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Economia
Recuperação

Após queda, Karne e Keijo vê horizonte de crescimento

Grupo Karne e Keijo completa 40 anos com o desafio de seguir com um plano de recuperação econômica e voltar a um ritmo de sustentabilidade operacional

Publicado: 27/10/2018 às 13:00

Inácio Miranda Jr diz que medidas previstas no plano de recuperação já foram incorporadas no dia a dia. Foto: Marina Curcio/DP/Foto: Marina Curcio/DP

Inácio Miranda Jr diz que medidas previstas no plano de recuperação já foram incorporadas no dia a dia. Foto: Marina Curcio/DP/Foto: Marina Curcio/DP

Inácio Miranda Jr diz que medidas previstas no plano de recuperação já foram incorporadas no dia a dia. Foto: Marina Curcio/DPRedução de custos, economia, arrocho, orçamento, corte... São palavras que se tornaram recorrentes no Grupo Karne e Keijo. Desde 2016, a empresa entrou em processo de recuperação judicial e desenvolveu um novo jeito de trabalhar. Nas palavras do presidente do grupo, Inácio Miranda Junior, desde então, o lema é reduzir para crescer. “Ninguém pode aumentar orçamento, só cortar”, diz. Tem dado certo. No ano passado, a empresa registrou um crescimento de 28% no faturamento, segundo o ranking ABAD/Nielsen 2018 referente ao ano anterior. A reação veio depois da marca negativa com queda de 7% na receita registrado no ano anterior. Para 2018, ano em que o grupo completa 40 anos, as projeções são melhores. No primeiro semestre do ano, as vendas tiveram um incremento de 18%, segundo os dados da entidade. Com isso, a expectativa é fechar o ano com um crescimento de 20%.

O eixo central do grupo está no ramo de distribuição, setor responsável por 65% das vendas, cujo abastecimento é no ramo de food service e varejo. O segundo braço do negócio é o Deskontão, autosserviço criado em 2006 e hoje com três lojas instaladas na Região Metropolitana do Recife (Ceasa, Casa Amarela e Imbiribeira). É no negócio onde estão 35% das vendas do grupo. O terceiro e último braço do negócio é a Tru Logística, centro de operações que registra movimentação mensal em torno de 16 mil toneladas de produtos. Apesar de dividido por setores, o negócio se completa e, por isso, o impacto e as medidas de redução de custos foram adotadas como um todo.

Os problemas financeiros iniciaram em 2014, mesmo período em que a tão falada crise econômica começou a ser sentida por tantos outros grupos nacionais. No Grupo Karne e Keijo o estopim foi o prejuízo na unidade do Deskontão, rede atacadista que faz parte do grupo, em João Pessoa. “Achávamos que estávamos prontos para abrir em outros estados e investimos muito na unidade. Mas, foi uma leitura errada. Não era o momento. Fechamos o negócio e tivemos um prejuízo enorme. Na época, os juros já estavam altíssimos pressionados pelo momento econômico. Foi daí que notamos que iríamos precisar de um plano estruturado para salvar a operação”, diz Inácio Junior após lembrar que, em 2015, quando começou as negociações com as instituições financeiras, estava pagando pelo menos R$ 24 milhões em juros e financiamentos ao ano.

“Reunimos todos os funcionários, anunciamos a recuperação judicial e iniciamos as medidas”, diz. O número de trabalhadores passou de 1200 para 752, as linhas de telefone fixo foram cortadas e a recepção da empresa deixou de existir. “Investimos mais em segurança, garantindo a operação”, pontua. O plano segue assim pelo menos nos próximos três anos, quando o peso da dívida deverá ser menor. De acordo com o presidente, hoje, as medidas já foram incorporadas ao dia a dia e alnovos projetos já saem do papel.
Ainda este ano, será inaugurado o chamado Lojão Deskontão, unidade mais compacta do Supermercado Deskontão, que funcionará no mesmo espaço da indústria, localizada na BR-101, no Barro. “Tínhamos essa área ociosa e investimos nesse projeto”, diz ao mostrar o espaço em obras. Outro dado que o executivo comemora: o número de funcionários voltou a crescer. Hoje, são  900 pessoas atuando no local.

Empresa hoje conta com 300 fornecedores e recebe 1.200 pedidos por dia. Foto: Marina Curcio/DPDo quintal de casa para uma produção industrial 

“Se você comprar o primeiro e não gostar, nós devolvemos o dinheiro”. Foi essa a estratégia de venda ensinada pelo patriarca da família, Inácio Miranda, para que os filhos conseguissem vender o queijo feito em casa pela mãe, Giselda Barreto. A produção era artesanal, mas bastante caprichada. “Fazer um produto diferenciado para vender um pouco melhor”. Esse era o lema de Dona Giselda. Todos os dias, os filhos saíam da Ilha de Itamaracá onde moravam para vender o produto em um tabuleiro no Centro do Recife.
“O difícil era entrar nos prédios. Aí pegamos a lista de telefone, que tinha o nome das pessoas, e íamos buscando por elas para tentar a aproximação. Também não tinha como experimentar o produto. Por isso, nosso pai ensinou a estratégia de que, se não gostasse, devolveríamos o dinheiro”, lembra Inácio Junior,  o mais velho de sete irmãos (Inácio Jr, Sérgio, Henrique, Gérson, Otávio, Gisele e Bento). Foi assim, de porta em porta, que conquistaram a primeira clientela.

O negócio de carne veio em um segundo momento, após a morte de um dos animais da propriedade. “Congelamos a carne e aí fomos aprendendo algumas técnicas de refrigeração e de melhor armazenamento do material. Daí, abrimos uma empresa em Igarassu, só que foi justamente na época da superinflação. Foram tempos difíceis mas que nos levaram a um novo mercado: o de food service”, relata Inácio Junior.

A primeira demanda veio de um refeitório industrial em Paulista. Uma encomenda de 140 quilos de carne. “E aí despertamos para esse mercado. Não estava em uma época fácil, economicamente falando, tivemos que entender como funcionava a emissão de notas fiscais, de duplicatas e de como ter uma operação maior. Mas conseguimos e, em um segundo momento, passamos a trabalhar com restaurantes”, conta. Talvez essa tenha sido a principal “virada da chave” do negócio.

A partir de 1996, com a empresa formalizada e um pouco mais estruturada, a família começou a investir na gestão e na estruturação dos negócios. Foram formados os comitês de gestão e direção e o grupo de líderes. Na indústria, foi instalado o processo de palitização da distribuição, dando agilidade aos processos. Com isso, a separação dos pedidos, que levava em média oito horas para ser realizada, passou a ser concluída em uma hora. Hoje, ao todo são 16 mil posições paletes e 22 docas para carregamento simultâneo.

Atualmente, a empresa possui 7.500 clientes e 69 caminhões próprios (além de cerca de 40 terceirizados). Por dia são realizados mais de 1.200 pedidos. Entre os mais de 300 fornecedores (nacionais e internacionais) estão JBS, Gonçalves e Tortola, BRFm Seara, Vigor, West-Norway, Marfrig, Coasul, Polenghi, Laticínios Fotaleza, McCain e Grano. Por mês, são realizadas em torno de 30 mil entregas. O mercado principal está nos estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.

Supermercado
Em 2006, o grupo decidiu entrar também para o varejo e, por isso, inaugurou o Deskontão. A proposta era oferecer produtos de qualidade e com preço mais em conta. A primeira unidade foi instalada na Ceasa, ponto já conhecido pela família. O novo braço do grupo registrou dois anos de prejuízo, um de estabilidade e, a partir daí começou a dar lucros. “Tínhamos em mente que todo negócio dá prejuízo. O que faz a diferença é conhecer os detalhes”, ressalta. Hoje, são três unidade em operação na Região Metropolitana do Recife. Este ano, a expectativa é de que o Deskontão tenha um crescimento de pelo menos 11% no faturamento.
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