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Depois de um PIB surpreendente, produção industrial cai

Publicado: 04/09/2019 às 07:41

Arquivo/Agência Brasil/

Arquivo/Agência Brasil/

Ao contrário do que o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre parecia sugerir, a indústria não engatou uma retomada de crescimento. Os dados da produção industrial de julho, divulgados nesta terça-feira (4) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam queda de 0,3% ante o mês anterior, na terceira baixa consecutiva e o pior desempenho para o mês em quatro anos — em 2015 houve retração de 1,8%. Mas a sangria da economia brasileira não para por aí. Segundo o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, agosto foi o “o fundo do poço”.

Entre as grandes categorias econômicas, puxaram o resultado de julho, na margem, bens intermediários, influenciado pela indústria extrativa e combustíveis, com recuo de 0,5%, e bens de capital (máquinas e equipamentos), com queda de 0,3%. Na comparação anual, a produção industrial encolheu 2,5%. O dado de junho foi revisado para pior, passando a mostrar contração de 0,7% sobre maio, ante queda estimada anteriormente de 0,6%. Segundo André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE, a trajetória da indústria em 12 meses tem sido “predominantemente descendente desde julho de 2018, quando, a produção acumulava alta de 3,2%”.

Para Marcelo Azevedo, economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o que surpreendeu foi o resultado do PIB e não o da PIM. “Os dados todos do trimestre não eram fortes, nem do IBGE nem da CNI. Nenhum mostrava crescimento. Julho veio confirmar essa dificuldade. Tivemos queda em horas trabalhadas, em emprego e utilização de capacidade instalada. A indústria não engata a retomada”. Conforme ele, o que preocupou foi o fato de o segmento de bens de capital ter queda, quando tinha crescido no PIB. “É um resultado bastante frustrante. Até porque a base de comparação já é deprimida”, completou.

Na opinião do professor Ricardo Balistiero, economista e coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, a preocupação era com a recessão técnica, se o segundo trimestre apontasse queda do PIB. “Isso porque o terceiro trimestre mostra que será ruim. A alta da indústria no segundo trimestre foi mais estatística, não tinha como se sustentar. Não é exagerado dizer que foi um voo de galinha”, disse. Para agosto, o especialista estimou números mais complicados. “Houve piora no ambiente externo, sobretudo na Argentina, e as falas do presidente (Jair Bolsonaro) não ajudam, pelo contrário, têm impacto econômico negativo”, analisou.

Produtividade
Apesar de a economia nacional ter avançado 0,4% no segundo trimestre do ano, o resultado não é motivo de comemoração, conforme o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida. Ele alertou que o país voltou a produzir pouco em agosto. “Sem sombra de dúvidas, agosto é o fundo do poço e marca o fim de um período complicado na economia brasileira”, disse. Sachsida destacou que, para o país voltar a entrar na rota do crescimento, é necessário controlar a situação fiscal, reverter a baixa produtividade da economia e se adaptar ao cenário internacional. “As mudanças não serão a curto prazo, mas podem começar a surtir efeito ainda neste ano. A partir de setembro teremos a volta de um crescimento um pouco mais sustentável”, estimou.

No mercado, os dados indicam continuidade do ritmo lento de recuperação da atividade econômica. A projeção preliminar do Itaú para o PIB do terceiro trimestre aponta para contração de 0,2%. “Não há sinais de recuperação nos componentes relacionados a investimento como bens de capital e insumos para construção civil”, justificou. Para o Goldman Sachs, o setor industrial deve continuar enfrentando “ventos contrários”, como “a atividade em declínio na Argentina”. A consultoria Rosenberg Associados espera “um crescimento modesto da indústria em 2019, de apenas 0,1%, com viés de baixa”.
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