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OBSERVATÓRIO ECONÔMICO

25 anos do Plano Real

Publicado em: 08/07/2019 10:42 | Atualizado em: 18/07/2019 11:37

Imagine sair de casa pela manhã e não saber quanto irá pagar pelo almoço, por um refrigerante ou uma água mineral. Chegar ao posto para colocar gasolina e não ter certeza se o preço está alto ou baixo. Tentar comprar uma camisa numa loja e não saber se o preço cobrado é justo (comparado com outras camisas de outras lojas).

Os mais jovens talvez não consigam fazer esse exercício mental. Para os mais velhos, como eu, entretanto, basta lembrar como era a vida no Brasil até meados da década de 1990. Vivíamos na época da hiperinflação. Em dado momento a inflação alcançou 80% em um mês!

Não é difícil imaginar que sem alguma forma de proteção o dinheiro virava pó. Os que tinham acesso a contas bancárias recebiam uma correção diária, o overnight. E quem não tinha acesso a contas bancárias? Bom, a estratégia era realmente gastar tudo logo.

Era difícil se planejar, comparar preços e custos e fazer escolhas. Os efeitos eram ainda piores para os mais pobres, que não tinham acesso ao sistema bancário e viam os salários perderem valor rapidamente, apesar das correções salarias constantes.

Uma figura emblemática desse período era o remarcador de preços nos supermercados. Era, basicamente, um funcionário que passava o dia colando etiquetas de preços nos produtos (porque também não havia código de barras). Como os preços estavam sempre mudando, o trabalho era constante. Ao final do dia era possível encontrar vários preços diferentes nos produtos. Valia o mais alto, claro.

As coisas mudam de cenário em 1994, com a implementação do Plano Real. Após diversas tentativas de planos econômicos malfadados, feitas por grupos distintos em governos subsequentes, surge a ideia de criar um indexador geral, a Unidade de Real Valor (URV), que serviria de ponte para uma nova moeda. Todos os produtos passaram a ser cotados em URV, que mudava com o valor do dólar, e em moeda local (cruzeiro real).

Após pouco tempo da implementação da URV as pessoas começaram a utilizá-la para preços e contratos. Em meados de 1994 o governo converte a URV em Real, a nova moeda, que surgia atrelada ao dólar (um câmbio fixo que logo aceitou pequenas variações, ou bandas). A relação relativamente estável com o dólar garantia estabilidade de preços.

O plano era mais do que isso e previa um ajuste fiscal (redução dos gastos públicos). O governo federal não conteve os gastos como se esperava. Mesmo assim, ao final o plano foi bem-sucedido, conseguindo atravessar duas crises cambiais ainda na década de 1990 (uma dos trigues asiáticos e outra na Rússia).

Entre outros ganhos, a estabilidade de preços devolveu às empresas e às famílias a capacidade de planejamento e organização que não existiam no mundo da hiperinflação. Além disso, uma das maiores conquistas foi a melhoria da qualidade de vida dos mais pobres e uma diminuição da desigualdade de renda, fazendo do Plano uma importante política social.

Mais do que celebrar a data é importante a sociedade reforçar o compromisso em nunca retornar ao período pré-real. Parece algo óbvio, mas nunca é demais lembrar. Especialmente quando há sempre os que acreditam que o Estado pode tudo, inclusive imprimir dinheiro e sair impune. A nossa história e a teoria econômica nos mostram que não!
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