REDUÇÃO

Indefinição política leva à redução na projeção do PIB de 2019

Publicado em: 07/03/2019 08:12

Foto: Arquivo/Agência Brasil
O desempenho fraco da atividade econômica em 2018 e o provável atraso na aprovação da reforma da Previdência reduziu o otimismo entre economistas e investidores. As últimas projeções de mercado revelaram que a expectativa é de menor crescimento da economia brasileira em 2019. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), por exemplo, diminuiu de 2,1% para 1,9% a estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB) do país, entre novembro de 2018 até hoje. Um pouco mais otimistas, analistas ouvidos pelo Banco Central (BC) acreditam que terminará o ano em 2,3%.

Este resultado é pior, porém, do que a projeção da última semana, quando o Relatório Focus da autoridade monetária apresentava crescimento de 2,48% no ano. Para Alessandra Ribeiro, sócia e economista da Tendências Consultoria, o começo de governo tumultuado politicamente também ampliou a preocupação dos agentes de mercado. A especialista destacou que a falta de organização da base governista cria barreiras para a celeridade na aprovação de temas chaves no Congresso Nacional, como a reforma da Previdência.

“Um ponto que tem preocupado o mercado é o cenário político, porque o início do governo foi bastante tumultuado, com evidências de que ainda não está organizado. Estão longe de construir o apoio político necessário”, afirmou a economista. Para a OCDE, a reforma da Previdência é fundamental para a recuperação do crescimento do país. A entidade internacional entende que haja maior confiança de empresas e menos incertezas políticas, além de inflação baixa e mercado de trabalho em recuperação.

Mesmo assim, esses fatores não são suficientes. Parte do crescimento esperado está associado à aprovação da reforma da Previdência. O governo federal espera que ocorra no primeiro semestre do ano, mas essa não é a opinião do mercado. Analistas acreditam que só ocorrerá no fim do terceiro trimestre, em meados de setembro.

O governo optou por encaminhar uma nova Proposta de Emenda à Constituição (PEC), o que desanimou parte do mercado. “Vários agentes esperavam que utilizasse o texto encaminhado pelo ex-presidente Michel Temer em 2016. Foi uma opção que demandará mais tempo”, destacou Alessandra.

Sob controle
Esse cenário de PIB mais fraco ocorre mesmo com a inflação e os juros baixos. Segundo o Relatório Focus, os economistas esperam que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficará em 3,85% no fim de 2019, mantendo a taxa em relação a projeção anterior.  Ou seja, será o terceiro ano consecutivo que a variação de preços ficará abaixo do que o centro da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). De acordo com o CMN, o objetivo central de inflação é 4,25%, podendo variar entre 2,75% e 5,75%.

Por sua vez, a taxa Selic está no menor patamar da história, em 6,5% ao ano. Na prática, quanto menor a taxa, maiores serão os estímulos na economia. Segundo a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, isso não tem sido suficiente para melhorar o desempenho do PIB.

A especialista ressaltou que o resultado de 1,1% do PIB de 2018, divulgado na última semana, revelou que a economia não está em nível robusto. “Serviu como um alerta para mostrar o quanto a economia brasileira está frágil. Não é só a reforma da Previdência, os juros e a inflação baixos que vão resolver o problema. Precisamos de uma agenda clara de redução do custo Brasil”, opinou.

Falta de agenda
Zeina afirmou que o setor produtivo não consegue se recuperar apenas com a reforma da Previdência. Por isso, está cética quanto a melhora do desempenho econômico em 2019. “O governo vai ter de estabelecer prioridades. Passada a reforma, o Brasil deveria discutir uma reforma tributária, algo que seja realmente mais musculoso. Nós sabemos que não resolve problema de produtividade da noite para o dia. A puxada de crescimento”, destacou.

A economista-chefe entende que o Brasil tem uma série de barreiras para investimentos e é um equívoco defender que haverá um grande salto após a aprovação da reforma Previdência, como esperam alguns analistas. “Há confiança, mas não será uma virada de chave repentina que atrairá investimentos. A questão é que, do ponto de vista micro, há empresas que não conseguem estar no Brasil, diante do ambiente regulatório e tributário confuso e indefinido”, avalia.

As analistas acreditam que o governo precisa estabelecer uma agenda mais clara para a execução de políticas econômicas. “Hoje eu só vejo intenções, mas nada concreto, um projeto a ser apresentado. É verdade que está todo mundo focado na reforma da Previdência, mas também é preciso começar a definir essa agenda e prioridades”, disse Zeina.

Segundo Alessandra, a Tendências Consultoria entende que o cenário é de cautela. “Não é aprovou e vem uma montanha de dinheiro. É necessário, sim, que aprove e num primeiro momento é positivo, especialmente em ativos financeiros, como bolsa e renda fixa. Agora, essa enxurrada de investimentos direto em capacidade produtiva e infraestrutura, que é o que vai realmente melhorar o PIB, esse vai demorar mais tempo para vir”, analisa a economista.

Cenário mundial influencia 
Além dos entraves no país, a economia do Brasil também será prejudicada com o Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os países devem crescer menos do que o previsto, passando a projeção de 3,5% para 3,3% entre novembro de 2018 e agora.

A entidade entende que a disputa comercial entre os Estados Unidos e a China, que são as duas maiores economias do mundo, vão atrapalhar o desempenho do crescimento global. As estimativas para o PIB destas nações foram reduzidas: de 2,7% para 2,6%, no caso dos norte-americanos, e de 6,3% para 6,2%, para os asiáticos.

Além disso, a OCDE está mais pessimista em relação à zona do euro, cuja atividade econômica deve expandir apenas 1% em 2019. A estimativa anterior era de 1,8% para o bloco econômico. A entidade também avalia que o Brexit sem acordo aumentaria de forma substancial o custo para as nações do continente. A previsão para o PIB do Reino Unido tombou de 1,4% para 0,8%.

De acordo com o relatório do Rico Investimentos, lá fora há cada vez mais consenso de que o cenário de desaceleração global veio para ficar. “Agora, os investidores monitoram um novo risco: a possibilidade do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) retomar a alta nos juros do país partir do segundo semestre. O aperto monetário no país norte-americano prejudica investimentos em países emergentes, como o Brasil. 
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL