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OBSERVATÓRIO ECONÔMICO

Os danos da poluição

Publicado em: 11/03/2019 08:38

Basta uma voltinha nas principais vias de nossas cidades para perceber como é desagradável a fumaça produzida por ônibus, caminhões, motos e carros. Para aqueles que moram nas proximidades de grandes vias, a convivência com a “fuligem preta” é uma realidade desagradável. Some-se a isso a quase que completa ausência de árvores em nossos centros urbanos, o que aumenta os prejuízos da poluição, sem falar no calor insuportável nos dias mais quentes. O fato é que a poluição atmosférica tem sido uma fonte de problemas os mais variados. Essa é mais uma área onde tecnologia e política pública poderiam ajudar. 

Os prejuízos causados pela poluição são conhecidos. Em particular, a literatura vem mostrando a associação entre maiores níveis de exposição à poluição a aumentos na mortalidade de crianças e idosos, a problemas respiratórios, a maior absenteísmo na escola e no trabalho, dentre outros. Há evidências ainda de que crianças que foram expostas a maiores níveis de poluição ainda na fase intrauterina acabaram apresentando mais tarde rendimento escolar mais baixo e maiores problemas de comportamento na escola quando comparadas a crianças menos expostas à poluição. 

Um estudo recente mostra impactos negativos até mesmo sobre crianças mais velhas. O estudo acompanhou o desempenho escolar de crianças que estudavam em uma mesma escola, mas que foram transferidas para dois grupos de escolas: mais e menos expostas à poluição atmosférica. Os resultados mostraram que as crianças que foram transferidas para escolas mais expostas acabaram piorando o desempenho escolar seja em termos de notas ou de frequência escolar. O estudo utiliza uma técnica econométrica que permite controlar por características individuais, da escola e socioeconômicas, ajudando a filtrar os verdadeiros efeitos da poluição sobre o rendimento das crianças. O resultado é claro: a poluição faz mal, não importa a idade, mas atinge de forma desigual as crianças ao afetar a acumulação de capital humano, repercutindo na vida futura e na própria economia. 

Dentre os principais causadores da poluição atmosférica estão os veículos movidos a combustíveis fósseis.  Um estudo recente mostrou, por exemplo, que na região metropolitana de São Paulo, ônibus e caminhões são responsáveis por mais de 50% da poluição atmosférica, apesar de representarem apenas 5% da frota. Em resposta a isto, a prefeitura de São Paulo instituiu uma lei, em 2018, que estabeleceu prazos para a redução de poluentes por parte do transporte público da cidade. Diversos países vêm implementando legislação ambiental mais rigorosa, muitos com a eliminação da comercialização de veículos que utilizam apenas combustíveis fósseis. As metas são ambiciosas e precisam ser avaliadas, mas a direção é correta.

No caso da região metropolitana do Recife, desconheço números da poluição atmosférica tampouco quem são os principais causadores. Minha suspeita é que ônibus e caminhões estejam entre os principais. Seria interessante ter números mais confiáveis e publicados com regularidade, ajudaria a dimensionar o problema. Além é claro de aprender como outras cidades vêm tratando o tema. Uma alternativa passa pelo uso de veículos movidos a energia renovável no transporte público, mas poderia passar também pelo uso de filtros de emissões nos veículos existentes. Não precisamos “inventar a roda”, já tivemos nossa experiência com ônibus elétrico no passado. A tecnologia já existe, leis são fáceis de copiar e adaptar, precisamos saber se nossos governantes estarão dispostos a avançar nesse tema. 

**  Professor de Economia da UFPE
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