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Discurso

''BC merece a independência de presente'', afirma Gustavo Loyola

Publicado em: 01/07/2019 22:27

Foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press (Foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
Foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press (Foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
Presidente do Banco Central em duas ocasiões, antes (11/1992-02/1993) e depois do Plano Real (6/1995-8/1997), o economista Gustavo Loyola disse que “o Real foi uma belíssima obra que mostra que o Brasil tem jeito”. Ao encerrar o Seminário 25 Anos do Plano Real, os desafios para o Brasil no auditório do Correio, ele disse que o Banco Central, onde também atuou como diretor de Normas do Mercado Financeiro e chefe do Departamento de Normas do Mercado de Capitais, merece um presente de aniversário de 25 anos, que a moeda completa hoje: a independência. 

Segundo Loyola, a independência do BC é importante para que a instituição possa cumprir seu papel sem interferências governamentais. “O Banco fica protegido, pois com pressões políticas, o BC pode acabar não fazendo o seu trabalho, que é manter a inflação baixa e estável. Por exemplo, pode não agradar a alguns políticos que o Banco aumente as taxas de juros, porque isso gera impopularidade, ou pode ser levado a estimular a economia em um ano eleitoral”, explicou ao Correio. Com a independência, os dirigentes do Banco Central passariam a ter mandatos fixos com estabilidade, a exemplo das agências reguladoras. 

Em sua fala, ele disse que o BC cresceu muito. “Não há nenhuma instituição brasileira que teve maior estabilidade do que BC, o que mostra a importância de uma burocracia estável que trabalha para o bem comum. BC foi uma grande âncora institucional para o período real e do pós-real”, disse. Na sua avaliação, a supervisão bancária, o compromisso com a estabilidade financeira e a continuidade dos dirigentes com o compromisso do aperfeiçoamento da agenda de supervisão e de regulação bancária provam maturidade do Banco Central.     

Processo - Para ele, o Plano Real é um processo de modernização e liberalização e de reformas em curso, mas com medidas liberalizantes que começaram antes do Plano, como as privatizações do governo  do ex-presidente Fernando Collor de Mello e a abertura econômica empreendida antes do Plano Real, mas foram aceleradas durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “O processo foi acelerado graças ao alinhamento de astros que tivemos no período do presidente de Fernando Henrique Cardoso”, disse. “Os próprios planos anteriores fracassados foram experiências valiosas para o Plano Real. Foram lições aprendidas”. 

“Sendo um processo, o Plano Real, não acabou. Continuamos com uma agenda inacabada. Isso não é um juízo negativo, mas a constatação de que é processo e dificilmente poderia se esgotar durante o governo FHC. Houve percalços, mas as realizações foram se acumulando e o Plano deixou um legado importante, principalmente a estabilidade da moeda. Um país não é soberano se não tem sua própria moeda”, resumiu.

Na avaliação do economista, antes do real o Brasil não tinha uma moeda, mas algo parecido. “Nós criamos a moeda e esse legado só funciona porque a sociedade brasileira percebeu a importância de ter uma moeda estável e não é algo apenas no imaginário. Não existe Banco Central independente se não estiver ancorado no desejo da sociedade por uma moeda. A sociedade entrega ao Banco Central a tarefa de cuidar de sua moeda. Quando o Brasil não tinha uma moeda forte, o BC era uma instituição fraca”, comparou. 

Percalços - Segundo Loyola, até 2008, de foram geral, segundo avalia, houve continuidade das políticas de responsabilidade fiscal e macroeconômicas, propiciadas pelo fim da inflação. “No início do governo Lula, até 2008, houve alguns pequenos retrocessos na gestão macroeconômica, mas tudo mudou com a crise financeira. Embora a resposta à crise financeira tenha sido, no geral, correta, o governo gostou de gastar mais e criou-se um ambiente intelectual no mundo de que precisava ter medidas de estímulo, mas, de maneira muito conveniente, se deixou de lado a ideia de que esses estímulos têm que ser usados na hora certa e na dose certa”, avaliou.  

Ele avalia que os estímulos foram injetados pelo governo, mesmo economia crescendo. “Até chegar ao chegar ao desastre da política econômica da ex-presidente Dilma Rousseff. Vamos lembrar o que foi feito no segmento de óleo e gás com a política protecionista e de incentivos excessivos do Estado, além da corrupção que se descobriu depois”, afirmou. Para ele, houve um resgate de medidas liberais durante o governo do ex-presidente Michel Temer, como o teto de gastos e o modo de operação dos bancos públicos, por exemplo.

“Hoje temos no ministério da Economia um liberal para reformas (ministro Paulo Guedes), mas isso não significa que o governo vai ter sucesso na implementação das reformas, mas temos uma grande oportunidade. A reforma da Previdência tem muito apoio no Congresso. O mesmo com a tributária. Estamos em um momento bom, até porque, o sistema atual tributário, como o previdenciário, faliu. Há também espaço para reforma para mudanças no marco regulatório do saneamento, privatizações, concessões”, disse. 

"Boa e velha política"

Embora otimista com relação à aprovação das reformas, ele afirma que elas só poderão ser executadas “com a boa e velha política”. Ele defende que o Plano Real é um exemplo de boa discussão no Congresso. “ O Plano real teria sido impossível se não tivesse apoio do Congresso. O Real foi um trabalho de muita gente. Tivemos a espetacular capacidade intelectual e política do presidente e Fernando Henrique e do presidente Itamar que entendeu a necessidade das medidas e apoiou”.  

O ex-presidente do BC prevê, para o fim do ano, uma taxa de inflação acumulada em torno de 3,5%. Em relação ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), ele acredita que não passará de 1,5%. Na opinião de Loyola, a falta de confiança dos empresários e investidores no país impedem uma taxa de crescimento maior. “Durante muito tempo, tivemos investimentos que não foram bem feitos e que geraram um retorno muito baixo. São investimentos em que se gastou muito dinheiro e não se conseguiu gerar a produção equivalente. Também temos um setor público com muitas dificuldades reduzindo seus gastos, por não conseguir se equilibrar. É preciso retomar a confiança. Só assim podemos ter um crescimento mais próximo do que foi o Plano Real”, concluiu.   
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