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Mesmo em crise financeira, Oi planeja venda de ativos e aplicação de 5G

Publicado em: 31/10/2019 07:36

 (Oi/Divulgação)
Oi/Divulgação
Na edição da Futurecom deste ano, na zona Sul de São Paulo, as quatro maiores operadoras de telecom do país estão lado a lado. Cada sala, com paredes de vidro, está a apenas alguns poucos passos de distância. Se Rodrigo Abreu, diretor de Operações (COO, na sigla em inglês) e futuro presidente da Oi, espirrar, o italiano Pietro Labriola, CEO da TIM no Brasil, pode desejar os votos de melhora sem ter de projetar demais a voz.

Para Claro, Vivo e TIM, essa proximidade com a Oi poderia ir além da vizinhança no maior evento de tecnologia do país. Seus executivos já declararam considerar a possibilidade de se associar ou adquirir o controle da quarta maior operadora de telecom do país. Abreu, por sua vez, garante que até agora não houve nenhuma conversa concreta, nem sequer um encontro para um cafezinho em torno do assunto.

O COO, que já foi presidente da TIM, chegou ao cargo em setembro e, nos próximos meses, passará à presidência, ocupada por Eurico de Jesus Teles Neto. Hoje, Abreu está responsável pelo dia a dia operacional da companhia. Apesar de ser uma tarefa complicada por conta da situação da Oi, que entrou com pedido de recuperação judicial em junho de 2016 – no fato relevante, a companhia informou que o total a pagar a terceiros, na época, será de R$ 65,4 bilhões –, o executivo se mostra tranquilo ao falar sobre suas metas para melhorar o perfil da dívida e tornar a companhia mais rentável.

Parte importante da estratégia é a venda dos ativos chamados de não prioritários. O mais relevante é a participação de 25% na operadora Unitel, de Angola. “Já estamos em processo de venda, mas não posso dar detalhes. Mantenho a confiança de que o negócio deve ser concretizado até o fim do ano”, disse Abreu, aos Diários Associados, sem revelar mais informações. A estimativa é de que a venda total de ativos gere entre R$ 7,5 bilhões e R$ 8 bilhões aos cofres da Oi.

Milhares de imóveis
Além do ativo no continente africano, a Oi tem, em sua carteira, em torno de 8 mil imóveis à procura de novos donos. A previsão é de que todos tenham outros proprietários até 2021. A estratégia é começar a negociar primeiro os patrimônios de maior valor para, em uma etapa seguinte, concentrar esforços nos menores.

Outra parte dos ativos da Oi que procura por compradores é a de infraestrutura, por exemplo, torres e big datas. Para Abreu, o foco da empresa deve ser a expansão do serviço de fibra e a substituição do cobre. O executivo acredita que a companhia pode se fortalecer como prestadora de serviço entre clientes residenciais, empresariais e como fornecedora de infraestrutura para outras operadoras.

Para colocar essa meta em prática, será preciso manter o foco na redução de ativos e, por sua vez, nos investimentos. Nos últimos anos, a Oi reduziu os aportes, o que acabou chegando ao ápice com o pedido de recuperação judicial. De lá para cá, os investimentos vêm sendo retomados novamente. “Entramos em uma rota em que investíamos menos do que deveria, mas agora tem ocorrido o contrário. Óbvio que temos desafios a serem enfrentados, mas a empresa não está mais fora de controle”, garante o executivo.

Outra forma de obter caixa deverá ser por meio da emissão de títulos garantidos por recebíveis, com um prazo de vencimento de cinco anos. A operação está sendo estruturada pelos bancos Morgan Stanley e BTG Pactual, e a emissão deve ocorrer só no ano que vem. De acordo com Abreu, a atual estrutura financeira da Oi precisa dessas diferentes fontes para manter seus investimentos – que deverão chegar a R$ 7,5 bilhões em 2019 e valor semelhante em 2020. "Em qualquer companhia de telecom, como costumam dizer, não existe monotonia.”

Abreu pode garantir que monotonia, no seu caso, está fora do dicionário. Além de precisar se desfazer de ativos, captar recursos e continuar a investir para expandir a oferta de fibra, o futuro presidente da Oi ainda tem de lidar de forma hábil como as especulações quase diárias sobre a possível venda da divisão de telefonia móvel para um de seus concorrentes. “Esse é um sinal de que existe um reconhecimento quanto aos ativos da companhia e sua posição estratégica”, avalia.

Abreu é enfático ao afirmar que não há nenhuma proposta sobre a mesa e lembra que há pelo menos duas décadas se fala da tendência de consolidação no setor de telefonia. “Essa conversa é saudável entre as empresas. Se formos estimulados, vamos ter a obrigação de analisar (uma proposta)”, diz Abreu, sobre a possibilidade de ser sondado por um de seus concorrentes para a venda do controle ou associação.

Leilão deverá ocorrer no 2º semestre de 2020 
Investir em infraestrutura e, particularmente, em redes e fibra faz parte da estratégia da empresa de se posicionar de forma adequada para a chegada da quinta geração, o 5G, no Brasil. O leilão, previsto para o primeiro semestre de 2020, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), só deve ocorrer no segundo semestre. Enquanto isso, a Oi e suas concorrentes fazem simulações para verificar a qualidade do sinal, as necessidades tecnológicas e os problemas que a novidade pode trazer ao mercado brasileiro.

Parte desse trabalho é feito nos chamados “testes de convivência” entre os serviços móveis de 5G e os sinais de TV aberta, transmitidos via satélite e captados por antenas parabólicas. Segundo Abreu, não há uma solução definitiva, e os testes ainda estão sendo feitos.

Um deles ocorreu durante o Rock in Rio, no início do mês, que teve a cobertura com 5G pela Oi. O executivo garante que não houve interferência nas TVs, mas, segundo ele, ainda não é possível afirmar que a aplicação de filtros será suficiente para resolver essa convivência entre tecnologias. Abreu lembra que, apesar dos esforços da indústria para encontrar uma solução, até 2023, as TVs terão de colocar filtros em seus receptores, o que reduziria a interferência do sinal móvel.

Investimentos
Apesar de as operadoras ainda estarem quebrando a cabeça para resolver o problema da interferência no sinal de TV aberta, Abreu não considera que haja um atraso no cronograma para avançar com o 5G. O executivo da Oi lembra que a própria Anatel depende de testes e de outras informações de operadoras, fornecedores e especialistas para reunir subsídios antes da formulação das regras para o leilão da nova frequência de telefonia móvel.
Assim como seus pares da concorrência, o COO da Oi se mostra apreensivo quanto ao caráter que a Anatel poderá dar ao leilão. Se for arrecadatório, acredita, poderá haver um comprometimento dos investimentos na nova frequência. “A agência precisará definir se vai privilegiar a cobertura (com 5G) ou a arrecadação. Seu papel é promover investimentos e desenvolvimento do setor. Se a Anatel criar um modelo que prejudique esses investimentos, isso pode não fazer sentido em um país com as características do Brasil.” 
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