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OBSERVATÓRIO ECONÔMICO

Pesquisa e política pública

Publicado em: 09/09/2019 08:41

Cientistas socais gastam tempo e recursos avaliando políticas públicas. Esse não é um fenômeno novo, mas tem sido cada vez mais presente. É cada vez mais usual se ouvir falar em estudos de impactos. Por exemplo, quais os resultados de um programa como o Bolsa Família? O que realmente melhorou? Minha Casa, Minha Vida é bom? Como? Qual é foi o impacto na vida das pessoas?

As implicações, pelo menos para os cientistas, são claras: se um programa gera um impacto positivo ele pode ser mantido ou ampliado. Caso contrário, não faria sentido gastar os recursos públicos em algo que não funciona. Uma pergunta mais básica, entretanto, é: as pessoas que tomam as decisões de gastos se importam com as pesquisas e estudos, ou eles estão condenados ao esquecimento e insignificância?

Um grupo de pesquisadores se propôs a dar um passo na direção de responder essa pergunta. Jonas Hjort, Diana Moreira, Gautam Rao e Juan Francisco Santini apresentam um artigo no qual a principal pergunta é exatamente essa: como a pesquisa afeta as políticas públicas? Tendo como público-alvo gestores municipais brasileiros, prefeitos e secretários, os autores realizam dois experimentos interessantes. No primeiro experimento, os gestores são apresentados a resultados a respeito da importância do desenvolvimento na primeira infância para desempenho futuro das crianças. O que eles tentam observar é se o acesso a informação altera a percepção do gestor a respeito da questão. Ou seja, eles levam as informações das pesquisas em consideração?

Em um segundo experimento, os autores apresentam aos gestores uma política pública de baixo custo e bom resultado (alta chance de aumentar a arrecadação): o uso de cartas informando aos contribuintes a importância de pagar os tributos. A eficácia dessa política é apresentada via resultados de estudos anteriores. A pergunta nesse caso é se os gestores farão uso da política apresentada? Sendo breve, os resultados em ambas as perguntas foram positivos. Ou seja, os gestores levam em consideração as informações de estudos científicos e, estão dispostos a atuar quando são apresentados com políticas públicas baseadas em evidências de estudos acadêmicos. Claro, a barra apresentada foi baixa.

Mandar cartas é barato e aumentar as receitas é o sonho de todo gestor. Se eles não reagem a isso, difícil acreditar que farão algo mais caro e de resultados não imediatos, mas que seja importante para a população. Nesse sentido, o estudo dá um primeiro passo numa direção interessante e que pode melhorar a qualidade das políticas públicas nacionais. Os resultados são certamente animadores para os que passam a vida realizando pesquisas que tentam encontrar soluções melhores para a sociedade. São bons também para os que financiam os projetos. Afinal, as pesquisas podem fazer mais do que rechear currículos e ajudar a captar recursos para mais estudos.

* Professor do Departamento de Economia da UFPE.
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