, proximidade com o cliente.

O presidente da Sincofarma, Ozeas Gomes da Silva, afirma que a qualidade da prestação de serviços é, em tempos de pandemia, ainda mais essencial. “Ninguém gosta de achar seus medicamentos em lojas diferentes. O cliente quer tudo em um só lugar. Além disso, o remédio precisa chegar rapidamente até ele”, afirma, complementando que a maioria das grandes redes tradicionais não possuía ferramentas de entrega antes da pandemia. “Não é muito fácil fazer este gerenciamento, por isso não nos preocupávamos tanto com isto. Nosso faturamento com esta plataforma girava em torno de 10%. Hoje, varia de 20 a 30%”, explica.

Além deste investimento tecnológico, algumas redes apostam na boa e velha relação pessoal como diferencial no atendimento. A RD RaiaDrogasil resgatou a modalidade da entrega de vizinhança. O cliente liga diretamente para a farmácia mais próxima de sua residência (com limite de até 300 metros de distância) e solicita o medicamento/item, que será entregue a pé por um atendente, sem custo adicional. Já são mais de cinco mil atendimentos diários nessa modalidade.  A ideia surgiu, de acordo com o vice-presidente de operações da rede, Renato Raduan, em virtude da ligação dos próprios clientes. “Muitos ligavam para perguntar se algum atendente da própria loja poderia entregar os medicamentos em suas residências. Na grande maioria eram idosos, que têm mais dificuldade em lidar com a internet e aplicativos”, explica.

Em Pernambuco, quando o serviço teve início, há pouco mais de dois meses, eram feitos poucos pedidos por dia. Atualmente, são mais de 260 solicitações diárias, em todo o estado.  A dentista aposentada Maria do Carmo Rodrigues de Matos, 69, é uma das usuárias. “Quando o produto chega, desço devidamente paramentada e encontro quase sempre o mesmo funcionário, o David, que também está protegido. Além disso, ele está sempre sorrindo e de bom humor”, conta.  Ela explica que esta relação faz diferença em uma rotina em que o isolamento tem ditado o tom. “Tenho quatro filhos, mas, neste momento, estamos mais distantes. Então, é importante, nestes tempos mais solitários, encontrar uma pessoa alegre, simpática”, finaliza.

Produtos mais procurados e vendidos

O presidente do Sincofarma, Ozéas Gomes, afirma que o consumo de itens como máscara, luva e álcool em gel aumentou em mais de 100% nas farmácias no início da pandemia, chegando mesmo a haver desabastecimento. Pesquisa divulgada no dia 5 de maio pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), por meio do Instituto Datafolha, traz outros dados e aponta a vitamina C (ácido ascórbico) como campeã em vendas. Em Pernambuco, a comercialização  de frascos de vitamina C passou de 292.648 unidades no mês de fevereiro para 1.540.789, em março. Os analgésicos e antitérmicos também tiveram acentuado aumento: a dipirona passou de 341.961 caixas vendidas (fevereiro) para 1.066.947 (março) e o paracetamol de 111.082 (fevereiro) par 432.090 (março). Quanto à hidroxicloriquina, à qual foi atribuída a capacidade de curar a Covid-19, o aumento passou de 2.703 caixas para 9.388.

Os percentuais são uma demonstração da influência do medo sobre um hábito consagrado entre a população brasileira, o uso indiscriminado de medicamentos. O presidente do Conselho Regional de Farmácia de Pernambuco, Aldo César Passilongo da Silva, lembra que, com a pandemia, as pessoas passaram a comprar medicamentos em maior quantidade, o que pode aumentar mais os riscos já existentes no uso indiscriminado mesmo dos isentos de prescrição. “Toda farmácia e drogaria é obrigada, pela lei federal n° 13021 a ter um farmacêutico responsável ou assistente, presente no local para dar orientações pertinentes e para as vendas dos controlados”, afirma.

Ele lembra, ainda, da necessidade da posologia correta. “Dependendo da dose, o paracetamol pode ser hepatóxico, levando à cirrose ou câncer. A dipirona é tóxica para as células sanguíneas. Antiinflamatórios utilizados por muito tempo comprometem a proteção gástrica, sem contar as interações entre remédios e alimentos e as medicamentosas. A vitamina C tem sua eficácia, mas o uso prolongado, como todos os polivitamínicos, pode causar problemas estomacais e, a longo prazo, danos para os rins”, finaliza, alertando, ainda para as consequências do uso indiscriminado da hidroxicloroquina como problemas na visão, convulsões, insônia, diarreias, vômitos, alergias graves, arritmias e até parada cardíaca.

*Pernambuco possui 3 mil farmácias, 1.500 na RMR e 700 no Recife

* Apenas 30% delas são pertencentes às grandes redes.

 *A automedicação é um hábito comum a 77% dos brasileiros. Quase metade (47%) se automedica pelo menos uma vez por mês, e um quarto (25%) o faz todo dia ou pelo menos uma vez por semana.

 
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