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Startups conectam comunidade gay a vagas de emprego e produtos

Por: FolhaPress

Publicado em: 27/07/2019 09:22

Foto: Mariana Fabrício/DP (Foto: Mariana Fabrício/DP)
Foto: Mariana Fabrício/DP (Foto: Mariana Fabrício/DP)
Startups brasileiras começam a ver o potencial do "pink money" (dinheiro rosa), termo usado para ilustrar o poder de consumo da comunidade LGBT. Novas plataformas conectam gays, lésbicas, bissexuais e pessoas trans a produtos, serviços ou vagas de empresa.
 
Trata-se de uma fatia de mercado cobiçada. Estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgado em 2017 mostrou que a renda média de homossexuais que moram com o(a) parceiro(a) no Brasil é 65% maior do que a de chefes de família heterossexuais.
 
Segundo Hannah Salmen, analista de mercados de nicho do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), ainda não é possível calcular o potencial do mercado LGBT para pequenos negócios, já que as pesquisas não inserem perguntas sobre orientação sexual.
 
"Sabemos que o número de empresas focadas nos clientes LGBT está crescendo, mas não temos números oficiais", diz ela, que avalia esse grupo como "plural, amplo e promissor".
 
Para buscar esse potencial do "pink money" começaram a surgir startups específicas. Lançado em 2017, o aplicativo Sonder ajuda o público gay a planejar viagens, vende serviços e experiências de turismo e permite que usuários do mundo todo se conheçam.
 
Hoje, soma 8.000 downloads, produziu 20 guias temáticos e firmou parcerias com governos de Inglaterra, Grécia, Noruega, Japão e Seychelles.
 
Gestado na Fiap (Faculdade de Informática e Administração Paulista), o projeto venceu uma competição de inovação e recebeu aportes de três investidores-anjos. "Queremos transformar a sociedade e a nossa comunidade", diz o publicitário mineiro Rangel Vilas Boas, 34, um dos criadores.

No longo prazo, afirma ele, a ideia é atender todo o espectro LGBT. "As letrinhas têm suas particularidades, mas o modelo de negócios é replicável. Temos uma equipe enxutíssima, ainda não conseguimos abarcar todos os grupos."
 
Com um time de seis pessoas, mais programadores sob demanda, a plataforma contempla atualmente os homens gays, que movimentam um volume maior de dinheiro. "Eles gastam mais com festas, eventos e entretenimento, enquanto as lésbicas priorizam atrativos naturais e segurança quando viajam."
 
O segmento "colorido", de maneira geral, apresenta disposição 30% maior para pagar por bens de consumo, turismo, entretenimento e cultura.
 
As dificuldades da comunidade também têm provocado cases de êxito. Um exemplo é o da Homo Driver, que opera como Uber para a população LGBT desde dezembro, na Grande Belo Horizonte.
Em seis meses, o aplicativo contabilizou 40 mil downloads e tem 6.000 motoristas cadastrados, alguns deles trans. Homens e mulheres hétero simpatizantes também podem dirigir.
 
Na Parada Gay de BH deste ano, a empresa venceu a concorrência com rivais tradicionais e virou o aplicativo de mobilidade oficial do evento.
 
De acordo com o diretor-executivo Thiago Vilas Boas, 31, formado em administração, a empresa já vale US$ 3 milhões (R$ 11,2 milhões).
 
A Homo Driver deve chegar a São Paulo e ao Rio em 2020, segundo o plano de negócios.
"Trabalhamos com três pilares caros ao nosso público: empatia, liberdade e segurança. Existe muito preconceito no transporte particular brasileiro", afirma Vilas Boas.
 
Mulheres heterossexuais formam um quarto da clientela de passageiros, segundo o empresário. Entre os 25 funcionários diretos, há gays, lésbicas e pessoas trans.
 
De acordo com um estudo da McKinsey que comparou os resultados financeiros de empresas com quadros mais e menos diversos nos EUA, as primeiras têm performance 35% superior à das demais.
 
Apesar de inovador, o ecossistema das startups permanece masculino -74% delas têm maioria de homens, de acordo com levantamento da consultoria Accenture e da Abstartups (Associação Brasileira de Startups).
 
Foi justamente por maior inclusão que Maira Reis, 36, colocou no ar o Camaleao.co, em 2017. Lésbica e com forte presença no LinkedIn, começou a receber dezenas de currículos de LGBTs por lá.
 
Conseguiu vaga para uma mulher trans numa rede hoteleira, vislumbrou potencial na ideia e decidiu formalizar o negócio, que conecta recrutadores inclusivos a seu banco de talentos coloridos. Eram 1.012 cadastrados no começo deste mês.
 
Até o fim do ano, deve lançar um aplicativo, que está sendo criado apenas por desenvolvedoras mulheres. "É mais provável que o segmento trans tenha um celular que um computador", diz.
Nascida no interior de Minas, Maira pretende ampliar a atuação de sua startup também para cidades pequenas, onde há menor oferta de empregos. "Conheço esse sofrimento. É muito mais fácil ser gay aqui em São Paulo", afirma ela.
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